Sarah Pavan relembra rivalidade no Brasil: "Adorava enfrentar Osasco"
Sidrônio Henrique
29/03/2017 06h00
A atacante canadense foi destaque na equipe carioca: "Eu aprendi tanto jogando no Brasil" (foto: CBV)
Bicampeã da Superliga pela Unilever (hoje Rexona-Sesc), a oposta canadense Sarah Pavan deixou saudade entre os fãs do time carioca. Ao lado da ponteira Natália Zilio, ela liderou o time de Bernardinho numa virada histórica na decisão da Superliga 2012/2013 sobre o arquirrival Osasco (na época Sollys/Nestlé, atual Vôlei Nestlé), depois de estar perdendo por 0-2, em pleno ginásio do Ibirapuera, São Paulo. Sarah terminou aquela final com 22 pontos, mesma quantidade feita por Natália, num jogo que ficou marcado na memória de ambas as torcidas. "Adorava enfrentar Osasco", contou ao Saída de Rede a veterana atacante de 30 anos.
Bernardinho foi uma referência em sua carreira. "Eu tive a sorte de ter tido a chance de aprender por duas temporadas sob o comando de um dos maiores técnicos de todos os tempos", disse a oposta canhota, que antes de chegar aqui havia atuado três temporadas na Itália e uma na Coreia do Sul. "Sempre penso em voltar a jogar no Brasil".
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Ainda ganharia mais um título na Superliga 2013/2014, numa final diante do Sesi. Depois, com foco no vôlei de praia, fechou contratos indoor na Ásia, onde os campeonatos são mais curtos.
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Voltou à Coreia do Sul, jogando pelo Caltex Seoul no período 2014/2015 – ficou em quinto lugar no nacional. Nas duas últimas temporadas defendeu o Shanghai Lansheng, da rica e breve liga chinesa – terminou em terceiro lugar no ano passado e em quinto neste.
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Na praia, o que deveria ser o ápice de uma parceria de quatro anos com Heather Bansley terminou em decepção na arena montada em Copacabana para a Rio 2016, quando foram eliminadas nas quartas de final. "Não há motivo para jogar se não for para vencer. Eu fiquei extremamente chateada. Acho que nós éramos boas o suficiente para conquistar uma medalha no Rio", lamentou a atleta, uma das principais bloqueadoras do circuito mundial, com seu 1,96m.
Veja a entrevista exclusiva que Sarah Pavan concedeu ao SdR:
Saída de Rede – Como tem sido jogar na liga chinesa? Quais as principais diferenças, além da curta duração, em relação à Superliga ou outros campeonatos nos quais você jogou?
Sarah Pavan – Encerrei minha segunda temporada pelo Shanghai e realmente tenho curtido muito jogar lá. A China é uma potência no vôlei feminino, então há várias equipes muito fortes na liga. Tem sido um desafio e tanto, além de ser divertido viver num país e numa cultura únicos. O estilo de vida chinês e o formato da liga deles são muito diferentes de qualquer outro lugar em que eu tenha vivido ou qualquer campeonato que eu tenha disputado. O nível é muito bom. Geralmente, os times jogam com muita velocidade no ataque, apoiados numa defesa sólida.
Saída de Rede – Depois da eliminação da sua dupla de vôlei de praia na Rio 2016, você escreveu sobre o quanto estava abatida. O que deu errado na Olimpíada?
Sarah Pavan – Para mim, não há motivo para jogar se não for para vencer. Eu fiquei extremamente chateada. Dediquei quatro anos da minha vida me preparando para ganhar uma medalha na Rio 2016 e isso não aconteceu. Ainda penso nisso o tempo todo. Nós (ela e sua antiga parceira, Heather Bansley) enfrentamos a dupla (Laura) Ludwig/(Kira) Walkenhorst (alemãs que as eliminaram nas quartas de final e seguiram rumo ao ouro) tantas vezes durante quatro anos e só havíamos perdido uma vez para elas antes desse confronto na Olimpíada. Nós tínhamos a expectativa de jogar bem, conhecíamos as adversárias, mas infelizmente naquele dia jogamos abaixo do nosso nível habitual (perderam por um duplo 14-21). Eu realmente acho que nós éramos boas o suficiente para conquistar uma medalha no Rio.
Saída de Rede – Você decidiu mudar de parceira depois da Rio 2016 e agora vai jogar com Melissa Humana-Paredes. Por quê? Quais os seus planos no vôlei de praia?
Sarah Pavan – Decidi mudar de parceira depois do Rio porque senti que Heather e eu havíamos esgotado nosso potencial juntas e eu já não nos via fazendo progresso, se desenvolvendo. Eu jogo para vencer e nós nunca havíamos vencido um torneio juntas, apesar de estarmos no top 5 do ranking mundial. Eu senti que recomeçar, ter ao lado uma pessoa nova, era a melhor opção para o meu futuro na praia. Eu planejo jogar na areia por pelo menos mais quatro anos e, se tudo der certo, representar o Canadá em Tóquio 2020.
Saída de Rede – O vôlei de praia continua sendo sua prioridade?
Sarah Pavan – Não diria que o vôlei de praia é a minha prioridade. Veja, eu tenho fechado contratos nas principais ligas no voleibol indoor e encaro meu trabalho na quadra com muita seriedade. Eu me empenho nas duas modalidades e vou continuar sendo assim.
Saída de Rede – Você chegou a disputar o Mundial 2010 pela seleção canadense. Quais suas melhores lembranças do indoor jogando na seleção?
Sarah Pavan – A melhor lembrança que eu tenho da seleção canadense foi ter podido jogar com a minha irmã (Rebecca Pavan, central, que este ano migrou para o vôlei de praia). Ela é quatro anos mais nova do que eu e nós nunca havíamos jogado juntas. Então, em 2012, nós estávamos juntas na seleção. Foi muito legal poder dividir aquele momento com ela.
Saída de Rede – Aqui no Brasil você deixou muitos fãs, especialmente, claro, na torcida do Rexona, seu ex-clube (na época Unilever). Já teve alguma proposta para voltar a jogar na Superliga?
Sarah Pavan – Eu sempre penso em voltar a jogar no Brasil, gostei demais das duas temporadas que passei aí, tenho imenso respeito e admiração pela Superliga e pelas jogadoras brasileiras. Os fãs eram simplesmente maravilhosos, eu me sentia em casa. Infelizmente, não recebi ofertas do Brasil desde que saí do Rio de Janeiro. Como eu estava focada na Olimpíada, eu queria contratos mais curtos para poder treinar um pouco mais na praia, então ir para a Ásia foi a melhor opção para mim naquele momento.
Saída de Rede – O que você aprendeu nas duas temporadas que jogou no Brasil? Como foi ser treinada pelo Bernardinho?
Sarah Pavan – Eu aprendi tanto jogando no Brasil. Eu adorava a atmosfera que o Bernardinho criava durante os treinamentos, me vi forçada a crescer como jogadora, tanto física quanto mentalmente, para poder competir entre as atletas de alto nível que a Superliga tem. Outro ponto importante é que, com o Bernardinho, eu aprendi muito no processo de preparação para uma partida. Ele faz uma análise tão minuciosa, tão inteligente, era fantástico ter a possibilidade de aprender detalhes muito específicos de um planejamento sendo atleta dele. Eu tive a sorte de ter tido a chance de aprender treinando por duas temporadas sob o comando de um dos maiores técnicos de todos os tempos.
Saída de Rede – E a rivalidade com o time de Osasco, como você encarava os confrontos com o arquirrival da sua equipe brasileira?
Sarah Pavan – Eu adorava enfrentar Osasco, gosto muito de uma grande rivalidade. Aquela atmosfera envolvendo os confrontos entre Rio e Osasco mobilizava as jogadoras, os técnicos… Os fãs ficavam super animados. É sempre muito bom ver duas equipes fortes se enfrentando, as partidas entre esses dois times quase sempre iam para o tie break. Osasco lutava muito, era fantástico jogar contra elas.
Sobre a autora
Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.
Sobre o blog
O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.