Genial como jogador, Renan deve ter começo difícil como técnico da seleção
Sidrônio Henrique
11/01/2017 17h51
Renan e Bernardinho juntos durante treino na década passada (fotos: arquivo pessoal/Renan Dal Zotto)
Oito anos longe da função de técnico, o gaúcho Renan Dal Zotto terá a dura missão de substituir ninguém menos que Bernardinho no comando da seleção brasileira masculina de vôlei. O que esperar do novo treinador depois de 16 anos vitoriosos de seu antecessor? Antes de responder essa pergunta, o Saída de Rede ressalta dois aspectos fundamentais: a mudança no comando após quatro ciclos olímpicos implica numa ruptura que precisa ser levada em consideração e ainda a renovação da equipe. A tarefa do ex-craque Renan não será fácil e deverá também ser considerada a extensão do papel de Bernardo Rezende como coordenador técnico da seleção masculina.
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Depois do domínio brasileiro na década passada, o cenário internacional no vôlei masculino vem apresentando um equilíbrio diante do qual Bernardinho, um estudioso da modalidade, conseguia se destacar com soluções táticas que, muitas vezes, suplantavam as limitações da equipe como vimos na Rio 2016.
Currículo
Renan Dal Zotto tem em seu currículo os títulos de campeão da Superliga masculina 2005/2006 com a antiga equipe da Cimed, de Florianópolis, e da Supercoppa italiana 2007 com o Sisley Treviso. Abriu espaço para nomes que teriam destaque no cenário internacional, como o levantador Bruno e o central Sidão, quando estava à frente do time catarinense.
O começo na seleção certamente não será fácil. Times de primeira linha como Estados Unidos, Itália e Sérvia já vêm realizando uma renovação há alguns anos. Mesmo nossa vizinha Argentina, mais modesta, avançou nesse aspecto. Se Renan terá o toque de gênio que o caracterizou dentro da quadra para fazer a diferença em situações de equilíbrio, só o tempo dirá. Entre as quatro linhas, esse ex-ponteiro que mais tarde se revelou universal (chegou a jogar até como levantador na Itália) foi um dos maiores de todos os tempos.
Recebendo o prêmio de "Jogador Mais Espetacular" da Copa do Mundo 1985 (o MVP foi para o americano Karch Kiraly)
Reforço
Embora tenha experiência como treinador, estava há bastante tempo longe da função. Um ano pós-olímpico, em que a competição mais importante é a desgastada Liga Mundial, que nos outros anos do ciclo assume papel secundário diante do Mundial, da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos, é um bom período para o começo. Eventuais tropeços no caminho até Tóquio 2020 deverão ser relevados. A partir de 2018, o novo técnico terá um reforço de peso: simplesmente o ponteiro cubano naturalizado brasileiro Yoandry Leal, um dos melhores do mundo na posição, que seria titular em qualquer seleção.
Resta saber se Renan será capaz de agregar talentos e fazer da equipe uma vencedora, como vinha ocorrendo. Chegou o dia da saída de Bernardinho, o fim de uma era, a mais vitoriosa da história da modalidade. O novo treinador, como disse o diretor de seleções da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), Radamés Lattari, "se for muito vitorioso, vai conseguir empatar (com Bernardinho), superar é quase impossível". A expectativa do SdR é que Renan Dal Zotto saia em desvantagem nas primeiras temporadas, mas terá material humano e apoio (inclusive do próprio Bernardo, amigo dele desde o final dos anos 1970) para superar eventuais dificuldades.
Sobre a autora
Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.
Sobre o blog
O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.