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Mundial 2006: dez anos de uma revanche frustrada

João Batista Junior

16/11/2016 06h00

Em 2006, a seleção brasileira amargou o segundo de três vice-campeonatos mundiais (fotos: FIVB)

Bicampeã olímpica, a seleção brasileira feminina de vôlei chegou perto três vezes de conquistar o Campeonato Mundial. Foi vice-campeã em 1994, no Ginásio do Ibirapuera, contra Cuba, e duas vezes segunda colocada no Japão, em 2006 e 2010, ambas contra a Rússia.

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A máquina cubana de jogar foi campeã em 1994, com Mireya Luis, Regla Torres, Carvajal & cia., sem perder um único set para ninguém. E em 2010, o time de Gamova e Sokolova, embora tenha precisado reverter um placar de 2 sets a 1 na decisão, atropelou na quarta parcial e viu a seleção verde-amarela desabar depois de um erro da arbitragem num ataque de Sheilla.

Ficou o Mundial de 2006 como a chance mais clara de título para o Brasil, justamente a primeira grande oportunidade para exorcizar o fantasma russo do 24 a 19, que assolava a seleção brasileira desde a semifinal de Atenas 2004.

No entanto, aquela final disputada na quinta-feira,16 de novembro de 2006, em Osaka, não só frustrou a expectativa brasileira de revanche contra as russas como também não fez justiça à excelente campanha do Brasil no Japão.

Vamos relembrar a saga das brasileiras do Campeonato Mundial feminino de Vôlei do Japão 2006:

Jogadoras brasileiras, da esquerda para a direita: (de pé) Mari, Sheilla, Fabiana, Paula e Carol Gattaz, e (sentadas) Walewska, Renatinha, Carol Albuquerque, Fabi, Fofão, Sassá e Jaqueline

O TIME
O calendário conta dois anos e três meses entre a decepção olímpica e a abertura do Campeonato Mundial do Japão 2006. Depois daquela derrota para a Rússia e do quarto lugar nas Olimpíadas de 2004, a seleção passou por um processo de renovação. Aliás, um vitorioso processo de renovação.

Entre 2005 e 2006, o Brasil venceu as duas edições do Grand Prix bem como as do Torneio de Montreux, e também conquistou, em 2005, o obrigatório Campeonato Sul-Americano e a Copa dos Campeões. A seleção comandada pelo técnico José Roberto Guimarães levantou todos os troféus que disputou nesse período e chegou ao mundial com cinco jogadoras remanescentes de Atenas – as centrais Fabiana e Walewska, a levantadora Fofão, a ponteira Sassá e a atacante Mari (oposta nos Jogos, ponteira no Mundial).

Das outras sete jogadoras, a oposta Sheilla, a ponteira e Paula Pequeno e a líbero Fabi já haviam disputado um mundial: em 2002, quando as principais jogadoras do país queriam a saída do técnico Marco Aurélio Motta e recusaram sua convocação, um time bastante jovem disputou o Mundial da Alemanha e terminou no sétimo lugar.

Já para a ponteira Jaqueline, a levantadora Carol Albuquerque, a oposta Renatinha e central Carol Gattaz, o mundial de 2006 foi a primeira experiência numa competição dessa magnitude.

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A seleção brasileira disputou a primeira fase do campeonato no grupo C. Nos dois primeiros compromissos, vitórias fáceis por 3 a 0 sobre Porto Rico e Cazaquistão. A terceira partida, porém, levou o técnico José Roberto Guimarães a mudar a equipe.

Além da líbero Fabí, o Brasil tinha Sheilla como titular da saída de rede, Carol Albuquerque no levantamento, Walewska e Carol Gattaz no meio, e Jaqueline e Mari pela entrada de rede – Paula, que dera à luz cinco meses antes, e Sassá eram as ponteiras reservas.

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O panorama mudou quando a antes dócil Holanda ofereceu resistência e chegou a virar contra o Brasil para 2 a 1. Pela marcha dos acontecimentos, as brasileiras, justamente num mundial, se aproximavam da primeira derrota na história para as holandesas. Foi quando Sassá e Fofão entraram no time, respectivamente, no lugar de Mari e Carol Albuquerque, e o time verde-amarelo conquistou a vitória no tie break.

Essa configuração só não foi definitiva, porque Fabiana ocuparia o lugar de Carol Gattaz na equipe titular somente a partir da segunda fase da competição, e também porque Fofão e Carol Albuquerque ainda se revezaram por mais alguns jogos, até que a veterana da armação de jogadas virasse titular definitivamente.

O Brasil encerrou a primeira fase na liderança do grupo, depois de vencer EUA e Camarões por 3 a 0.

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JOGÃO CONTRA A CHINA
A fase posterior promoveu o cruzamento das quatro melhores equipes dos grupos B e C, acumulando da fase inicial os resultados das partidas entre os times classificados. Noutras palavras o Brasil largou com 3 vitórias por ter vencido EUA, Porto Rico e Holanda. Esta nova chave classificaria duas seleções às semifinais, o que fazia dela, com a presença também de Rússia e China, um grupo da morte para ninguém botar defeito!

Depois de uma vitória tranquila sobre o Azerbaijão por 3 sets a 0, o Brasil enfrentou a então campeã olímpica China. O time oriental, é verdade, fazia uma campanha fraca e estava com a corda no pescoço, mas tinha duas jogadoras extraordinárias no elenco: a levantadora Kun Feng, MVP dos Jogos de Atenas, e a jovem oposta Yimei Wang, então com 18 anos de idade, – que ficou conhecida no Brasil pelo pitoresco apelido de "Bebezão".

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Com uma potência invejável nas cortadas, Wang infernizou a vida das brasileiras e, graças a seus 26 pontos, levou a seleção chinesa a abrir 2 a 0 no placar. A virada brasileira, que contou com 21 acertos de Jaqueline, veio num quinto set decidido em 19-17.

Com a vitória, o Brasil se classificou por antecipação às semifinais e empurrou China para a melancólica disputa do quinto lugar. Foi uma vingança das brasileiras pela eliminação para as chinesas, também num tie break, no Mundial de 2002.

PRÉVIA INAMISTOSA
Com a vitória sobre a Alemanha por 3 a 0 no penúltimo jogo daquele estágio, o Brasil enfrentou a Rússia na última rodada da segunda fase numa partida que valeria, apenas, para saber quem enfrentaria Sérvia e Montenegro e quem pegaria a Itália nas semifinais.

Apesar da ascensão das sérvias e do título de 2002 que as italianas defendiam, estava claro que o chaveamento não importaria muito e que, no fundo, aquele Brasil vs. Rússia era uma prévia da final ou, noutra hipótese, um amistoso de luxo para as duas melhores seleções do campeonato.

Além de Sokolova, que foi poupada da partida, a ideia de "amistoso" também não entrou em quadra naquele dia.

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Diante de uma discreta Gamova, que assinalou 11 pontos, o Brasil venceu de virada por 3 sets a 1, com 20 anotações de Sheilla. O momento mais marcante do jogo, no entanto, foi uma áspera discussão entre Fabiana e as russas depois de um bloqueio sofrido pela brasileira no quarto set. Mesmo num jogo que não valia muito, estava demonstrado que a rivalidade da década anterior, entre brasileiras e cubanas, dera lugar a outro duelo de gigantes.

As semifinais correram dentro das previsões: as russas atropelaram as italianas em sets diretos, as brasileiras bateram as sérvio-montenegrinas por 3 sets a 1, e a final, afinal, reeditaria a maldita semifinal de Atenas.

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Era a segunda decisão entre Brasil e Rússia naquele ano. Dois meses antes, em Reggio Calabria, na Itália, as brasileiras conquistaram o Grand Prix com uma vitória por 3 a 1 sobre as russas. Fora a segunda vitória verde-amarela sobre as russas naquele torneio.

Assim, somadas as vitórias no GP e o 3 a 1 na segunda fase do Mundial, o Brasil chegava à final do campeonato com três vitórias consecutivas sobre a Rússia em jogos oficiais. Tudo era propício para que o time se redimisse da perda da vaga para a final olímpica com uma faixa de campeã mundial. Mas era a Rússia de Gamova do outro lado.

TÃO PERTO…
Brasil e Rússia entraram em quadra naquele 16 de novembro de 2006 sem desfalques. O técnico José Roberto Guimarães escalou Fofão, Sheilla, Fabiana, Walewska, Jaqueline, Sassá e Fabi, enquanto o italiano Giovanni Caprara alinhou a Rússia com Akulova, Gamova, Borodakova, Merkulova, Godina, Sokolova e Kryuchkova.

A seleção brasileira começou arrasadora: em 21 minutos, venceu o primeiro set por 25 a 15. A resposta russa apareceu em seguida: com parciais de 25-23 e 25-18, as russas viraram o placar e ficaram a um set de conquistar um título que não vinha desde os tempos da URSS, em 1990.

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O Brasil voltou para a partida com Mari no lugar de Sassá e venceu a quarta parcial por 25-20. Pela segunda vez consecutiva, o mundial feminino seria decidido em cinco sets.

Num tie break equilibrado, o Brasil abriu 13 a 11 com um erro de ataque de Sokolova pela saída de rede. A matemática do vôlei diz que, a partir daí, as brasileiras só dependiam da virada de bola para conquistar o título mundial. Contudo, nesse momento do rodízio, a seleção tinha apenas duas atacantes na rede (Jaqueline e Walewska) contra três russas e foi essa a matemática que prevaleceu.

Em dois erros de ataque de Sheilla, que marcou 22 pontos no jogo, a Rússia empatou o quinto set. Em seguida, Jaqueline, que fez 19 pontos, parou no bloqueio de Merkulova e o primeiro match point do jogo era europeu. Primeiro e único, porque, com um erro de passe do Brasil, Gamova, de xeque, marcou seu 28º ponto na partida e fechou o campeonato mundial.

A seleção brasileira feminina de vôlei precisou esperar dois anos para conquistar o ouro em Pequim e acabar com a injusta fama de equipe "amarelona", e só em 2012, num tie break enfartante em Londres, foi que se vingou da Rússia e de Gamova. Mas ainda falta um título mundial, um prêmio que, há exatos dez anos, esteve a dois pontos de vir para o Brasil.

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Sobre a autora

Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.

Sobre o blog

O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.

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