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Rigoroso e obcecado por trabalho, Mendez se credencia para a seleção

Carolina Canossa

26/10/2016 06h00

Marcelo Mendez é o grande nome do vôlei de clubes brasileiro (Foto: Vipcomm)

A CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) já deixou claro: quer a permanência de Bernardinho à frente da seleção masculina. Mas, caso o técnico ceda aos apelos da esposa Fernanda Venturini e deixe o cargo, um nome tem muita força nos bastidores e capacidade técnica para assumir a equipe nacional: Marcelo Mendez, responsável por levar o Sada Cruzeiro ao topo do esporte no mundo.

Mendez já chegou a ser sondado, mas nunca houve uma aproximação efetiva com os dirigentes da CBV para tratar do assunto. Não parece, mas esse argentino de Buenos Aires tem um perfil bastante parecido com o de Bernardinho: ao serem questionados sobre a personalidade do comandante, pessoas próximas a ele são unânimes em ressaltar a fixação pelo vôlei e o rigor com o qual trabalha.

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Se, ao contrário do colega brasileiro, Mendez parece um treinador tranquilo à beira da quadra, a realidade é bem diferente. Extremamente sério, o argentino reage com rigor a falhas banais que podem comprometer a qualidade de seus treinos, como objetos fora de lugar ou barulhos que possam desconcentrar os atletas. Nesse sentido houve quem, de brincadeira, o comparasse ao clássico esquete animado do Pateta dirigindo: enquanto não entra no carro, o personagem da Disney é um cidadão pacato e amável, mas assume outra personalidade quando está ao volante.

Atrasos também não costumam ser tolerados. Se um treino, por exemplo, está marcado para começar às 17 horas, é exatamente nesse horário que as atividades serão iniciadas. Nada de 17h01 ou 17h02. Todos ali já se acostumaram com as exigências do treinador e o obedecem cegamente.

Nem sempre foi assim. No começo do trabalho de Mendez, em novembro de 2009, certas metodologias adotadas por ele causaram estranheza nos atletas. Porém, a chegada dos resultados (são 23 títulos desde então) derrubaram esse tabu. Curiosamente, foi justamente uma derrota que impôs ao Sada, quando levou o Montes Claros ao título mineiro daquele ano, que fez a diretoria celeste a apostar nele.

Técnico gosta de andar de moto nas horas vagas (Foto: Bruno Senna/Cruzeiro EC)

Fã de motos e livros de filosofia, Marcelo também passa a sensação de nunca se desligar do vôlei, nem mesmo nos períodos de comemoração ou folga. Mal o Sada tinha acabado de ganhar o Mundial no último domingo (23) e ele já falava na decisão da Supercopa, neste sábado (29), contra o Vôlei Brasil Kirin. Os resultados negativos também lhe doem muito e até hoje o profissional lamenta não ter conseguido classificar a Espanha para a Olimpíada de Pequim, quando após bater Itália e Polônia, perdeu a vaga para a Sérvia com um 13-15 no tie-break do jogo decisivo do Pré-Olímpico.

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Central até os 28 anos, quando decidiu largar a carreira nas quadras para viver à beira delas nas categorias de base do River Plate, clube pelo qual é torcedor fanático, Mendez só aceitou comandar o Montes Claros porque estava cansado de uma temporada de seis anos trabalhando na Europa e queria ficar mais próximo da Argentina. Não conhecia o time ou a cidade do norte mineiro, mas se adaptou muito bem ao Estado. Adora Belo Horizonte, especialmente o clima, com bem mais sol que sua Buenos Aires natal. Difícil mesmo, para ele, é o português: mesmo depois de tantos anos por aqui, ainda possui um forte sotaque.

Rigor nos treinos é uma das características do argentino (Foto: CBV)

A família só veio para cá em 2014 e um dos três filhos, Juan Manuel, é um dos líberos do JF Vôlei, que também disputa a Superliga – eles, inclusive, chegaram a se enfrentar duas vezes no último Campeonato Mineiro, com vitória do pai em ambas. O mais velho, Nicolas, atualmente joga no vôlei da França.

Mendez não esconde o orgulho quando falam sobre a possibilidade de ele assumir a seleção brasileira e já falou abertamente mais de uma vez que aceitaria um possível convite. Por enquanto, porém, isso não deve acontecer, restando ao técnico apenas ressaltar as próprias qualidades. "Esses anos aqui no Sada foram fantásticos. Eu sonhava com isso, mas você nunca sabe o que vai acontecer. E aconteceu. Jogamos um bom voleibol, doamos jogadores para a seleção brasileira e temos uma boa categoria de base. A festa é completa", resumiu.

A repórter Carolina Canossa viajou a Betim para a cobertura do Mundial de clubes a convite de Federação Internacional de Vôlei (FIVB)

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Sobre a autora

Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.

Sobre o blog

O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.

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