Ressaca olímpica: crise econômica não poupa medalhistas de ouro na praia
Sidrônio Henrique
19/10/2016 06h00
O sonhado ouro olímpico veio, mas o retorno, esse não. Bruno Schmidt e Alison Cerutti confirmaram o favoritismo e subiram no lugar mais alto do pódio do vôlei de praia, na arena montada em Copacabana para a Rio 2016. No entanto, dois meses após a Olimpíada, sabem quantos potenciais patrocinadores procuraram a dupla para ao menos conversar? Nenhum. E os contratos vigentes se encerram em novembro. Bruno e Alison têm atualmente dois patrocínios em comum e cada um deles conta com um individual. Ambos são ainda terceiros-sargentos da Marinha, como parte do programa federal que apoia atletas de elite. O soldo será mantido, mas o apoio da iniciativa privada é incerto.
Curta a página do Saída de Rede no Facebook
"Nada é fácil para a gente, estamos calejados, mas não deixa de causar certo espanto", disse Bruno ao Saída de Rede. O parceiro Alison lembrou ao blog que eles vão dialogar com os atuais patrocinadores, em busca de renovação. Juntos desde 2014, os dois têm 30 anos e acumulam dezenas de títulos, inclusive o do mais recente Campeonato Mundial, disputado na Holanda, em 2015. Alison ostenta ainda uma prata olímpica, do período em que formava dupla com Emanuel, medalha conquistada em Londres 2012. Os campeões olímpicos se dizem decepcionados com a ausência de retorno, em que pese o atual cenário econômico no Brasil.
Crise e imediatismo
Dois fatores se destacam nessa ressaca olímpica: a crise que assola a economia do país e a cultura reinante no Brasil de que a exposição é mais relevante do que bons resultados. Não é a primeira vez que vencedores em uma modalidade esportiva se veem em uma situação como essa. No próprio voleibol, por exemplo, já houve mais de um caso de atleta com medalha olímpica tendo que aceitar proposta abaixo do seu valor de mercado para não se ver excluído.
Com o final da Rio 2016, diminui a exposição das duplas do vôlei de praia na mídia, que deve voltar a crescer à medida que Tóquio 2020 se aproximar. A modalidade está praticamente confinada à TV por assinatura e, nesta temporada que começa, a emissora que exibe o circuito brasileiro só transmite a decisão do bronze e do ouro, segundo a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) – antes eram mostradas também as semifinais.
Sada Cruzeiro confirma favoritismo e Minas decepciona no Mundial
Com baixa visibilidade e poucos torneios de grande porte no curto prazo, diminui o interesse dos patrocinadores, admite uma fonte da CBV consultada pelo blog. "Ainda é um desafio atrair empresas para o vôlei de praia, justamente pela exposição limitada, além de outros pontos, como a constante troca de duplas", afirmou a fonte. "Não que no indoor seja fácil", completa, "mas há mais presença na televisão e cada time consegue um espaço entre bom e razoável no mercado local, às vezes há uma identificação muito grande de uma cidade ou região com uma equipe. Isso não ocorre na praia".
Sobre a autora
Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.
Sobre o blog
O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.