Canadá pode complicar a vida da seleção brasileira
Sidrônio Henrique
09/08/2016 06h00
O segundo adversário do time de Bernardinho na Rio 2016 aprontou logo na estreia. Não que vencer os Estados Unidos fosse algo impossível para o Canadá, mas ninguém esperava um contundente 3-0. É justamente a seleção canadense que o Brasil encara às 22h35 desta terça-feira (9), no torneio olímpico de voleibol masculino.
Não é um time excepcional, mas tem uma organização tática invejável, um oposto matador, dois bons ponteiros (um deles, Gord Perrin, entre os melhores do mundo) e um levantador ágil e criativo, além de um líbero eficiente, enquanto os centrais cumprem seu papel (veja a escalação abaixo). Tudo isso sob a liderança do técnico Glenn Hoag, um profissional que tirou o Canadá do limbo e o tornou competitivo. O Brasil é favorito, mas é bom ter cuidado, ainda mais após a apática estreia, quando entregou um set em erros diante do bisonho México, para só depois engrenar e vencer, mas sem convencer.
Ponto forte
Jogo coletivo. No final da década passada, por exemplo, o Canadá sofria de Schmitt-dependência. Quando o oposto Gavin Schmitt estava mal ou ausente, o time desandava, e mesmo a presença dele não garantia muita coisa, apesar de ser um dos melhores na posição, pois vivia sobrecarregado. Ao longo dos anos, o treinador Glenn Hoag foi desenvolvendo outros jogadores, como o ponta Gord Perrin, um atleta com muitos recursos técnicos, ou o levantador Tyler Sanders, que adicionou criatividade a um time com muito potencial. Vale ressaltar a presença do ponta Nicholas Hoag, filho do técnico, que foi o maior pontuador canadense na vitória sobre os EUA. A soma equilibrada desses talentos, apostando em um sistema defensivo sólido e um contra-ataque com muitas opções, faz do jogo coletivo sua maior força.
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Ponto fraco
Diante dos EUA o time se manteve firme, mas a seleção do Canadá é conhecida por tremer em momentos decisivos. Diante da sua torcida, na cidade de Edmonton, em janeiro, perdeu o Pré-Olímpico continental por 0-3 para Cuba, repleta de juvenis. Mais tarde, no qualificatório mundial, teve chances de vencer Polônia e Irã, mas vacilou. Viu a China virar um set praticamente perdido na partida decisiva daquele torneio, ainda que tenha reagido e batido os asiáticos. Será que superaram de vez a tremedeira e nem mesmo o Maracanãzinho lotado vai abalar os canadenses? A vitória de domingo sobre os americanos refletiu maturidade ou foi apenas mais um bom momento de um time com muito potencial, mas que acumula vários tropeços? Vamos ver.
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Qual chance de ganhar do Brasil?
Razoável. Como dissemos acima, a seleção brasileira é favorita, mas o Canadá tem voleibol para derrotar os grandes. Os americanos que o digam.
Fique de olho
O Saída de Rede já falou do forte oposto Gavin Schmitt, já entrevistou o excelente ponteiro Gord Perrin, um dos destaques do Pré-Olímpico mundial. Eles, entre outros, merecem muita atenção. Mas vamos variar. Fiquem de olho no levantador Tyler Sanders. Foi com esse cara, de 24 anos e 1,91m, que o técnico Hoag conseguiu a consistência que procurava na armação das jogadas. Sem um bom levantador, dificilmente uma seleção vai longe. Sanders consegue, na maioria das vezes, deixar seus atacantes em situação favorável diante do bloqueio. Quem vê o time de perto em ação percebe o quanto os atacantes confiam nele. Isso faz muita diferença.
Elenco (em negrito, o provável time titular)
Levantadores: Tyler Sanders (camisa 1) e Jay Blankeneau (21)
Oposto: Gavin Schmitt (12)
Centrais: Justin Duff (6), Graham Vigrass (17), Rudy Verhoeff (5) e Jansen Vandoorn (11)
Ponteiros: Gord Perrin (2), Nicholas Hoag (4), Fred Winters (15) e Steven Marshall (22)
Líbero: Blair Bann (19)
Desempenho no ciclo olímpico
Na Liga Mundial o time se destacou na temporada 2013, quando foi às finais e terminou em quinto, chegando a vencer a Rússia de virada por 3-2. Com o novo formato do torneio a partir do ano seguinte, em três divisões, o Canadá foi colocado no grupo dois por causa do seu ranking. Este ano, venceram a segunda divisão com facilidade, jogando a maior parte do tempo com vários reservas, e assim farão parte da elite em 2017.
No Mundial 2014, apesar do oposto Gavin Schmitt estar contundido, o Canadá fez uma boa campanha e terminou em sétimo lugar entre 24 seleções. Ficou fora das finais ao perder para a Alemanha.
Na Copa do Mundo 2015, com doze participantes, também ficou em sétimo lugar, mas não ofereceu resistência aos chamados times de elite e ainda teve que ir ao quinto set para vencer o Egito.
No campeonato da Norceca, entre países das Américas do Norte e Central, foi vice-campeão em 2013 e conquistou o título em 2015, mas os EUA não participaram deste último.
Nos Jogos Pan-Americanos 2015, em casa, na cidade de Toronto, os canadenses decepcionaram. Iam para o ouro, sabendo que o Brasil enviaria uma equipe B e que os EUA seriam representados por uma seleção universitária. Mas caíram na semifinal, contra a Argentina, perdendo por 1-3, e terminaram com a medalha de bronze ao derrotarem Porto Rico por 3-1.
Este ano, o Canadá atingiu seu nível mais elevado neste século. A Rio 2016 marca a quarta participação olímpica do voleibol masculino canadense, que não ia aos Jogos desde Barcelona 1992. A melhor campanha foi o quarto lugar em Los Angeles 1984, equipe da qual fazia parte Glenn Hoag, como meio de rede.
O que mais rola no dia?
Além de Brasil vs. Canadá, o torcedor terá, entre as outras cinco partidas, mais três bons jogos nesta terça-feira. A segunda rodada começa às 9h30 com Rússia e Argentina. Os russos são favoritos, mas os hermanos chegaram ao Rio com disposição e na estreia marcaram 3-0 sobre o Irã – a Argentina venceu a Rússia por 3-0 este ano, na Liga Mundial, mas o time do craque Sergei Tetyukhin jogou com vários reservas. Às 15h, a embalada Itália, após atropelar os franceses, encara os Estados Unidos, que foram surpreendidos pelos vizinhos canadenses. Às 17h05 tem Polônia e Irã, outro duelo que pode ser interessante, se a equipe persa melhorar o seu ritmo. A rodada tem ainda os confrontos entre França e México, às 11h35, e entre Cuba e Egito, às 20h30. Os franceses, que pareciam ter esquecido de trazer seu voleibol para o Maracanãzinho no domingo, têm a chance de juntar os pedaços diante da fraca seleção mexicana. Já cubanos e egípcios fazem o duelo dos times mais frágeis do grupo B.
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Sobre a autora
Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.
Sobre o blog
O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.