O que esperar da seleção brasileira masculina na Rio 2016?
Sidrônio Henrique
05/08/2016 06h00
O time de Bernardinho foi vice na Liga Mundial, mas venceu os adversários da Olimpíada (fotos: FIVB)
Já faz algum tempo que a seleção brasileira masculina de vôlei não é mais o bicho-papão do voleibol mundial, mas neste final de ciclo olímpico o time parece ter encontrado seu melhor ritmo na década. Na Liga Mundial 2016, encerrada há quase três semanas, o time que foi vice-campeão, perdendo a final para a Sérvia, derrotou ao longo da competição os seus principais adversários na primeira fase da Rio 2016: Estados Unidos, França e Itália, além de vitórias sobre equipes do outro grupo, como Polônia, Irã e Argentina. Um bom sinal. Espera-se uma medalha no dia 21 de agosto. O vôlei masculino do país tem dois ouros e três pratas olímpicas.
O único remanescente da era dourada do Brasil é o líbero Serginho, que aos 40 anos disputará sua quarta Olimpíada e é um dos líderes da seleção. A única dúvida no time titular parece ser o segundo ponteiro e é bem possível que vejamos uma alternância entre Maurício Borges e Lipe, ambos com rendimento bom no ataque, donos de saques potentes, mas com oscilações na recepção. O restante do time parece certo: o oposto Wallace, o levantador Bruno, os centrais Lucão e Maurício Souza, o ponta Lucarelli e o já mencionado Serginho. Completam os doze o ponta Douglas, o levantador William, o oposto Evandro e o central Éder.
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Como já foi dito antes aqui no Saída de Rede, não é o time ideal, mas é o possível. E foi com essa equipe, com a eventual troca do dispensado Tiago Brendle por Serginho, que o Brasil derrotou alguns dos seus principais adversários na Rio 2016 durante a Liga Mundial.
Passe irregular
O principal problema do Brasil é a linha de passe. Em off, um atleta e dois integrantes de comissões técnicas de uma seleção norte-americana e duas europeias falaram ao blog sobre o calcanhar de Aquiles do time de Bernardinho. Em resumo: a chance de ganhar dos brasileiros está concentrada na eficiência do saque do oponente. Sem passe, obviamente, a seleção do Brasil torna-se vulnerável. A Sérvia, única equipe a bater o Brasil na Liga Mundial e que fez isso duas vezes, deu a deixa. Mesmo nas vitórias a recepção brasileira foi motivo de preocupação.
Se o time verde-amarelo alcançou equilíbrio e melhorou seu jogo mesmo sem estrelas e com alguns jogadores que há um ano sequer imaginávamos na equipe, quando o tema é a recepção o nível caiu. Não me recordo de uma linha de passe tão frágil na seleção. E que fique claro que não são apenas os torpedos que incomodam os passadores brasileiros. Um flutuante rasante, como o dos poloneses Mateusz Mika e Mateusz Bieniek, é um tormento para qualquer recepção. No caso do Brasil, nenhum dos quatro ponteiros é exímio passador, o que aumenta a área e consequentemente a responsabilidade do veterano Serginho. O ponta Murilo, um dos melhores passadores do mundo, foi cortado por causa de uma lesão na panturrilha esquerda.
Para se ter uma ideia do que um serviço devastador pode causar, basta relembrar as duas derrotas do Brasil para a Sérvia na Liga Mundial deste ano. No primeiro confronto, perdido por 1-3, os sérvios marcaram impressionantes 20 aces. Foi num dia de saque inspirado, nas quartas de final de Londres 2012, que a Itália, quarta colocada no seu grupo, eliminou os EUA, primeiros da sua chave, em sets diretos – os americanos eram os favoritos para avançar à semifinal.
Saldo vantajoso
OK, o passe atual não faz jus à nossa tradição, mas e o saldo geral? Mesmo com esse déficit na recepção, o time foi bem até aqui. Nas finais da Liga Mundial, por exemplo, os reservas despacharam o time titular dos Estados Unidos. Dois dias antes, os titulares não deixaram a Itália ver a cor da bola. A badalada França, do ponta Earvin N'gapeth, perdeu duas vezes do Brasil por 3-1.
O que esperar da seleção brasileira feminina na Rio 2016?
Sim, o ouro na Rio 2016 é uma grande possibilidade. Se não vier, é pouco provável que o time fique sem medalha. Além das qualidades técnicas e físicas dos jogadores, a seleção brasileira tem como treinador ninguém menos do que Bernardinho. Desde que assumiu a seleção em 2001, o técnico conduziu o time a 38 pódios em 41 torneios. O único senão é que das três vezes em que não chegou lá, duas foram justamente no Maracanãzinho, o palco da disputa do voleibol na Rio 2016 – quarto lugar na Liga Mundial 2008 e quinto na Liga Mundial 2015. Teria a equipe sucumbido à pressão de jogar em casa? Em Olimpíadas, Bernardinho acumula um ouro e duas pratas com a seleção masculina, além de dois bronzes com o time feminino. Como treinador, ele jamais saiu deste evento sem uma medalha.
Equilíbrio
É bom que se diga que os Jogos Olímpicos deverão ter nesta edição, provavelmente, o torneio de vôlei masculino mais equilibrado da sua história. Seis das doze equipes entram como favoritas ao ouro: Brasil, França, Estados Unidos, Rússia, Itália e Polônia. Outras três podem causar danos aos favoritos: Canadá, Argentina e Irã. Na ala dos figurantes estão Egito, Cuba e México.
Brasileiros e franceses estão um passo adiante dos demais, mas nada que os dê muita folga. Os EUA precisam de ajustes, como disse ao SdR o técnico John Speraw. A Rússia, sem o central Dmitriy Muserskiy, é uma incógnita, mas nunca perde o status de favorita – mesmo sem o gigante, venceu o qualificatório europeu. Itália e Polônia, dois times com saques consistentes, mas irregulares na execução do jogo, são, em tese, os menos fortes, digamos assim.
Na praia e na quadra, quem é pedra no caminho do vôlei brasileiro no Rio?
Tem gente lamentando a ausência da Sérvia, que este ano finalmente conquistou seu primeiro título da Liga Mundial, depois de acumular cinco pratas na competição. Os sérvios certamente têm seus méritos, mas se prepararam especificamente para aquele torneio, enquanto as demais equipes mantinham o foco no Rio. Isso faz diferença, levando-se em consideração principalmente o condicionamento físico. É bom ressaltar que a Sérvia sequer chegou às semifinais do Pré-Olímpico da Europa.
O vôlei masculino da Rio 2016 deve brindar os fãs da modalidade com várias partidas de alto nível. Logo na abertura, neste domingo (7), às 9h30, franceses e italianos se enfrentam. A promessa é de pelo menos dois grandes jogos por rodada na fase de grupos.
Confira os jogos do Brasil na primeira fase do vôlei masculino na Rio 2016 (horário de Brasília):
Domingo (7)
11h35 – Brasil vs. México
Terça-feira (9)
22h35 – Brasil vs. Canadá
Quinta-feira (11)
22h35 – Brasil vs. Estados Unidos
Sábado (13)
22h35 – Brasil vs. Itália
Segunda-feira (15)
22h35 – Brasil vs. França
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Sobre a autora
Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.
Sobre o blog
O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.