Na praia e na quadra, quem é pedra no caminho do vôlei brasileiro no Rio?
João Batista Junior
03/08/2016 06h00
Como costuma acontecer, o vôlei do Brasil carrega esperança de bons resultados nas Olimpíadas (fotos: FIVB)
Se, normalmente, o vôlei (de quadra e de praia) é recebido com expectativa pelo público brasileiro nas Olimpíadas, imagine com as duas seleções e as quatro duplas jogando diante da própria torcida. E quando ao fator casa somam-se a tradição do país no esporte, o bicampeonato olímpico da seleção feminina, o crescimento indiscutível do time masculino e o sucesso arrebatador do Brasil no Mundial de Vôlei de Praia da Holanda 2015 (ouro e bronze no naipe masculino, pódio completo no feminino), essa expectativa se converte em otimismo exacerbado e tende a virar pressão – o que, não raro, faz a torcida pelos atletas se transformar em exigência por resultado e torna o torcedor brasileiro um mero cobrador de medalhas (cá entre nós, na Rio 2016 isso não vai acontecer apenas ao vôlei).
Dá, sim, para dizer que é possível que o voleibol renda ao Time Brasil quatro títulos e junte seis medalhas ao quadro geral, mas essa possibilidade não gera obrigação: em cada um dos torneios as equipes brasileiras têm rivais à altura e à espreita, aguardando um deslize num mata-mata para que essa contabilidade ufanista não feche.
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Na areia
Modalidade olímpica desde Atlanta 1996, o vôlei de praia esteve no calendário das cinco últimas edições dos Jogos. O Brasil sempre teve duas parcerias masculinas e duas femininas na disputa, o que significa que houve, no período, a possibilidade de 20 medalhas para a delegação verde-amarela, dez delas de ouro. Pensando na parca tradição do olimpismo brasileiro, dizer que o país conquistou dois ouros em dez disputados e 11 medalhas na areia em 20 possíveis é um ótimo índice, mas ainda aquém da expectativa que o torcedor guarda para 2016.
No torneio feminino, as duas duplas da casa dividem quase irmãmente as chances de título. Se a parceira formada por Ágatha e Bárbara Seixas é atual campeã mundial, o time de Larissa e Talita venceu o circuito mundial do ano passado, com sete troféus em 16 etapas. De quebra, a equipe tricampeã olímpica Misty May/Kerri Walsh não está mais junta – Walsh tem nova parceira e May, que desistiu da aposentadoria há alguns meses, sequer, está nos Jogos.
Antes, no entanto, de cravar uma dobradinha brasileira no pódio (tal qual Jacqueline Silva/Sandra Pires e Mônica/Adriana, em Atlanta 1996), é preciso ressaltar que a dupla alemã Laura Ludwig/Kira Walkenhorst tem tido uma ótima temporada, com cinco vitórias no circuito deste ano – três nas últimas cinco etapas – e lidera o ranking.
Aliás, quatro das cinco melhores duplas do circuito mundial feminino nesta temporada são alemãs – Karla Borger/Britta Büthe, que também estará no Rio, está no quarto lugar. O time intruso nesse top 5 não é brasileiro, é dos EUA: Kerri Walsh/April Ross, com quatro títulos neste ano, aparece no terceiro posto.
Existem, ainda, outras duplas que costumam obter bons resultados no circuito mundial e podem surpreender no Rio, como o time holandês de Madelein Meppelink/Marleen Van Iersel, as parcerias canadenses Jamie Lynn Broder/Kristina Valjas e Sarah Pavan/Heather Bansley.
(Uma dupla italiana que poderia dar trabalho, Viktoria Orsi Toth/Marta Menegatti, sofreu um duro golpe na terça-feira, 2. A federação de seu país divulgou que Orsi Toth testou positivamente para a substância clostebol, o que a excluiu dos Jogos Olímpicos e obriga Menegatti a disputar o torneio com nova parceira.)
Claro que a presença de Larissa/Talita na sexta posição do ranking e Ágatha/Bárbara em 20º lugar não é gratuita: das 17 etapas na temporada, as campeãs do circuito no ano passado só disputaram oito e as campeãs mundiais, sete. O foco da preparação, como não poderia deixar de ser, está nos Jogos Olímpicos. Mas o crescimento das rivais nos últimos meses não deve passar batido.
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No naipe masculino, a dupla Alison/Bruno Schmidt parece carregar consigo todo o peso das apostas de título para o Brasil. São os atuais campeões mundiais e do circuito mundial e, se estão na décima posição do ranking atual, é muito por terem jogado em apenas sete das 20 etapas da turnê – chegaram a quatro finais e ganharam duas.
Bronze no Mundial da Holanda, vencedora de uma etapa do circuito do ano passado e outra deste ano, Evandro/Pedro Solberg também tem a expectativa de bons resultados nas Olimpíadas, mas sem a mesma sobrecarga das outras duplas brasileiras – incluindo-se, é claro, as parcerias femininas.
Notadamente, os maiores adversários dos times brasileiros da parte masculina da tabela são norte-americanos e holandeses. Observe-se que os três países monopolizaram as seis cabeças de chave desse torneio.
Foi-se o tempo em que duplas europeias não impunham largo respeito no vôlei de praia (a extinta dupla alemã Brink/Reckerman, campeã em Londres 2012, rompeu essa barreira). No Rio, é bom ter cuidado redobrado com o time Alexander Brouwer/Robert Meeuwsen, campeão mundial em 2013, e Reider Nummerdor/Christiaan Varenhorst, todos da Holanda. Esta equipe, a do veterano Nummerdor – que, aos 39 anos, vai disputar sua quinta Olimpíada (atuou na seleção holandesa de quadra em 2000 e 2004) –, esteve muito perto de bater Alison/Bruno na decisão do Mundial do ano passado, e só perderam o título em casa num tie break decidido em 22-20.
Outra parceria europeia que merece atenção é Aleksandrs Samoilovs/Janis Smedins, da Letônia, que conquistou três troféus entre os últimos oito disputados no circuito mundial – Smedins, ao lado de Martins Plavins, foi bronze nas últimas Olimpíadas.
Mas, pela tradição do beach volley dos EUA, é sempre bom observar os times de lá. O problema deles este ano é a idade elevada dos quatro jogadores. Nicholas Lucena e Phil Dalhausser (campeão em Pequim 2008 ao lado de Todd Rogers), que venceram três etapas do circuito este ano, têm 36 anos de idade cada um. O outro time tem Casey Paterson, também com 36, e Jacob Gibb, de 40 anos.
No entanto – o que deve diminuir a desvantagem dos norte-americanos –, o desgaste físico numa Olimpíada, ao menos teoricamente, pode ser até menor do que no circuito mundial: enquanto em Copacabana os times só jogarão em dias alternados, há ocasiões em que entram em quadra duas ou três vezes no mesmo dia para disputar partidas em mata-mata num torneio comum.
Na quadra
No Maracanãzinho, a matemática para a seleção brasileira é diferente da areia. Com apenas duas chaves em cada torneio, os cruzamentos entre segundos e terceiros nas quartas dependerá de sorteio. Melhor, então, é analisar os maiores concorrentes do Brasil nos dois naipes e esperar que o andar da carruagem dite os confrontos que as duas seleções podem ter.
Na chave feminina, os maiores obstáculos entre o Brasil e o terceiro ouro parecem estar no outro grupo. Não que a Rússia, com Goncharova em boa fase e Kosheleva, se estiver bem fisicamente, não seja uma grande rival para as brasileiras, inclusive, na disputa pelo primeiro lugar da chave. Mas os EUA, pelo retrospecto recente de duas pratas olímpicas e um título mundial, a China, pelo vice-mundial e pelo troféu da Copa do Mundo, e a Sérvia, pelo poderio ofensivo de atacantes como Tijana Boskovic e Mihajlovic, despontam com principais obstáculos no caminho verde-amarelo.
No Grand Prix mesmo, o Brasil superou os EUA apenas no tie break, na decisão, e foi batido pelas chinesas e sérvias titulares ainda na fase classificatória. Parece claro que evitar um desses três adversários nas quartas de final é a primeira missão do time comandado por Zé Roberto Guimarães.
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O título masculino, como se tem dito desde o fim dos Pré-Olímpicos, parece fadado a ser discutido entre Brasil, França, EUA, Itália, Polônia e Rússia. Contudo, há de se notar que a Rússia, que jogará desfalcada de Muserskiy, não tem metido medo em ninguém há três anos, desde que venceu a Liga Mundial 2013.
Já poloneses, italianos e norte-americanos, pela Liga que fizeram este ano, vêm mais como incógnitas do que como favoritos. A Polônia precisa de Mateusz Mika em sua melhor forma física e técnica, o que parece longe de acontecer. A Itália precisa de Osmany Juantorena bem fisicamente para que Ivan Zaytsev possa jogar na saída de rede, livre das obrigações no passe. E os EUA, que até foram eliminados da Liga pelo time reserva do Brasil, precisam de um Matt Anderson melhor do que o que se apresentou nos últimos dois meses.
Fica a França, do genial Earvin N'gapeth & Cia., que encontrou a dose certa entre descansar jogadores e dar ritmo ao elenco na Liga Mundial, e chega ao Rio como atual campeã europeia.
A bola sobe no Maracanãzinho e em Copacabana já na manhã deste sábado, dia 6. As finais no vôlei de praia serão disputadas no dia 18 (feminina) e 19 (masculina) e, na quadra, nos dias 20 e 21, seguindo a mesma ordem dos naipes.
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Sobre a autora
Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.
Sobre o blog
O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.