“A seleção brasileira e a sua torcida não metem medo”, diz craque francês
Sidrônio Henrique
27/07/2016 06h00
Adorado por uma legião, provocador desde moleque, o ponta francês Earvin N'gapeth, 25 anos, 1,94m, constantemente recebe a alcunha de gênio. Não é para menos. A facilidade com que ele executa jogadas que outros sequer arriscariam fazem valer o ingresso, seja para ver as partidas da seleção francesa ou do clube italiano Modena. Às vésperas dos Jogos Olímpicos, ele concedeu uma entrevista exclusiva ao Saída de Rede.
Filho de Éric N'gapeth, um camaronês naturalizado francês que jogou pela seleção de vôlei de ambos os países, chegando a competir pela França nas Olimpíada de Seul, em 1988, Earvin teve o pai como exemplo para escolher o voleibol como carreira. Hoje ele é o líder da constelação francesa, um time que deu um salto de qualidade ao longo deste ciclo e chega às Olimpíadas como um dos favoritos ao ouro, credenciado pela conquista da Liga Mundial e do Campeonato Europeu no ano passado.
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Apesar de atitudes consideradas inconsequentes, dentro e fora das quadras, Earvin N'gapeth conserva o respeito dos colegas e adversários. Ele atribui ao grupo de atletas da seleção, muitos dos quais com quem vem jogando há 10 anos, desde as categorias de base, o seu sucesso.
O ponteiro aponta o Brasil como grande favorito, mas avisa que vem ao Rio para ganhar o ouro. "Sei que a seleção brasileira e a torcida vão vir com tudo, mas não nos metem medo", afirma. Brasileiros e franceses se enfrentarão na última rodada da primeira fase, dia 15 de agosto, às 22h35. Há boas chances de se reencontrarem na final, dia 21, às 13h15.
Confira o bate-papo de Earvin N'gapeth com o blog:
Saída de Rede – Desde os tempos de juvenil, no final da década passada, você era considerado um jogador extremamente talentoso, mas foi nas duas últimas temporadas que ascendeu à condição de astro internacional, sucesso na seleção e no clube. Qual foi o principal fator que fez a diferença para que você desse um salto em sua carreira?
Earvin N'gapeth – Eu diria que foi o grupo que fez a diferença. Já faz dez anos que jogamos juntos, ou seja, a equipe alcançou maturidade. Conseguimos ganhar a Liga Mundial e fomos campeões europeus. Foi o grupo que fez toda a diferença para o meu crescimento.
Saída de Rede – A seleção francesa teve que emendar o Pré-Olímpico Mundial com a temporada de clubes, logo depois veio a Liga Mundial e em pouco tempo começa a Olimpíada. Essa grande quantidade de jogos sem muitas folgas é motivo para apreensão? Você acha que pode ter afetado ou mesmo prejudicar o desempenho do time no Rio?
Earvin N'gapeth – É verdade que esses dois anos têm sido longos, não tivemos férias ou qualquer parada mais longa, mas o nosso objetivo principal era ir ao Rio. Portanto, estávamos muito concentrados e motivados para isso. Na Liga Mundial tivemos alguns reveses, alguns jogadores estavam descansando porque o nosso principal objetivo é o Rio, são os Jogos Olímpicos. De alguma forma essa sequência afetou a nossa preparação, mas a comissão técnica soube administrar tudo isso muito bem e chegaremos todos em forma ao Rio de Janeiro.
Saída de Rede – Como você avalia os principais adversários da França na primeira fase: Estados Unidos, Canadá, Itália e Brasil?
Earvin N'gapeth – Dos americanos perdemos apenas uma vez nesses últimos quatro anos, mas é uma grande equipe, muito disciplinada, um time difícil de ser batido, um dos que podem levar o ouro na Olimpíada. Tem o Canadá com uma equipe muito jovem e difícil de ser derrotada, contra quem não jogamos muito, ganhamos do time reserva deles no qualificatório mundial no Japão. Os italianos nós temos enfrentado todos os anos e é uma seleção com muitas qualidades. Por fim, o Brasil, que vai jogar em casa e será o grande favorito a vencer o torneio.
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Saída de Rede – Só o ouro importa no Rio?
Earvin N'gapeth – Bom, nós vamos para o Rio para vencer, já provamos que podemos bater todas as melhores seleções do mundo. Claro que iremos para a Olimpíada para ganhar uma medalha, mas sem dúvida a mais bela delas seria melhor.
Saída de Rede – Qual é a expectativa de enfrentar o Brasil em pleno Maracanãzinho, com o ginásio lotado?
Earvin N'gapeth – Nós eliminamos o Brasil na primeira fase da Liga Mundial 2015 no mesmo cenário. Quando jogamos no Maracanãzinho, todos contra a gente, tivemos sucesso. É verdade que aquilo é uma loucura, o voleibol é muito importante para os brasileiros… Sei que a seleção brasileira e a torcida vão vir com tudo, mas não nos metem medo. Nós costumamos jogar bem em situações assim, será um belo espetáculo.
Saída de Rede – A Rio 2016 será a primeira Olimpíada desse grupo de jogadores. Encarar um evento como esse, com toda a pressão envolvida, não te deixa preocupado?
Earvin N'gapeth – Sabe, temos uma convivência muito boa uns com os outros e, na verdade, jogamos ainda melhor quando tentam nos colocar sob pressão. Enfim, uma competição dessa importância chega e vamos, como sempre, jogar como se não houvesse pressão alguma.
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Sobre a autora
Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.
Sobre o blog
O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.