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Saque sérvio impede Brasil de quebrar jejum de títulos

Sidrônio Henrique

17/07/2016 17h33

O passe brasileiro não resistiu ao serviço da seleção sérvia (fotos: FIVB)

Faltou pouco, mas o saque e a forma física dos sérvios impediram o Brasil de quebrar um jejum de títulos que já dura três anos, para quem considera o título da Copa dos Campeões 2013, que sequer conta pontos para o ranking mundial, ou seis anos, se olharmos para o Campeonato Mundial 2010. A seleção brasileira de vôlei masculino caiu diante da Sérvia por 3-0 (25-22, 25-22, 25-21), em Cracóvia, na Polônia, na final da Liga Mundial 2016. Foi o primeiro título dos sérvios nessa competição. O Brasil adia mais uma vez o sonho do decacampeonato.

A Sérvia, mesmo sem o oposto Aleksandar Atanasijevic, fora das finais por causa de uma contusão, mostrou-se um adversário forte, coeso, com um bom jogo baseado no saque e bloqueio. Haviam sido os únicos a derrotar o Brasil na fase inicial (3-1, em Belgrado, marcando impressionantes 20 aces), quando a seleção brasileira ainda ajustava seu jogo. É bom que se diga que os sérvios, sem ir aos Jogos Olímpicos, tinham na Liga Mundial sua principal competição da temporada, estando em estágio de preparação física superior aos demais, o que lhes garantiu vantagem nessa corrida por um título inédito – acumulavam cinco pratas e um bronze. A Sérvia errou pouco, entregou apenas 11 pontos, enquanto o Brasil deu quase um set de presente, com 24 erros. O oposto Wallace, melhor da posição no torneio, foi o maior pontuador da final, com 18, seguido pelo ponta sérvio Marko Ivovic, MVP da competição, que somou 16.

Brasil
Apesar da derrota, o time de Bernardinho segue para a Rio 2016 demonstrando em quadra um jogo calcado em um sistema defensivo bem estruturado e no seu poder ofensivo, tanto no ataque quanto no saque – veja a final contra a Sérvia como um ponto fora da curva. Não dá para garantir que venha uma medalha, até porque o equilíbrio no voleibol masculino coloca metade dos 12 participantes do torneio olímpico com chances reais de ouro e há pelo menos outras três equipes capazes de atrapalhar os favoritos.

O técnico Bernardinho, à frente da seleção masculina desde 2001, parecia ter encontrado o time titular ideal com o oposto Wallace, o levantador Bruno, os pontas Lucarelli e Maurício Borges, os centrais Lucão e Maurício Souza, com a única dúvida na posição de líbero entre o veterano Serginho e Tiago Brendle, este último escalado neste domingo. A má atuação de Maurício Borges no passe, apesar de ter ido bem no ataque, provocou sua substituição por Lipe. Resta saber se o também ponteiro Murilo, que se recupera de uma lesão simples na panturrilha esquerda e é um exímio passador, estará pronto antes da Olimpíada. Murilo também não jogou na partida contra os sérvios na fase de classificação.

O oposto Wallace foi o maior pontuador da final, marcou 18 vezes

Longe de encantar como a geração dourada da década passada, a atual equipe preza porém pela eficiência, mantém uma relação consistente entre bloqueio e defesa, aspecto em que cresceu mais ainda nesta temporada, justamente quando chegamos ao momento decisivo do ciclo olímpico. O saque foi outro ponto em que o time de Bernardinho deu um salto considerável este ano, com um melhor rendimento aliado à variação de serviços forçados ou flutuantes, longos e curtos.

Nas finais da Liga Mundial, o Brasil teve a chance de medir forças com seus três maiores adversários da fase inicial na Olimpíada: Itália, Estados Unidos e França. O confronto com a seleção brasileira deve ter deixado os oponentes apreensivos. Os italianos não passaram do vigésimo ponto em seu melhor set, os americanos foram derrotados (e eliminados) pelos reservas do Brasil e a França, o mais forte entre eles, tomou uma surra no primeiro set e viu o time de Bernardinho virar o jogo na terceira e na quarta parciais – nesta última revertendo uma desvantagem de seis pontos.

Olho nos favoritos
Além de três favoritos (Itália, EUA e França) ao ouro no Rio que enfrentou nessa reta final em Cracóvia, o Brasil vai encarar na primeira fase a boa equipe canadense, que pode surpreender os mais fortes, e o fraco México. Entre os candidatos ao topo do pódio que estão na outra chave, os brasileiros tiveram chance de encarar os poloneses na Liga Mundial, derrotados em sets diretos em Nancy, na França. A única incógnita é a Rússia, que não se classificou para as finais e que disputou a fase classificatória mesclando titulares e reservas. Atual campeã olímpica, a seleção russa deu uma demonstração do seu poderio ao derrotar de virada, por 3-1, o time francês, na decisão do Pré-Olímpico da Europa. Um time perigoso, que tem como destaques o central Dmitriy Muserskiy, de triste memória para os brasileiros, e o ponta Sergey Tetyukhin, o mais velho do vôlei masculino na Olimpíada, com 40 anos e 11 meses, ambos remanescentes da campanha do ouro em Londres 2012 – Tetyukhin disputará sua sexta edição dos Jogos Olímpicos.

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Numa avaliação dos seis favoritos, sem saber da atual condição da Rússia, percebe-se que brasileiros e franceses chegam melhor preparados ao Rio. Não será surpresa se a semifinal da Liga Mundial se repetir como final olímpica, no dia 21 de agosto, no Maracanãzinho.

Time brasileiro
O oposto Wallace e o ponta Lucarelli são os destaques ofensivos da seleção brasileira. O primeiro se viu obrigado a assumir a condição de titular na saída de rede desde a contusão de Leandro Vissotto nas quartas de final em Londres 2012, contra a Argentina, e se firmou. Lucarelli, talvez o maior talento do voleibol brasileiro nesta década, cresceu ao longo do ciclo. Viu Londres 2012 da arquibancada e tornou-se titular a partir do ano seguinte. Se no Mundial 2014, quando o Brasil foi prata, Lucarelli já mostrava ao mundo suas qualidades sendo o melhor ponteiro do torneio, em 2016 é ainda mais sólido: tem maior segurança no ataque e no saque.

O levantador Bruno Rezende provavelmente atingiu o ápice na sua carreira, sendo responsável por uma das melhores distribuições do voleibol mundial, a ponto de ser considerado pelo craque americano Matt Anderson como o principal fator pela dificuldade de derrotar a seleção brasileira. Neste domingo, sem passe, o ataque brasileiro rendeu menos diante da Sérvia.

Ponteiro Marko Ivovic, MVP da Liga Mundial, ataca

No entanto, entre os 12 atletas que deverão estar na Rio 2016, ninguém chamou mais a atenção do que a dupla de Maurícios: Souza, o central, e Borges, o ponta. Fala a verdade, há um ano você aí imaginaria os dois entre os que irão aos Jogos Olímpicos? Eu não. Aliás, nem eles. Maurício Souza é, atualmente, o principal central brasileiro e um dos melhores do mundo – premiado como o melhor da posição na Liga Mundial. Já o xará Borges, que de juvenil promissor no final da década passada viu sua carreira ser marcada por inúmeras lesões, vem apresentando um saque potente e muita qualidade técnica no ataque, embora ainda comprometa no passe.

É com esta equipe, fruto de diversas combinações experimentadas pelo técnico Bernardinho, que o Brasil chega ao Rio. Um time de operários, de jogadores que tiveram de superar suas limitações ou ainda lutam contra elas, como o caso da deficiência no passe entre os ponteiros, mas cujo resultado final, em quadra, ainda é capaz de empolgar, como vimos contra a França. Voleibol, afinal, mais do que a habilidade técnica ou força física individuais, é o coletivo.

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Sobre a autora

Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.

Sobre o blog

O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.

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