Conegliano e a vitória do American Way of Playing na Liga Italiana
João Batista Junior
10/05/2016 06h00
A princípio, há uma boa razão (quatro, na verdade) para Karch Kiraly ter dito que o voleibol do Imoco Volley Conegliano se assemelhava ao da seleção feminina dos Estados Unidos. O time que obteve a melhor campanha da fase classificatória da Liga Italiana e conquistou, na semana passada, o troféu da temporada 2015-16 tem nada menos que quatro norte-americanas no elenco. Mas é possível, também, que o motivo da comparação do técnico campeão mundial não esteja apenas no número.
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Com Alisha Glass no levantamento, a central Rachael Adams e as ponteiras Megan Hodge-Easy e Kelsey Robinson se destacaram, principalmente, na pontuação.
Adams foi a segunda meio de rede que mais pontuou no campeonato, de acordo com as estatísticas da liga, enquanto Easy e Robinson foram, respectivamente, sétima e décima primeira maiores anotadoras no geral. Além disso, as três atacantes – Adams, inclusive – acabaram o certame com mais pontos assinalados do que a oposta do time, a veterana Ortolani, que está de volta à seleção italiana.
Se esporte fosse ciência exata, daria para dizer que, com jogadoras se destacando e vencendo numa das maiores ligas do mundo, aí estava a base da seleção norte-americana, do time que virá para o Rio, em agosto, tentar acabar com a sina prateada do voleibol feminino do Tio Sam. E acrescentar, fosse matemática, que basta juntar três nomes aos delas para Kiraly formar seu time titular. Mas o resultado da conta não deve ser esse.
Sim, o quarteto tem sido convocado com frequência e somente Glass, de passagem esquecível pelo Vôlei Futuro, pode se acreditar titular do time. Adams e Robinson estavam também no mundial de 2014, mas na reserva, nem sequer foram acionadas na partida final. Vice-campeã olímpica, Megan Hodger-Easy estava, junto com Robinson, na Copa do Mundo do ano passado, mas as duas estiveram mais sets no banco do que passando ou atacando – exceto em partidas contra adversários como Peru, Argélia e Quênia. No Pré-olímpico, em janeiro deste ano, confrontando Porto Rico, Canadá e Rep. Dominicana, as três atacantes estavam no elenco que conquistou a vaga para o Rio 2016, mas só Robinson foi titular.
Rachael Adams enfrenta forte concorrência para estar no Rio 2016
(Foto: Fillipo Rubin/Lega Pallavolo Femminille)
Para conquistarem vaga no time inicial, Hogde-Easy e Robinson tem a concorrência de Jordan Larson e Kimberly Hill, que se destacaram na conquista do título mundial (Hill sendo MVP) e jogam na Liga Turca. Rachael Adams tem contra si a predileção de Kiraly por Akinradewo, Christa Harmotto e, até, Tetori Dixon, o que pode, perfeitamente, deixá-la fora da lista para os Jogos.
A comparação de Kiraly entre o Conegliano e os EUA vai além da nacionalidade das principais jogadoras do time italiano. Assim como na seleção norte-americana, o ponto forte do jogo do Conegliano é a velocidade no ataque. É um time que, por exemplo, teve na líbero Monica De Gennaro, da Azzurra, a melhor passadora da Liga Italiana – de acordo com os números oficiais. São duas equipes – e isso foi fatal para os EUA, nos Jogos de Londres – que dependem da qualidade do passe para o jogo fluir (e olhe que, em Londres, as norte-americanas ainda tinham Hooker no auge da forma para compensar, no ataque, a falta de uma combinação mais veloz). E a semelhança vai além da rapidez de raciocínio e de movimento da levantadora.
Alisha Glass e Kelsey Robinson podem reeditar, nos Rio 2016, uma parceira que deu certo na Itália (foto: FIVB)
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No Conegliano, a bola de segurança não estava na saída, e sim, na entrada de rede: mesmo sendo o alvo predileto do saque do Piacenza, nas quatro partidas do playoff decisivo da Liga, Robinson foi a atacante mais acionada por Glass, tendo recebido, no cômputo da série, 48 levantamentos a mais do que Ortolani – média de 3,7 de bolas recebidas a mais por set.
Daí, como se tem observado uma distribuição de bolas mais homogênea no ataque norte-americano nos últimos anos, é de se pensar se Kiraly, quando comparou as duas equipes, não pretenda aproveitar o entrosamento da dupla Alisha-Kelsey para mudar o estilo de jogo do time, deixando-o ainda mais parecido com o do campeão italiano. A comparação pode ter sido uma pista.
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Sobre a autora
Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.
Sobre o blog
O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.