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"Jogado aos leões", Douglas Souza diz: “Consegui me sobressair”

Janaína Faustino

30/11/2018 14h00

Vivendo a melhor fase de sua incipiente carreira, Douglas Souza foi escolhido o destaque da modalidade em 2018 (Foto: Guilherme Cirino)

Quem acompanha frequentemente a temporada de clubes e de seleções sabe que 2018 foi um ano de bastante crescimento para o ponteiro Douglas Souza. Aos 23 anos, o jovem reforço do EMS Taubaté Funvic teve uma participação fundamental no surpreendente vice-campeonato mundial da seleção brasileira, já que antes da competição o Brasil não era apontado como um dos candidatos ao ouro. Além disso, ao lado do polonês Michal Kubiak, foi selecionado como o melhor atacante da entrada de rede do torneio, levando a premiação individual. Para comprovar sua evolução, Douglas ainda foi eleito pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB), em votação entre dirigentes, jornalistas e ex-atletas, o destaque da modalidade deste ano e receberá o Prêmio Brasil Olímpico no Rio de Janeiro, em cerimônia marcada para o dia 18 de dezembro.

Campeão olímpico nos jogos do Rio, em 2016, o ponteiro reconheceu, em entrevista ao canal do Youtube "No Bloqueio", do jornalista Igor Calian, que este ano foi decisivo para o seu crescimento como atleta. "Acho que 2018 foi o melhor ano da minha carreira. Em 2016, teve um título importante, mas acredito que 2018 foi muito importante para mim, pessoalmente. Lógico que teve o Mundial, a premiação, mas para mim mesmo foi bem legal porque consegui sair de uma situação não muito bacana. (…) Eu soube dar a volta por cima", afirmou. O ponteiro fez referência aqui ao seu desempenho bastante instável na última Superliga, quando ainda atuava pelo Sesi-SP, e ao começo desta temporada de seleções, quando jogou bem abaixo do que poderia na Liga das Nações, torneio que antecedeu o Campeonato Mundial. Sua performance acabou gerando críticas justas que ele soube superar.

"Nas quartas de final da última Superliga eu joguei bem abaixo do que poderia para ajudar o Sesi. Em alguns jogos eu também oscilei, mas acabei 'saindo do buraco'. E a gente não teve tempo para treinar durante a Liga das Nações e eu acabei jogando o torneio 'por cima'. Alguns jogadores também se machucaram e então foi uma situação complicada. Você ser jogado assim, aos leões, sabe? Eu estava no banco e de repente ouvi: 'Douglas, vem porque não tem outro'. Foi mais ou menos isso. Antes do Mundial, a gente teve dois meses para treinar e já foi tudo muito mais planejado. (…) Mas eu consegui me sobressair no meio de tudo isso", salientou.

A coragem de Douglas Souza

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Sobre a pressão que sofreu ao substituir o ponteiro Murilo, uma das grandes referências do voleibol nacional, às vésperas dos Jogos Olímpicos, Douglas aparentou equilíbrio e ressaltou que tinha noção de que as críticas viriam. "Você fica chateado, tem gente que pega muito pesado, mas isso é normal, a gente está acostumado. Além de ser treinado dentro da quadra para todas as situações, você tem que ser treinado e trabalhado para saber lidar com esse tipo de coisa [as críticas]. Eu sabia que iria acontecer, o Bernardo também e conversava muito comigo. Para mim foi uma coisa esperada", explicou.

Ao lado do polonês Kubiak, Douglas entrou para a seleção do Campeonato Mundial como o melhor ponteiro (Foto: Reprodução/Instagram)

Voltando ao vice-campeonato da equipe brasileira no Mundial, o jogador destacou que uma série de fatores culminou no sucesso da campanha. "Eu acredito que foi uma mistura de tudo. Não acho que se não fosse eu a gente não teria chegado à final. O Wallace jogou bem em momentos importantíssimos, o Lucão também rodou muitas bolas, sabe? O Chupita [o ponteiro Lipe] também ajudou pra caramba no passe, rodou as bolas dele. Os que vinham do banco, o Loh, o William, o Evandro… Como um time, acho que todo mundo deu uma boa contribuição para a gente chegar bem à final", frisou.

Douglas foi além ao sublinhar que a concentração e o foco total na competição foram essenciais para o seu desempenho no torneio. "Mentalmente foi muito importante pra mim. Por exemplo, eu sou viciado em videogame e levei o meu computador para jogar porque a gente foi fazer uns amistosos na Alemanha antes do Mundial. Durante os amistosos, eu continuei jogando. Quando começou o Mundial, eu parei. Já não tocava no computador para jogar videogame. Era só vôlei. Eu pegava para estudar o que tinha acontecido no jogo anterior, ver o próximo, conferir o scout. Eu tentava concentrar o máximo da minha energia no vôlei. Para mim, isso foi muito marcante", sustentou o ponteiro.

Sobre a possível chegada de Yoandy Leal, que estará disponível para convocação do técnico Renan Dal Zotto a partir de 30 de abril de 2019, Douglas vê com bons olhos e explica que a vinda do ponteiro do Lube Civitanova poderá provocar uma competição saudável dentro da seleção brasileira. "O problema é da comissão técnica, que vai ter muito ponteiro bom. Eles que vão ter que decidir como vai funcionar. Cada um tem que fazer o seu melhor e acho que isso vai até ajudar mais por gerar uma competitividade dentro da equipe. Isso faz você crescer. Se tem um cara no banco que está o tempo todo pronto e que é melhor, você pensa que precisa dar um passo a mais, subir alguns degraus. Então isso é motivador não só para mim, mas também para o Lucarelli, o Borges e todos aqueles que estiverem no grupo".

Em relação ao prêmio de destaque do vôlei brasileiro em 2018, ele demonstrou gratidão e disse que sua mãe, chorona, ficou orgulhosa. "Não tinha imaginado isso. Para mim, foi uma grata surpresa. Fiquei muito honrado, feliz. Significa que estou no caminho certo com o meu trabalho. Mas foi totalmente inesperado". "A minha mãe chora por tudo. Logo depois da final do Mundial, quando eu ganhei o prêmio de melhor ponteiro do mundo, mandei a foto do prêmio e ela enviou um áudio aos prantos, sem conseguir falar. E agora, com o prêmio do COB, aconteceu o mesmo. (…) Coisas de mãe", concluiu.

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Sobre a autora

Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.

Sobre o blog

O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.

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