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Saída de Rede

Elevador olímpico tem Brasil em estado de graça e decepção russa

Sidrônio Henrique

22/08/2016 12h00

 

Diante do Maracanãzinho lotado, a seleção brasileira conquistou o tricampeonato olímpico (fotos: FIVB)

A Rio 2016 acabou e o elevador do Saída de Rede traz o último sobe e desce da Olimpíada. Neste post, excepcionalmente, em vez do mesmo número de subidas e descidas, teremos mais equipes/personagens em alta. Confira:

SOBE

Seleção masculina do Brasil
Sobe muito. Afinal, estamos falando do ouro olímpico, a conquista mais importante na maioria das modalidades, voleibol incluído. Considerando apenas os grandes torneios, a última conquista havia sido o Mundial 2010. Já fazia seis anos que estávamos na fila e o time de Bernardinho pôs fim ao jejum no nosso quintal, no Maracanãzinho.

Técnico Bernardinho conquistou sete medalhas olímpicas

Bernardinho
As duas competições mais importantes no vôlei são, por ordem, os Jogos Olímpicos e o Campeonato Mundial. No comando da seleção masculina desde 2001, Bernardo Rezende esteve à frente da equipe em quatro mundiais e quatro Olimpíadas. Chegou à final em todas. Foram cinco ouros e três pratas. No total, desde que assumiu o time, foram 39 pódios em 42 torneios, obtendo ouro na maioria. A medalha dourada deste domingo (21), no Maracanãzinho, ginásio que ele conhece tão bem, desde os tempos de jogador, é mais uma conquista em uma carreira única. Nenhum outro treinador, em qualquer modalidade, levou uma seleção a tantas finais consecutivas nos dois principais campeonatos do seu esporte. Tem mais: a da Rio 2016 foi a sétima medalha olímpica de Bernardinho, a sexta consecutiva. Ele ganhou uma prata como atleta (Los Angeles 1984). Enquanto técnico, embora treinadores não recebam medalhas em Olimpíadas, soma dois ouros (Atenas 2004 e Rio 2016), duas pratas (Pequim 2008 e Londres 2012) e dois bronzes (Atlanta 1996 e Sydney 2000) – estes com a seleção feminina.

Líbero Serginho é erguido pelos colegas no pódio da Rio 2016

Serginho
O veterano líbero brasileiro tem motivos de sobra para comemorar. Para começar, mais um ouro olímpico, ele agora é bicampeão – o levantador Maurício Lima e o ponta Giovane Gavio também estão nesse seleto clube, com os ouros de Barcelona 1992 e Atenas 2004. Único remanescente do timaço que chegou ao topo do pódio em Atenas, Serginho completa 41 anos em outubro, é líder da seleção, joga com a empolgação de um juvenil, mas tem as qualidades daqueles que são craques. Foi escolhido MVP da Rio 2016, algo inédito para um jogador da posição nos Jogos Olímpicos, o que reforça sua condição de um dos maiores nomes do voleibol em todos os tempos – ele havia sido apontado MVP da Liga Mundial 2009. Mas não para por aí. Serginho juntou-se ao italiano Samuele Papi e ao russo Sergey Tetyukhin como maior detentor de medalhas no vôlei masculino. Cada um tem quatro – o russo poderia ter conquistado a quinta no Rio, mas perdeu a decisão do bronze contra os EUA. A vantagem de Serginho sobre esses ponteiros estrangeiros é que ele jamais saiu de uma Olimpíada de mãos abanando e têm dois ouros e duas pratas. Tetyukhin soma, em seis edições, um ouro, uma prata e dois bronzes. Já Papi, que disputou cinco Jogos Olímpicos, acumula duas pratas e dois bronzes.

China gold medallist

Lang Ping foi ouro como jogadora em 1984 e agora como técnica

Lang Ping
A técnica da seleção chinesa vinha sentindo o gosto da prata em competições globais desde os anos 1990. No ano passado, chegou ao ouro numa Copa do Mundo esvaziada e por isso havia quem desconfiasse da capacidade chinesa de brilhar mais que os adversários na Rio 2016. O começo foi desanimador, com derrotas para Holanda, Sérvia e EUA. A partir das quartas de final, o time se reencontrou. Superou as favoritas brasileiras diante do Maracanãzinho lotado, ganhou da surpreendente Holanda na semifinal e, por fim, bateu a Sérvia para conquistar o terceiro ouro do vôlei feminino chinês – os outros foram em Los Angeles 1984 e Atenas 2004. As alterações promovidas por Lang Ping em partidas decisivas, especialmente nas quartas de final e na decisão do ouro, deixaram as oponentes sem saída e cobriram de glória como treinadora aquela que foi uma das maiores jogadoras de todos os tempos, ouro como ponteira em 1984.

Sérvia
A prata teve sabor de ouro para uma seleção que há quatro anos não havia sequer passado da primeira fase, lidando então com várias contusões. Se no masculino os sérvios têm tradição, somando títulos desde os tempos da antiga Iugoslávia (país desintegrado no início deste século e do qual fazia parte), no feminino começaram a crescer a partir de meados da década passada. Foram campeãs europeias em 2011 e vice-campeãs da Copa do Mundo 2015. Surpreenderam os EUA na semifinal no Rio e deixaram claro que no próximo ciclo olímpico estarão na briga pelo título nas principais competições.

Giovanni Guidetti deixa a quadra ao lado da oposta Lonneke Sloetjes

Giovanni Guidetti
Ninguém vai negar que o time holandês tem talentos, como a oposta Lonneke Sloetjes, para citar um, mas ainda sofre com muitas deficiências e é carente em algumas posições. Chegar entre os quatro primeiros em uma Olimpíada é um resultado honroso – a Holanda perdeu o bronze para os EUA. O maior trunfo da equipe está no banco: o técnico Giovanni Guidetti. Ele, que havia levado a limitada Alemanha a dois vice-campeonatos europeus, assumiu o cargo de treinador das holandesas no ano passado e já começou com novo vice na Europa. Mais tarde garantiu a presença delas nas Olimpíadas após um hiato de 20 anos. No Rio, surpreendeu a China na primeira rodada e mais adiante venceu a Sérvia. Na semifinal, um confronto equilibrado com as eventuais campeãs, as chinesas. Na disputa do bronze, outra partida bastante disputada, desta vez diante das americanas, que têm uma seleção superior. Sem Guidetti, dificilmente a Holanda teria um time tão coeso e possivelmente não teria se classificado para a Rio 2016.

DESCE

Seleção americana segue sem alcançar o ouro nos Jogos Olímpicos

Seleção feminina dos EUA
Com o Brasil fora do páreo, eliminado pela China nas quartas de final, parecia que as americanas finalmente chegariam ao tão sonhado ouro olímpico, mas as atuais campeãs mundiais tropeçaram na semifinal, contra a Sérvia, apesar de estarem vencendo o tie break por 11-8. Foram irregulares e viram uma de suas principais jogadoras, a ponteira Jordan Larson, comprometer a linha de passe – logo ela, que é especialista no fundamento. O técnico Karch Kiraly também demorou a mexer na equipe e viu pesar sobre o time a decisão de trazer duas opostas com as mesmas características, além de optar por apenas três ponteiras para que pudesse levar uma terceira levantadora, Courtney Thompson, na verdade na função de sacadora, cuja participação teve quase nenhum efeito na campanha do time. Na história olímpica, os EUA acumulam agora três pratas e dois bronzes.

Campeã olímpica em Londres, a Rússia ficou fora do pódio no Rio

Seleção masculina da Rússia
É verdade que a campeã de Londres 2012 não chegou ao Rio em alta e sim como uma incógnita, mas a partir da semifinal foi só decepção. Primeiro, eles foram atropelados pelo Brasil. Na disputa do bronze, quanta ironia… O time que havia revertido um 0-2 para conquistar o ouro há quatro anos, desta vez vencia os EUA por dois sets e tomou a virada, ficando sem medalha alguma. O técnico Vladimir Alekno, bronze em Pequim 2008 e ouro em Londres 2012, viu atônito seu time perder esses dois jogos, sem esboçar qualquer mudança tática, apenas trocando peças, mas sem reorganizar a equipe. Do lado americano, os dois ponteiros reservas entraram em quadra, um deles o experiente Reid Priddy, para mudar o rumo da partida. Chato foi ver o veterano ponta russo Sergey Tetyukhin, um craque prestes a completar 41 anos, disputar sua sexta e última Olimpíada e não conquistar sua quinta medalha. Mas os EUA mereceram o bronze.

Desafio
Demorado, às vezes polêmico. O desafio em vídeo, que nas finais do Grand Prix havia apresentado agilidade, deixou a desejar no Rio. O que se viu foi lentidão, chegando ao ponto de irritar a torcida. E mesmo com os lances em questão no telão sobraram reclamações, no caso de toque no bloqueio ou na rede, seja pela falta de clareza em razão do ângulo escolhido ou pela decisão do árbitro responsável por avaliar as imagens. A animação que apontava bola dentro ou fora era um pouco mais ágil. Porém, ficou claro que é preciso melhorar o desafio.

Sobre a autora

Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.

Sobre o blog

O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.

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