Jaqueline Carvalho – Blog Saída de Rede http://saidaderede.blogosfera.uol.com.br Reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Tue, 31 Dec 2019 12:02:55 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Quem leva a melhor nas quartas de final da Superliga feminina? http://saidaderede.blogosfera.uol.com.br/2018/03/08/quem-leva-a-melhor-nas-quartas-de-final-da-superliga-feminina/ http://saidaderede.blogosfera.uol.com.br/2018/03/08/quem-leva-a-melhor-nas-quartas-de-final-da-superliga-feminina/#respond Thu, 08 Mar 2018 09:00:43 +0000 http://saidaderede.blogosfera.uol.com.br/?p=12278

A partir desta sexta-feira (9) começam as quartas de final da Superliga feminina 2017/2018. O Saída de Rede faz uma avaliação dos prováveis desfechos em cada série, disputada numa melhor de três jogos.

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Vôlei Nestlé vs. Hinode Barueri
Esse é o mais equilibrado dos quatro confrontos, envolvendo o quarto colocado, Vôlei Nestlé, e o quinto, Hinode Barueri. No turno e returno, duas vitórias da equipe de Osasco por 3-1 sobre o time comandado pelo técnico José Roberto Guimarães. Porém, se a equipe do treinador Luizomar de Moura pouco alterou seu padrão de jogo após deslocar Tandara da entrada para a saída de rede, numa evidente melhora, o Barueri foi recuperando algumas peças gradativamente e subiu de produção com a chegada da levantadora americana Carli Lloyd no segundo turno.

É principalmente pela presença de Lloyd que o cenário pode mudar em favor do Hinode. O Vôlei Nestlé ainda não enfrentou esse adversário com a armadora titular dos Estados Unidos em quadra, o que implica numa mudança da marcação. Some-se a isso a oposta polonesa Kasia Skowronska em melhor forma e ainda a presença da central Thaisa, embora longe do ideal, e o time de Barueri, que conta também com a presença de Jaqueline na linha de passe, cresce.

Do outro lado, Osasco tem Tandara, uma das principais atacantes de bolas altas do mundo. Para que não fique sobrecarregada, a recepção deverá permitir que a levantadora Fabíola utilize as centrais e que a ponta peruana Angela Leyva, que tem oscilado numa frequência preocupante, seja mais efetiva. O Vôlei Nestlé teve seu melhor momento da temporada, até aqui, na Copa Brasil, quando bateu o arquirrival Sesc-RJ e quebrou uma sequência de vitórias do Dentil/Praia Clube. Ainda não rendeu tanto na Superliga. Entra na disputa das quartas de final como favorito diante do Barueri. Se o passe funcionar, tem grandes chances de avançar às semifinais.

Partidas:
Dia 11 (domingo), às 10h30, no ginásio José Liberatti, em Osasco (SP), com SporTV
Dia 17 (sábado), às 17h, no ginásio José Correa, em Barueri (SP), com SporTV
Se necessário, o terceiro jogo será em Osasco, no dia 20 (terça-feira), em horário a definir

No turno e no returno, o Fluminense não conseguiu ganhar um set do Minas (foto: Orlando Bento/MTC)

Camponesa/Minas vs. Fluminense
Uma olhada nos confrontos entre essas duas equipes na Superliga 2017/2018 e o Camponesa/Minas salta como uma parada indigesta para o Fluminense. A tradicional equipe de Belo Horizonte, terceira colocada na fase de classificação, não perdeu sets para o rival carioca (sexto lugar na tabela) no turno e no returno.

O time comandando pelo italiano Stefano Lavarini foi se ajustando ao longo da competição, como disse em entrevista ao SdR a veterana central Carol Gattaz. Recentemente, o Minas derrotou o Sesc na final do Sul-Americano. A oposta americana Destinee Hooker, que estreou com a Superliga em andamento, embora não repita as atuações da temporada passada, tem sido mais consistente nas últimas rodadas. Outra americana, a ponta Sonja Newcombe, ajudou a dar mais estabilidade ao passe, aliviando a carga da líbero Léia. Mas o grande destaque é mesmo Gattaz, que aos 36 anos vive grande fase.

Pelo Fluminense, para piorar a situação, a experiente oposta Renatinha torceu o tornozelo direito durante um treino há duas semanas e não entrará em quadra este fim de semana, segundo a assessoria de imprensa do clube. O time, que teve algumas boas atuações no primeiro turno, caiu de ritmo no segundo. É pouco provável que impeça o Minas de seguir em frente.

Partidas:
Dia 10 (sábado), às 10h30, no ginásio da Hebraica, no Rio de Janeiro, com SporTV
Dia 17 (sábado), às 15h, na Arena Minas, em Belo Horizonte, com RedeTV e GloboEsporte.com
Se necessário, o terceiro jogo será em BH, no dia 20 (terça-feira), em horário a definir

Com o Sesc enfrentando diversos problemas físicos, Bernardinho tenta equilibrar o time (Orlando Bento/MTC)

Sesc-RJ vs. Pinheiros
A equipe carioca tem oscilado como há muito não se via, mas não deve ser nessa fase que vai enfrentar grandes problemas. O duelo repete o confronto dos playoffs da temporada passada, quando esses dois times foram primeiro (Sesc) e oitavo (Pinheiros) colocados – desta vez terminaram o returno como segundo e sétimo na tabela. Nos dois confrontos na atual edição da Superliga, vitórias do Sesc por 3-1 e 3-0.

Apesar da vice-liderança na fase de classificação, o Sesc passou por momentos complicados na Superliga 2017/2018 para estruturar a equipe. Já não podia contar com a ponta Gabriela Guimarães, que se recuperava de uma cirurgia no joelho, e perdeu a outra Gabi, também ponteira, lesionada. A central Juciely ainda tenta recuperar o ritmo após uma artroscopia no joelho. A ponta dominicana Yonkaira Peña foi contratada no primeiro turno, mas suas atuações têm sido irregulares. Gabi Guimarães está de volta desde o final de dezembro, porém, assim como Juciely, aos poucos vai retomando a forma.

A oposta Monique sofreu uma lesão abdominal durante a disputa do Sul-Americano e ainda é dúvida para este fim de semana. Voltou a treinar nesta quarta-feira (7) e viaja com a equipe para São Paulo, mas deve ser poupada pelo técnico Bernardinho.

O Pinheiros cumpriu, mais uma vez, a tarefa de se classificar para o mata-mata. A principal arma do time paulistano é a oposta Bruna Honório. No entanto, falta ao Pinheiros mais consistência para encarar o Sesc, que tem tudo para fechar a série em dois jogos e marcar presença nas semifinais. A equipe carioca busca o 13º título na Superliga.

Partidas:
Dia 9 (sexta-feira), às 21h30, no ginásio Henrique Villaboim, em São Paulo, com SporTV
Dia 16 (sexta-feira), às 21h30, na Jeunesse Arena, no Rio de Janeiro, com SporTV
Se necessário, o terceiro confronto será no Rio, no dia 19 (segunda-feira), em horário a definir

Tifanny em ação contra o Praia no returno: 50% dos ataques do Bauru (Divulgação/Vôlei Bauru)

Dentil/Praia Clube vs. Vôlei Bauru
Na disputa entre o líder da fase classificatória, Praia Clube, e o oitavo colocado, Bauru, é difícil crer que o azarão possa levar a melhor. Fosse apenas um jogo, seria possível apostar numa eventual atuação destacada da oposta Tifanny, principal atacante do time do interior paulista. Porém, com a vaga na semifinal decidida em melhor de três, é improvável que a equipe do Triângulo Mineiro caia – venceu Bauru por 3-0 e 3-2 na competição.

O Praia Clube investiu pesado e fez uma campanha quase irretocável no turno e returno. Sob o comando do técnico Paulo Coco, perdeu apenas para o Sesc e no quinto set – numa partida em que poupou a central Walewska, com inflamação no joelho, e que teve a ponta Fernanda Garay, lesionada na panturrilha, no banco de reservas a maior parte do tempo. O time estará completo nas quartas de final, contando ainda com a oposta americana Nicole Fawcett e a central Fabiana.

O Bauru pode dividir sua campanha em antes e depois de Tifanny. Aliás, foi diante do Praia Clube, no segundo turno, na derrota em casa por 2-3, que ela estabeleceu o novo recorde de pontos numa partida da Superliga, 39 – marca mais tarde igualada por Tandara, do Vôlei Nestlé. Tifanny é a bola de segurança do aguerrido time bauruense e já chegou a receber 75 levantamentos num jogo – no dia em que quebrou o recorde de pontos. Os torcedores de Bauru certamente guardam essa partida na memória. Mas ao quase bater o Praia, além dos 39 pontos de Tifanny, o Vôlei Bauru não encarou Fawcett, que por causa de uma lesão na panturrilha não jogou.

Partidas:
Dia 9 (sexta-feira), às 19h, no ginásio Panela de Pressão, em Bauru (SP), com SporTV
Dia 16 (sexta-feira), às 19h, no ginásio do Praia, em Uberlândia (MG), com SporTV
Se necessário, o terceiro confronto será em Uberlândia, no dia 19 (segunda-feira), em horário a definir

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Uma nova Gattaz: aos 36 anos, ex-central da seleção vive grande fase http://saidaderede.blogosfera.uol.com.br/2018/02/15/uma-nova-gattaz-aos-36-anos-ex-central-da-selecao-vive-grande-fase/ http://saidaderede.blogosfera.uol.com.br/2018/02/15/uma-nova-gattaz-aos-36-anos-ex-central-da-selecao-vive-grande-fase/#respond Thu, 15 Feb 2018 08:00:13 +0000 http://saidaderede.blogosfera.uol.com.br/?p=11857

Carol Gattaz: “Tenho muita gratidão pelo Minas” (foto: Guilherme Cirino/Camponesa/Minas)

Sorte do vôlei que o Rio Preto Automóvel Clube não tinha time de basquete feminino naquele ano. Caroline de Oliveira Saad Gattaz ficou mesmo com o voleibol. A menina alta, então com 14 anos, sempre havia praticado esporte em sua cidade natal, São José do Rio Preto (SP). “Na escola eu jogava futebol, basquete, handebol, tudo… O vôlei era o que eu menos jogava, não me interessava muito”, conta a central Carol Gattaz, capitã do Camponesa/Minas, ao Saída de Rede.

Aos 17 anos já disputava sua primeira Superliga, pelo São Caetano (SP). Era o final de 1998, lá se vão quase 20 anos. Chegou à seleção brasileira juvenil. Mais algum tempo e, aos 22, com seu 1,92m, estreava na adulta. Duas vezes vice-campeã mundial, cinco vezes campeã do Grand Prix, três vezes campeã da Superliga, até hoje não superou o trauma de não ter participado de uma Olimpíada e perdido a chance do tão sonhado ouro. A dispensa antes dos Jogos de Pequim, em 2008, é uma ferida que não cicatriza. “O corte de Pequim foi sem dúvida o maior baque da minha vida. Até hoje eu ainda sinto muito por ter sido cortada. Tive grandes conquistas na minha carreira, mas nenhum título supre a falta do ouro olímpico”.

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Hoje, aos 36 anos, Carol Gattaz é um dos grandes nomes da Superliga. O Camponesa/Minas, diz ela, a ajudou a se reinventar. Chegou em 2014, depois de algumas temporadas em baixa, quando tudo indicava que o fim da sua carreira estava próximo. “Fui contratada em setembro quando geralmente em maio você já sabe onde vai jogar na próxima temporada”, relembra a capitã. “Tenho muita gratidão pelo Minas, por todo mundo que me acolheu”, completa.

Gattaz não desistiu da seleção, mas não é sua prioridade. “Claro que se me convocassem para o Mundial, eu aceitaria na hora. Mas também não é uma coisa que eu fique pensando, ‘ah, será que vou ser chamada?’. O meu objetivo é estar bem no clube, fazer uma boa temporada, para que na próxima eu possa fechar um contrato bom e, claro, manter a minha longevidade, que é o que eu mais quero, venho trabalhando para isso”.

Fã de Serginho e Bruno, líbero dos EUA vê Brasil forte em todos os aspectos
Histórias contadas em cliques: os fotógrafos do voleibol

A mudança na rotina inclui mais cuidado com a alimentação. Já vão longe os dias em que, nas suas palavras, “era gordinha” e chegou a ser chamada de “mão de pantufa”, vejam só. “A própria mudança pela qual meu corpo passou, com mais massa magra, ajudou a melhorar minha potência”, comenta.

Gattaz bateu um longo papo com o SdR. Falou ainda sobre Bernardinho, Zé Roberto, Tifanny, seu relacionamento com a também jogadora de vôlei Ariele Ferreira (atualmente no Hinode Barueri). Apontou as melhores centrais do País, comentou sobre as temporadas no exterior, seu jeito de liderar, seu ídolo, se pensa em parar de jogar e o que pretende fazer depois disso.

Confira a entrevista que a central concedeu ao blog:

Gattaz diz que não desistiu da seleção, mas não é sua prioridade (Guilherme Cirino/Camponesa/Minas)

Saída de Rede – Como foi o seu começo no voleibol?
Carol Gattaz –
Na escola eu jogava futebol, basquete, handebol, tudo… O vôlei era o que eu menos jogava, não me interessava muito. Eu comecei a jogar basquete pelo Automóvel Clube e também passei a praticar voleibol porque me chamaram. Quando foram inscrever o time de vôlei do clube na Federação Paulista, eu acabei optando por esse esporte porque aí eu já gostava bastante, tinha 14 anos. Também fiquei com o vôlei porque não tinha mais basquete feminino na época no clube. Aos 17 anos estava disputando minha primeira Superliga, na temporada 1998/1999, pelo São Caetano, mas era reserva, entrava pouco. Nossa, faz tanto tempo.

Saída de Rede – Carol, você sempre foi central ou chegou a jogar noutras posições nas categorias de base?
Carol Gattaz –
Joguei como ponteira ainda muito menina, mas foi uma fase bem curta, em São José do Rio Preto, quando eu era infantojuvenil. Meu negócio mesmo era ser central.

Saída de Rede – Quando foi sua primeira convocação para a seleção na base?
Carol Gattaz –
Foi no juvenil, em 1999, para o Mundial daquele ano. Fomos vice-campeãs, perdemos na final para a Rússia (0-3), a (Ekaterina) Gamova era a principal jogadora delas, já jogava bem demais, virava muita bola.
[Nota do SdR: naquela seleção brasileira jogavam também Érika Coimbra, Fernandinha e Paula Pequeno.]

Saída de Rede – No segundo semestre de 2003, quando o Zé Roberto assumiu a seleção feminina, ele te chamou. Como foi sua primeira participação na seleção adulta?
Carol Gattaz –
Eu treinei com o grupo que ia para a Copa do Mundo, mas não fui. No ano seguinte fui para o Grand Prix.

Técnico Zé Roberto conversa com Gattaz durante partida da seleção (FIVB)

Saída de Rede – Em 2005 começava um novo ciclo olímpico e você foi convocada todos os anos. Foi ao Mundial 2006, participou de quase tudo, exceto pelos cortes nas equipes que foram ao Pan, em 2007, e à Olimpíada de Pequim, em 2008. Quase dez anos depois, como é que você analisa o corte antes dos Jogos de Pequim?
Carol Gattaz –
Ainda vejo como um baque, afinal eu participei de todos os anos daquele ciclo olímpico, estive em todos os torneios importantes, só não fui ao Pan do Rio em 2007 porque eu tive um problema de saúde e perdi muito peso. O corte de Pequim foi sem dúvida o maior baque da minha vida, pra ser bem sincera. Até hoje eu ainda sinto muito por ter sido cortada. Tive grandes conquistas na minha carreira, mas nenhum título supre a falta do ouro olímpico. Claro que antes dos Jogos ninguém sabia quem ia ganhar, mas elas ganharam. Não ter esse ouro pesa muito para mim. Eu acho que não merecia ser cortada, mas foi uma decisão da comissão técnica. O grupo foi lá, ganhou o ouro. Então se era para ter feito alguma coisa certa, eles fizeram.

Saída de Rede – O Zé Roberto chegou a conversar contigo logo após o corte?
Carol Gattaz –
Nem houve conversa. Dias depois que nós ganhamos o Grand Prix foi divulgada a lista das 12 jogadoras que iam a Pequim. Eu estava na casa dos meus pais, em São José do Rio Preto. Vi a notícia e fiquei muito mal, arrasada.

Saída de Rede – Você guarda alguma mágoa do Zé Roberto pelo corte de Pequim 2008?
Carol Gattaz –
De jeito nenhum. Tenho um relacionamento muito bom com o Zé, com a família dele. Tenho gratidão pelas oportunidades que ele me deu. Eu acho que a principal qualidade de um ser humano deve ser a gratidão, pois isso faz com que você ande pra frente. Nunca tive raiva dele. Sou grata por tudo que ele me ensinou.

A central ataca durante uma partida contra os EUA no Mundial 2006 (FIVB)

Saída de Rede – No ciclo seguinte, a partir de 2009, lá estava você de novo na seleção. Como foi voltar ao time depois de não ter ido a Pequim?
Carol Gattaz –
Na temporada de clubes 2008/2009 eu fui campeã da Superliga pelo Rexona, fiz um campeonato muito bom e aquela equipe me trouxe alegria. Eu estava muito mal antes do torneio, o corte da Olimpíada tinha sido traumático. O Rexona recuperou minha vontade de vencer, voltei à seleção com bastante pique. Infelizmente, no final de 2009, início de 2010, tive uma lesão que atrapalhou muito a minha carreira, uma fascite plantar no pé direito. Fui ao Mundial 2010, de novo vice-campeã. Depois, ainda no Rexona, fiquei no banco, aí já não fui mais chamada para a seleção naquele ciclo.

Saída de Rede – Voltou à seleção em 2013 para a disputa da Copa dos Campeões, o Zé Roberto chamou veteranas como você e a Walewska. Na época, logo depois do título, você disse que estaria sempre disposta a jogar pela seleção. Aquela foi sua última convocação. Este ano você completa 37. Se vê em condições de defender a seleção, é algo que ainda quer?
Carol Gattaz –
Eu não fico pensando muito nisso porque se eu tivesse que ser chamada, ter uma oportunidade mais recente, já teria tido. Nunca vou dizer não. Eu gostei muito de jogar pela seleção e serviria ao time novamente com certeza. Quem tem que ver se ainda sou útil ou não é o Zé Roberto e a comissão técnica dele. Hoje a seleção está muito bem servida de centrais. As jogadoras dessa posição estão muito bem, se mantêm num nível forte. Claro que se me convocassem para o Mundial, eu aceitaria na hora. Mas também não é uma coisa que eu fique pensando, “ah, será que vou ser chamada?”. O meu objetivo é estar bem no clube, fazer uma boa temporada, para que na próxima eu possa fechar um contrato bom e, claro, manter a minha longevidade, que é o que eu mais quero, venho trabalhando para isso.

Gattaz vira mais uma na Superliga: central é uma das referências no Minas (Guilherme Cirino/Camponesa/Minas)

Saída de Rede – Você disse que a seleção está bem servida de centrais. Quem são as melhores da posição hoje no Brasil na sua avaliação?
Carol Gattaz –
Walewska, Fabiana, Thaisa… A Thaisa não está jogando agora, mas vai voltar logo. Sempre que penso nas melhores, nas que mais gosto de ver jogar, são essas três. Tem a Adenizia, ela joga demais. Tem a Juciely, que não está melhor no momento porque se recupera de uma lesão, isso atrapalha. Tem também a Bia e a Carol, que são mais novas e têm bastante potencial, devem se destacar por muito tempo.

Saída de Rede – Entre as centrais estrangeiras, quem chama sua atenção?
Carol Gattaz –
Olha, eu tenho acompanhado muito pouco os campeonatos internacionais, tanto de clubes quanto de seleções.

Saída de Rede – Quem foi ou quem é o seu grande modelo enquanto atleta? Há alguém em quem você se espelha, um ídolo?
Carol Gattaz –
A Walewska é a pessoa que mais me inspira, ela é uma motivação pra mim. Vejo a Wal aos 38 anos jogando em alto nível, com um físico muito bom, isso é fantástico. Ela é super disciplinada e realmente me inspira, não só como atleta, mas como pessoa também.

Bloqueando o ídolo, a também central Walewska Oliveira (Guilherme Cirino/Camponesa/Minas)

Saída de Rede – Depois daquele problema há alguns anos, a fascite plantar, você chegou a ficar no banco, teve algumas temporadas não tão boas, mas aí foi para o Minas Tênis Clube, na temporada 2014/2015, e voltou a jogar em alto nível, surpreendendo muita gente. O que foi que aconteceu para que você desse uma guinada em sua carreira?
Carol Gattaz –
Mudou tudo praticamente. É até engraçado. Primeiro, o Minas me acolheu. Eu estava sem time e fui contratada em setembro de 2014, quando geralmente em maio você já sabe onde vai jogar na próxima temporada. O time da Amil, de Campinas, tinha acabado e eu estava sem equipe, não tinha para onde ir. Estava treinando no Pinheiros na época, para manter a forma e porque eles abriram as portas para que eu tentasse conseguir um patrocinador. De repente, pintou o convite do Minas. Eu topei e acho que foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida.

Saída de Rede – Por quê?
Carol Gattaz –
Aqui no Minas eu me encontrei, não só como atleta, mas houve algo fantástico na minha vida pessoal também e tudo mudou para melhor. Eu me tornei mais madura, me sinto outra pessoa, outra jogadora. Sou muito mais calma em quadra, sei aproveitar minha experiência. Hoje eu gostaria de estar na seleção porque sei que poderia contribuir, por estar bem fisicamente e por tudo que acumulei, tudo que entendo de jogar vôlei. O que pesou muito em todas essas mudanças é que eu encontrei o amor da minha vida, né. Tenho muita gratidão pelo Minas, por todo mundo que me acolheu. Por ter encontrado a Ariele, que me deu tranquilidade. Nós duas temos muita cumplicidade, muito amor uma pela outra, muito respeito. Isso tudo me deixa muito mais calma dentro de quadra. A Ariele me deu uma paz, uma tranquilidade que eu precisava. Eu devo muito a ela… Essa minha maturidade, essa vontade de jogar. Ela me deu um gás a mais.

Carol com a esposa, a ponteira Ariele Ferreira, do Hinode Barueri (Reprodução/Instagram)

Saída de Rede – Mas houve alteração na sua rotina de treinos, no modo de se cuidar para melhorar seu desempenho?
Carol Gattaz –
Fiz mudanças na minha alimentação, no cuidado com o meu corpo, dou mais atenção ao meu descanso. Isso tudo é reflexo do meu amadurecimento. Antes eu gostava muito de sair, ir pra balada… Não que eu não goste mais, mas agora eu saio com uma frequência muito menor. Hoje eu descanso mais, sei que meu corpo precisa. Não que fosse largada antes, sempre ralei, me cuidei, mas acho que se eu tivesse a postura que tenho hoje desde os meus 19 anos, por exemplo, eu teria aprendido algumas coisas mais cedo, coisas que aprendi muito tarde. Eu estou colhendo os frutos somente agora. Só fui tomar suplementos, que são importantes, em 2013 quando eu jogava pelo Amil. São coisas que te ajudam a se recuperar mais rápido. Quanto antes você começa, seu corpo responde melhor. Aí você constrói um corpo melhor.

Saída de Rede – Na época de juvenil você estava acima do peso ideal. O quanto isso te incomodava?
Carol Gattaz –
Muito, muito, muito… Eu pesava 90 quilos, hoje eu peso 78 e minha taxa de gordura é baixíssima. Antes eu pesava 90 e minha taxa de gordura devia ser sei lá quanto. Eu era gordinha, sabe, meu quadril, minhas coxas, minha barriga… Se naquela época eu tivesse a cabeça que tenho agora e o acompanhamento necessário, teria mudado antes, com certeza. Lá pelos 21 anos foi que comecei a emagrecer. Em 2003, quando cheguei à seleção adulta, aos 22 anos, já estava bem mais leve, mas ainda não era o ideal, que é o que tenho hoje.

Com Ariele, as duas irmãs e a mãe, em São José do Rio Preto. As irmãs, ambas mais novas e com 1,81m, nunca tiveram interesse pelo esporte, segundo Carol Gattaz (acervo pessoal)

Saída de Rede – Você jogou duas temporadas no exterior, uma na Itália (2007/2008) pelo Monte Schiavo Jesi e outra, interrompida, no Azerbaijão (2012) pelo Igtisadchi Baku. Por que não seguiu na Itália e o que houve no Azerbaijão?
Carol Gattaz –
Meu ano na Itália não foi bom, acabei não fazendo um bom campeonato. Recebi um convite do Rexona para a temporada seguinte e decidi voltar. O time no Azerbaijão foi o mesmo em que a Fernandinha tinha jogado. Ela havia me avisado que o clube era problemático. Tive alguns problemas burocráticos, mas estava bem fisicamente. Só que eles foram antiprofissionais. Não os processei porque o meu empresário disse que seria difícil ganhar um processo contra eles lá. Recebi o equivalente pelo mês que fiquei e voltei para o Brasil. Depois disso fiquei sem time o restante da temporada. Preferi ficar sem porque já era dezembro quando voltei, e se esperasse acabar a temporada na próxima estaria zerada. Na época eu ainda tinha a pontuação do ranking. No ano seguinte fui contratada pelo Amil.

Saída de Rede – De uns anos para cá, é possível ver que o seu ataque está mais potente. Como é que você melhorou seu desempenho?
Carol Gattaz –
Sempre fui habilidosa, mas não tinha força. Então muitas vezes eu virava bola porque sabia tirar do bloqueio ou então explorava. Diziam que eu tinha mão de pantufa, que não sabia atacar com força. A própria mudança pela qual meu corpo passou, com mais massa magra, ajudou a melhorar minha potência. Claro que eu me valho da minha técnica, nunca vou ser aquela jogadora com muita explosão, mas hoje em dia bato bem mais forte do que quando era mais nova.

Gattaz: “Hoje eu gostaria de estar na seleção porque sei que poderia contribuir” (FIVB)

Saída de Rede – Desde o juvenil você sempre se destacou como bloqueadora, mas no ataque te viam durante muito tempo como alguém que ficava restrita a duas jogadas, o tempo atrás e principalmente a china. Você tinha dificuldade em atacar pelo meio?
Carol Gattaz –
A minha china sempre foi muito melhor do que os ataques pela frente, como o tempo ou a chutada, e essas minhas bolas não eram boas mesmo. Como a china era muito boa e as da frente eram bem medianas, ninguém queria que eu atacasse pela frente. Aí acabava atacando só por trás da levantadora, o tempo atrás e a china. No Rexona eu passei a treinar bastante com o Bernardinho os ataques na frente, batendo pelo meio. Ele acreditava muito em mim, que eu poderia atacar por ali. Então eu comecei a melhorar essa bola. O Bernardo ficava um tempão comigo no caixote, treinando muito. Como naquela época eu fazia rede de 3 (Fabiana fazia a de 2), eu tinha que atacar pela frente. Eu melhorei demais. O meu percentual de aproveitamento nos ataques pelo meio é bem parecido com os feitos por trás. Claro, tem menos marcação, eu não faço tanto.

Saída de Rede – Ao chegar no Minas, para o período 2014/2015, você se alternava com a Walewska nas redes de 2 e de 3. A partir da temporada seguinte, com a saída dela, você tem feito sempre a de 2, quer dizer, tem um trabalho mais pesado como bloqueadora, que é não apenas cobrir a diagonal, mas também ajudar a levantadora a reduzir o espaço da atacante. Com o voleibol cada vez mais rápido, como é fazer a rede de 2?
Carol Gattaz –
O bloqueio da levantadora é bem menor e para ajudá-la é bastante complicado (ela faz apenas uma passagem com a oposta na rede). Imagina, a central tem que chegar, precisa fechar o meio, cobrindo também a diagonal. A gente tenta o máximo, faz muito esforço. Você também combina a marcação com a defesa, “vou fechar um pouco mais lá e vocês defendem mais aqui” ou então “vou deixar esse espaço aberto, fiquem atentas ali”. Tem que combinar o tempo todo com a defesa porque os jogos estão muito rápidos e isso tem tornado cada vez mais difícil bloquear. A defesa tem que trabalhar bastante. Claro que as bloqueadoras devem pelo menos tocar na bola, mas é bem complicado numa rede de 2 chegar montada no bloqueio.

A meio de rede diz que gostaria de ajudar mais o time (Orlando Bento/MTC)

Saída de Rede – Carol, você tem recebido muitos elogios, se mantém há várias rodadas entre as atacantes com melhor aproveitamento na Superliga. Que avaliação faz das suas atuações esta temporada?
Carol Gattaz –
Olha, meu jogo tá fluindo, venho tentando colocar em prática o que a comissão técnica pede. Porém, uma lesão no joelho esquerdo tem me acompanhado e sou muito exigente comigo mesma. Não estou conseguindo cumprir meus objetivos que são treinar todos os dias e ajudar mais a equipe. Muitas vezes tenho que ficar fora de treino para poder jogar. Claro que tenho conseguido dar o meu melhor dentro de quadra, mas ao mesmo tempo essa lesão está me incomodando muito. Se não tivesse esse problema, eu poderia estar melhor do que estou. Estou satisfeita, mas não totalmente porque poderia render ainda mais.

Saída de Rede – Qual é a lesão no seu joelho esquerdo?
Carol Gattaz –
Tenho tendinite patelar.

Saída de Rede – Recentemente a ponteira Gabriela Guimarães, do Sesc, passou por isso e se submeteu a uma cirurgia. Isso vai ser necessário no seu caso?
Carol Gattaz –
Não, o meu caso não é cirúrgico, já foi avaliado pelos médicos. Eu vou tentar outro tipo de intervenção, mas isso somente depois do final da temporada porque eu não quero ficar de fora, preciso ajudar o meu time na Superliga. Estamos bem perto dos playoffs e eu não posso ficar parada, não me dou esse direito. Estou jogando à base de remédios, mas vou dar o meu máximo para ir até o final da Superliga. Quando acabar, faço o que tiver de fazer para voltar 100% na próxima temporada.

Carol no ataque na semifinal da Superliga 2016/2017, decidida no último jogo da série (Orlando Bento/MTC)

Saída de Rede – Até onde você acha que o Camponesa/Minas pode chegar nesta Superliga? No ano passado vocês surpreenderam, levaram a série semifinal contra o então Rexona Sesc até o quinto jogo, quase foram à final. O que esperar do time desta vez?
Carol Gattaz –
A gente perdeu a Jaqueline, mas a Pri Daroit vem jogando bem. Por causa de algumas lesões e também porque a Hooker chegou um pouco depois, o time está se encaixando agora. O chato é que perdemos muitos jogos que não poderíamos ter perdido. Mas a equipe tem todas as condições de chegar a uma final e brigar pelo título. Claro que vários adversários são muito fortes, essa tem sido talvez a Superliga mais equilibrada de todas. Não há um favorito disparado. O Praia Clube, que está invicto no torneio, perdeu de 3-0 para o Vôlei Nestlé na Copa Brasil. Não tem nada definido.
[Nota do SdR: o Minas está em terceiro na classificação, com um ponto a mais do que o quarto colocado, Vôlei Nestlé, que tem uma partida a menos.]

Saída de Rede – Você teve a chance de trabalhar com os dois técnicos que são os mais vitoriosos da história do voleibol brasileiro, duas referências no mundo todo, Bernardinho e Zé Roberto. Tem um preferido?
Carol Gattaz –
Eu tenho, mas não vou contar (risos). São dois técnicos espetaculares, perfeccionistas, dois seres humanos incríveis, cada um com suas características, suas qualidades, seus defeitos. Eu tive o privilégio de trabalhar não apenas com eles, mas com outros grandes técnicos, como o Paulo Coco e o Luizomar de Moura, pessoas por quem tenho muito respeito. Fui treinada pelo Hairton Cabral, que é outro profissional sensacional, um cara fantástico. Todos eles ajudaram a criar essa bagagem que eu tenho.

Oposta Tifanny, do Bauru, tira foto com fã após partida contra o Minas (Guilherme Cirino/Camponesa/Minas)

Saída de Rede – Você já enfrentou a Tifanny, do Bauru, a primeira transexual da história da Superliga. Como você vê a participação dela?
Carol Gattaz –
Ela foi liberada para jogar. As pessoas discutem se ela pode, se não pode… Isso não cabe a nós jogadoras decidir, mas às entidades que regem o esporte. Claro que isso foi estudado e deve seguir sendo avaliado porque ela é uma pioneira. O importante é que a definição seja boa para o esporte e para as atletas, afinal isso é a nossa vida, nossa carreira. Mas é importante também que a Tifanny não seja prejudicada. Espero que isso possa ser resolvido da melhor maneira.

Saída de Rede – Depois que você expôs na mídia seu relacionamento com a Ariele, em 2016, sentiu alguma mudança de tratamento? Houve alguma hostilidade?
Carol Gattaz –
Nos tratam de uma maneira quase sempre positiva, há até quem nos agradeça por mostrarmos que somos um casal como qualquer outro, duas pessoas que se amam. E nós duas levamos nosso relacionamento adiante de uma forma muito leve, não queremos chocar ninguém, não queremos levantar bandeira nenhuma. O que nós queremos é ser felizes. Não importa se o relacionamento é entre um homem e uma mulher, entre dois homens ou entre duas mulheres, as pessoas têm que ser felizes.

Gattaz salva bola com o pé, observada por Hooker e Mara (Orlando Bento/MTC)

Saída de Rede – Com toda a bagagem que você acumulou e sendo a capitã do Camponesa/Minas, você se preocupa em dividir isso com as jogadoras mais novas?
Carol Gattaz –
Eu gosto de ser líder, mas procuro dar exemplo pelas minhas ações, não sou muito de falar. Não sou aquele tipo de atleta veterana que senta ao lado de uma juvenil e que fica um tempão batendo papo, eu prefiro ir pra quadra e mostrar jogando o que eu quero que ela entenda. Às vezes, na academia, eu quero que elas vejam que eu estou ali ralando, pegando pesado porque isso é importante. Comigo não tem tempo ruim, não faço corpo mole. Eu gostaria de ser mais didática, mas não é o meu perfil.

Saída de Rede – Você já pensou quando vai parar e o que vai fazer depois que deixar de jogar?
Carol Gattaz –
Eu amo jogar vôlei. Fico triste quando penso que não vou poder jogar muitos anos mais, que é o que eu gostaria, pois o corpo vai pedir para parar um dia. Agora que eu estou aprendendo caminhos que me facilitam jogar, eu penso “por que não aprendi isso há dez anos?”. Nunca estabeleci um prazo para parar, quero jogar enquanto eu tiver lugar em um time competitivo, que possa brigar por um lugar na parte de cima da tabela. Ainda não pensei o que vou fazer quando parar de jogar, mas vai ter que ser algo que eu goste.

Saída de Rede – Sem ter didática, seguir a carreira de técnica não é algo que passe pela sua cabeça, certo?
Carol Gattaz –
Deus me livre! Não quero isso pra mim nunca, não é uma coisa que me empolgue (risos). Eu gostaria de aprender a trabalhar nos bastidores, com gestão esportiva, acho que poderia contribuir bastante.

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Histórias contadas em cliques: os fotógrafos do vôlei http://saidaderede.blogosfera.uol.com.br/2018/01/05/historias-contadas-em-cliques-os-fotografos-do-volei/ http://saidaderede.blogosfera.uol.com.br/2018/01/05/historias-contadas-em-cliques-os-fotografos-do-volei/#respond Fri, 05 Jan 2018 08:00:31 +0000 http://saidaderede.blogosfera.uol.com.br/?p=11143

A MVP de Pequim 2008, Paula Pequeno, comemora um ponto, em momento eternizado por Wander Roberto

Nenhum brasileiro que goste de vôlei fica indiferente à imagem acima. Mesmo que não tivesse nenhuma legenda, o fã da modalidade a associaria àquele que é um dos momentos mais sublimes do voleibol brasileiro: a conquista do primeiro ouro olímpico da seleção feminina. A comemoração de um ponto pela MVP de Pequim 2008, Paula Pequeno, captada pela lente do fotógrafo Wander Roberto, é icônica – remete, por meio da alegria da melhor jogadora do torneio, a um triunfo que mudou a história do vôlei feminino do Brasil. É a força da fotografia. Sem ela, a notícia perde impacto.

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À beira da quadra, em alerta, à espera do momento ideal, até mesmo colocando o equipamento em risco ou podendo ser atingido por uma bolada, os fotógrafos estão na linha de frente na cobertura do voleibol. Enquanto os repórteres estão mais atrás, instalados numa bancada, e as equipes de TV muitas vezes narram do estúdio, os profissionais da fotografia ficam logo ali, bem perto da ação. Em geral, nos grandes torneios, eles carregam de duas a três câmeras, levando de seis a oito lentes, além de um laptop – o peso disso tudo fica em torno de 20 quilos.

Desafios da atividade, situações engraçadas, perrengues, laços com algumas equipes, ginásios favoritos, laptops destruídos, um quase nocaute e até caso de polícia… O Saída de Rede conversou com profissionais da Europa, dos Estados Unidos e do Brasil, e traz, além de imagens selecionadas por eles, histórias de quem fotografa o que há de melhor no voleibol indoor.

A bola congelada sobre a rede em foto de Nenad Negovanovic

Luz
A primeira coisa que qualquer fotógrafo verifica em um ginásio é a luz. “Se a iluminação é boa, você coloca em prática toda sua criatividade”, diz a fotógrafa alemã Conny Kurth, considerada uma das melhores do mundo na cobertura da modalidade e que vai aos principais torneios como profissional da Federação Internacional de Vôlei (FIVB) desde 2009. Ela é uma das poucas mulheres que fotografam as grandes competições.

Mas tanto aqui quanto lá fora, a reclamação sobre a qualidade da iluminação nos ginásios é comum. “Quase sempre a luz é ruim”, comenta o americano Matt Brown, que cobre diversos esportes ao redor do mundo e faz fotos para a revista Sports Illustrated. “A falta de luz ideal nos nossos ginásios é a principal dificuldade que enfrentamos hoje. Somente quando há grandes torneios internacionais, como Liga Mundial, Jogos Pan-Americanos ou Jogos Olímpicos, é que encontramos as condições perfeitas para o nosso trabalho”, lamenta Wander Roberto. “Com a luz você consegue congelar e dar mais nitidez​ nas fotos de jogadas”, explica o colega Márcio Rodrigues.

A alegria de Camila Brait e Fernanda Garay, na lente de Conny Kurth, durante o Mundial 2014

Ambiente
A atmosfera do ginásio é outro fator decisivo. O nível das fotos não depende somente do que se passa dentro da quadra. “Sem um ambiente legal, agitado, arena pelo menos quase cheia, fica difícil produzir um material que seja marcante. Aí o profissional tem que apelar para outros recursos, fechar as imagens, para não entregar algo ruim”, afirma o sérvio Nenad Negovanovic, outra referência entre os fotógrafos que cobrem voleibol, também a serviço da FIVB, a exemplo da Conny.

“Quanto maior o número de torcedores, mais bonitas ficam as fotos”, diz Guilherme Cirino, que em 2017 cobriu as finais da Superliga e da Liga Mundial para o SdR. “Eu adoro fotografar em ginásios cheios. Isso gera melhores fotos não apenas como fundo para as ações, mas também por injetar ânimo na partida”, observa o americano Daniel Bartel, que acompanha a seleção masculina do país dele. “Mesmo que a jogada seja linda, cadeiras vazias ao fundo matam uma foto, fica muito feio”, completa Conny Kurth.

De cima para baixo, da esquerda para a direita: Matt Brown, Bartek Muszynski, Nenad Negovanovic, Orlando Bento, Conny Kurth, Daniel Bartel, Wander Roberto, Márcio Rodrigues e Guilherme Cirino (arquivo pessoal)

Desafios
É complicado produzir boas fotos de voleibol? “O vôlei indoor é um dos esportes mais desafiadores para se fotografar. É um jogo com movimentos muito rápidos. Existem várias dificuldades que vão desde a iluminação insuficiente na maioria das arenas até a rede atrapalhando o foco. A alta velocidade da bola exige muito de você. É realmente complicado obter uma foto razoável no vôlei”, opina Márcio Rodrigues. Para ele, a modalidade tira qualquer fotógrafo esportivo experiente da zona de conforto. “Não conheço um profissional que diga que fotografar um jogo de vôlei seja moleza”.

A repetição constante das ações é uma vantagem, ressalta Conny Kurth. “Você não precisa esperar tanto por um momento, que talvez até não venha, como é o caso do gol no futebol”, pondera a alemã, que cobre essa outra modalidade em seu país. A velocidade das jogadas é um aspecto que dificulta o trabalho, diz ela, em consonância com o colega brasileiro.

Márcio Rodrigues aproveita a luz do ginásio em Zurique, em partida do Mundial de Clubes Feminino 2013

Profissão: perigo
Se até o torcedor, em ginásios menores, está sujeito a ser acertado pela bola, imagine os fotógrafos e seu material de trabalho. “Já levei bolada durante aquecimento, mas nunca tive equipamento danificado. Insisto em dizer que o fotógrafo deve proteger primeiro o equipamento. Dor física passa logo, já a dor no bolso, por ter uma lente ou máquina quebrada, demora muito mais. Às vezes demora 12 parcelas, é bem pior”, brinca Wander Roberto, veterano de quatro Olimpíadas, começando em Atenas 2004.

Alguns têm menos sorte. É o caso do Márcio Rodrigues. “Tive meu equipamento roubado cobrindo o Mundial de Clubes Feminino, em 2013, em Zurique. Acho que sou a única pessoa que sofreu furto na Suíça (risos). Nunca fui roubado no Brasil. Uma ironia que me custou mais de 10 mil dólares”.

Em sincronia, como mostra Guilherme Cirino, jogadores brasileiros aguardam o resultado do video check

Sabe o Guilherme Cirino, parceiro do SdR? Quase foi nocauteado. Cobria uma partida da Superliga no Ginásio do Riacho, em Contagem (MG), no ano passado. Durante o aquecimento, enquanto ajustava o equipamento, levou uma bolada no rosto depois de uma cortada do ponteiro Yoandy Leal, do Sada Cruzeiro. “Nossa, como doeu. Fiquei zonzo”, relembra Guilherme.

O polonês Bartek Muszynski, que cobriu em 2017 para o SdR o Europeu de seleções e o Mundial de clubes, ambos masculinos, escapou por pouco de Yoandy Leal. “Eu trocava de lente no primeiro set da semifinal entre Zenit e Sada, quando vi o Leal correndo na minha direção. Foi aquele lance em que ele acertou uma câmera de TV. Eu estava ao lado e consegui me afastar”.

Daniel Bartel conseguiu essa foto fantástica de Max Holt no aquecimento

Matt Brown diz que já teve equipamento danificado. “Mas não foi por descuido. É que às vezes, para fazer aquela foto que acha que vai ser especial, você corre alguns riscos”.

Nenad Negovanovic faz piada com seu prejuízo. “Voleibol é um esporte muito perigoso para laptops. Já perdi dois, completamente destruídos. Nem lembro quem foi, só da minha raiva mesmo”. Sua colega Conny já perdeu um também graças a um ataque do italiano Alessandro Fei, durante uma partida da Champions League.

“Já derrubei lente ou câmera correndo ao redor da quadra para pegar um lugar melhor, já fui atingido por vários jogadores, mas ainda bem que nunca aconteceu nada mais sério”, conta Daniel Bartel. “Uma vez, me equilibrei em cima de uma passarela velha, nada segura, no teto de um ginásio na cidade de Dallas. Tudo isso para fazer uma foto que eu queria muito”, acrescenta.

Efeito de luz e sombra na largada da atleta universitária nos EUA, momento captado com sutileza por Matt Brown

A rede e os levantadores
Além da luz, do ambiente, da velocidade do jogo, os fotógrafos precisam lidar ainda com dois importantes fatores: a borda superior da rede e os levantadores. “A parte de cima da rede cortando o rosto é recorrente. Se as fintas enganam o bloqueio adversário, imagine quanto aos fotógrafos. Sou enganado o tempo todo. O ideal é acompanhar os treinamentos do time e conhecer as principais jogadas. Tudo isso faz parte do desafio da fotografia no voleibol”, comenta Márcio Rodrigues.

O sérvio Nenad endossa: “De vez em quando caio na finta dos levantadores. Me preparo para clicar uma jogada e sai outra, aí perco o lance”. Como ele cobre torneios mundo afora, pergunto quem são os que fintam melhor. Ele desconversa. “Tem muito levantador bom, mas quem me enganou mais foi meu jogador favorito, Nikola Grbic”, afirma, citando um compatriota, atualmente técnico da seleção masculina da Sérvia.

Para Orlando Bento, fotógrafo do Minas Tênis Clube, a borda superior da rede é um dos itens que mais estragam um clique. “Precisamos ficar atentos para que o atacante ou o bloqueador não tenham o rosto coberto pela fita”.

Destinee Hooker celebra um ponto com Rosamaria, em foto de Orlando Bento

“Desce daí agora”
Você já sacou que vida de fotógrafo é difícil. Agora, imagine quase ir parar numa delegacia de polícia. Aconteceu com a Conny Kurth, no Mundial feminino 2014.

“Eu estava trabalhando na cidade de Trieste. O ginásio era muito bom e havia chance de subir no teto para fotografar, algo que eu simplesmente adoro. Era por meio de uma passarela, mas tinha que ser na companhia de um funcionário do local e vestindo um equipamento de segurança. Fui lá várias vezes na primeira rodada. No segundo dia, como não encontrei ninguém do ginásio que pudesse me acompanhar, resolvi subir sozinha e sem o equipamento de segurança. É claro que me viram. A polícia foi chamada e subiu até lá para me buscar. Veio a ordem aos berros: ‘Desce daí agora’. Pediram minha identidade, queriam me levar com eles. O jogo rolando. Até que alguém da organização do Mundial apareceu e conseguiu me liberar”, conta a simpática alemã. Ela não subiu mais no teto do ginásio em Trieste.

Russos correm para a quadra para comemorar o ouro no Europeu 2017, imagem de Bartek Muszynski

Emoção
Porém, nem só de perrengues, boladas e equipamentos danificados vivem esses profissionais. Cobrindo voleibol desde 2002, Nenad Negovanovic diz que um dos momentos mais emocionantes da sua carreira foi durante a Rio 2016. “Ver o Maracanãzinho em peso apoiar a seleção feminina da Sérvia na semifinal e na final foi algo especial”.

Wander Roberto sofreu ao trabalhar na cobertura da semifinal feminina em Atenas 2004 entre Brasil e Rússia, aquela da fatídica virada, em que o time de José Roberto Guimarães desperdiçou sete match points. Para compensar, três dias depois viu a seleção masculina conquistar o ouro sobre os italianos.

Ele grita, gesticula, puxa a camisa, parece que vai morder a bola, mas Conny Kurth esperou até conseguir um olhar que exprimisse toda a tensão de Bernardinho contra a França, na semifinal do Mundial 2014

Márcio Rodrigues acompanhou o primeiro título de Bernardinho com a seleção masculina. “Na Liga Mundial 2001, eu era o fotógrafo oficial da seleção, que foi campeã na Polônia. Foi um privilégio ver de perto aquela equipe, era uma galera muito gente boa, tanto no time quanto na comissão técnica”. Ele lamenta não ter guardado fotos da época.

Ex-jogadora (“com apenas 1,70m e pouco talento não passei da terceira divisão alemã”), amiga de grande parte dos atletas das seleções do seu país, Conny Kurth foi às lágrimas quando viu o oposto Georg Grozer aos prantos, depois de garantir a classificação para Londres 2012 – ir aos Jogos Olímpicos era um sonho antigo do atacante. “Tratei de esconder meu choro atrás da câmera, enquanto fotografava ele e o (Jochen) Schöps. Eu acompanho as seleções alemãs há tantos anos, conheço a maioria deles desde as categorias de base. O bronze no Mundial masculino 2014 foi outro momento especial”, recorda Conny, que começou a cobrir o vôlei como repórter em 2002, tornando-se fotógrafa quatro anos depois.

O oposto sérvio Ivan Miljkovic explode de alegria após vencer a Polônia na semifinal da Liga Mundial 2005, num clique de Nenad Negovanovic

Ginásios favoritos
Preocupados com a luz, a atmosfera e obviamente com a qualidade da conexão de internet para transmitir as fotos, alguns profissionais apontam seus locais favoritos de trabalho. E há quem se apegue a determinadas arenas.

“Aqui no Brasil, os melhores são a Jeunesse Arena, no Rio, o José Liberatti, em Osasco, e o ginásio do Minas Tênis Clube, em Belo Horizonte”, afirma Wander Roberto.

O saque de Wallace pelo Taubaté e a tensão da torcida do Sesi, numa foto excepcional de Wander Roberto, que tirou proveito do contraste de cores

“Eu tenho meu top 3: o Ginásio Metropolitano, em Tóquio, a Spodek Arena, em Katowice (Polônia), e o PalaLottomatica, em Roma. O design e a luz daquele ginásio antigo no Japão são incríveis, eu amo aquilo. Na Spodek e no PalaLottomatica é a atmosfera que é diferente, são lugares com muita história. Acho chatas essas arenas novas, que parecem todas iguais e não têm charme. O Maracanãzinho, no Rio, me lembra os ginásios de Katowice e de Roma, carrega muita história”, conta Conny Kurth.

Bartek Muszynski destaca a luz e os traços da moderna Tauron Arena, em Cracóvia, na Polônia – o ginásio foi construído para o Mundial masculino 2014.

Para Márcio Rodrigues, o Maracanãzinho, palco do voleibol na Rio 2016, entre outros grandes eventos da modalidade, que incluem três finais da Liga Mundial (1995, 2008 e 2015), o vôlei no Pan 2007 e os Mundiais 1960 e 1990, é espetacular. “Tem também o Nilson Nélson, em Brasília, que é legal, e ainda a Jeunesse Arena, no Rio”, lista o fotógrafo. “A Spodek, em Katowice, é um ícone”, completa Márcio, derretendo-se pelo antigo ginásio em forma de disco voador (Spodek significa disco em polonês), inaugurado em 1971.

Confira mais alguns cliques desses profissionais:

Fabi recebe um saque, em imagem de Wander Roberto

Nenad Negovanovic mostra Popovic e Boskovic sorrindo no pódio com a medalha de prata na Rio 2016

Márcio Rodrigues captou a plasticidade do saque de Sarah Pavan em um ângulo inusitado

Os EUA derrotam o Brasil na Rio 2016 e o ponta Aaron Russell manda o Maracanãzinho calar a boca, num flagrante de Guilherme Cirino

Conny Kurth transmite a preocupação de Zé Roberto durante a semifinal contra os EUA no Mundial 2014

Jaqueline flutua contra as turcas, em outra foto de Conny Kurth no Mundial 2014

Mais uma da Conny: a alemã Christiane Fürst, melhor bloqueadora dos Mundiais 2006 e 2010

O oposto americano Clayton Stanley em ação contra Cuba, numa linda imagem de Matt Brown

Daniel Bartel aproveitou o canhão de luz na entrada dos atletas em quadra para fazer esta excelente foto de Benjamin Patch

Atletas do Sada Cruzeiro extravasam logo após a conquista da Superliga 2016/2017, foto de Guilherme Cirino

William, Serginho e Lipe emocionados com o ouro no pódio da Rio 2016, num momento captado por Conny Kurth

Conny também fez essa imagem da alegria chinesa logo após a conquista do ouro sobre a Sérvia na Rio 2016

Carol Gattaz salva a bola com o pé, observada por Hooker e Mara, num clique de Orlando Bento

Os porto-riquenhos celebram um ponto, em foto de Matt Brown

Aqui os americanos comemorando, num instante mostrado por Daniel Bartel

Que foto do Lucarelli! Outra do Daniel Bartel

Mais uma do Daniel: o americano Matt Anderson no aquecimento

Tandara marca e comemora com Nati Martins, instante clicado por Wander Roberto

Murilo Endres no saque em Pequim 2008, em foto de Wander Roberto

Lanza salva a bola, mas Guilherme Cirino conseguiu uma imagem diferente ao focar na tensão da torcida

O então Rexona Ades pouco antes de entrar em quadra, numa imagem de Márcio Rodrigues

O polonês Michal Kubiak durante aquecimento na Copa do Mundo 2015, numa foto de Conny Kurth

Conny também fotografou o peixinho do argentino Javier Filardi na Liga Mundial 2014

León (Zenit) não dá chance a Sokolov (Civitanova), como mostrou Bartek Muszynski na final do Mundial de Clubes 2017

Felipe Roque no ataque e o fotógrafo Orlando Bento conseguiu essa imagem

O simples pode ser bonito, ensina Matt Brown, que fez essa foto durante um ataque sem muito alcance numa partida entre Porto Rico e República Dominicana

Será que foi ace? A linha de passe polonesa, com Michal Kubiak, Pawel Zatorski, Mateusz Mika, de olho na bola, num clique de Daniel Bartel

Bruno Rezende e Maurício Borges comemoram ponto, em mais uma foto de Daniel Bartel

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Skowronska deve estrear no Hinode Barueri na próxima semana http://saidaderede.blogosfera.uol.com.br/2017/10/27/skowronska-deve-estrear-no-hinode-barueri-na-proxima-semana/ http://saidaderede.blogosfera.uol.com.br/2017/10/27/skowronska-deve-estrear-no-hinode-barueri-na-proxima-semana/#respond Fri, 27 Oct 2017 14:00:14 +0000 http://saidaderede.blogosfera.uol.com.br/?p=9938

Zé Roberto sobre a oposta polonesa: “Ela tem evoluído a cada treino” (Reprodução/Internet)

Após chegar ao Brasil no início desta semana, passar a treinar com o Hinode Barueri e de ter sua contratação oficialmente anunciada pelo técnico José Roberto Guimarães nesta quinta-feira (26), a oposta polonesa Kasia Skowronska poderá entrar em quadra mais cedo do que o torcedor espera. “Acredito que a recuperação será rápida e acho que na próxima semana ela já vai estar entre as 14 relacionadas”, afirmou Zé Roberto ao Saída de Rede. Antes de chegada da atacante de 34 anos, 1,89m, o treinador acreditava que ela só estaria em condições de jogo no final de novembro. “Ela tem evoluído a cada treino e tem se cuidado muito em relação a parte física”, completou o tricampeão olímpico.

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A oposta já foi treinada por Zé Roberto no Pesaro, da Itália, e no Fenerbahçe, da Turquia. Além de tê-la como atleta em clubes europeus, ele tentou trazê-la para jogar no Brasil quando era técnico do Amil, em Campinas, mas não foi possível por causa do alto valor pedido pela jogadora em 2013. Na temporada passada, Skowronska estava novamente na Itália, jogando pelo Bergamo, mas se machucou em janeiro, durante uma partida contra o Scandicci. Era a maior pontuadora do seu clube e uma das cinco maiores da liga italiana. Ela retornou então imediatamente à Polônia, para se submeter a uma cirurgia. Desde então vem se submetendo a sessões de fisioterapia. Mais recentemente, ela passou a fazer também musculação.

Edinara é um dos destaques do time de Barueri (foto: Gaspar Nóbrega/Hinode/Inovafoto)

EDINARA E THAISA
Como a atacante polonesa vai precisar de tempo até que tenha ritmo para ser titular, Zé Roberto disse que vai manter a ponta/oposta Edinara na saída, mas que futuramente será deslocada para a entrada. “No caso da Edinara é muito importante que ela jogue nas duas posições. Para mim, é essencial ter várias opções”, comentou o técnico.

Sobre a central bicampeã olímpica Thaisa, Zé Roberto afirmou que espera contar com ela no Hinode Barueri para esta edição da Superliga, mas enfatiza que a prioridade é a recuperação da jogadora. “A lesão foi muito grave, espero que nós consigamos recuperá-la, isso é que é o mais importante. Ela é essencial não apenas no Hinode, mas também na seleção”. Em abril deste ano, Thaisa sofreu uma lesão nos ligamentos do tornozelo direito, durante uma partida da Champions League pelo Eczacıbasi, seu clube na Turquia, que a liberou para fazer sua recuperação no Brasil. A meio de rede vem fazendo seu tratamento nas instalações do clube em Barueri. A previsão é de que retorne às quadras em janeiro.

O clube conta com outra bicampeã olímpica, a ponteira Jaqueline, que vem ganhando ritmo e já jogou nas duas primeiras rodadas da Superliga 2017/2018.

O time acumula duas derrotas na competição, mas enfrentou adversários que estão entre os favoritos – primeiro perdeu por 1-3 para o Vôlei Nestlé, depois resistiu até o quinto set diante do atual campeão, caindo por 2-3 contra o Sesc RJ. Logo mais, nesta sexta-feira (27), às 19h (horário de Brasília), pela terceira rodada, a equipe de Zé Roberto enfrenta o Sesi, em Santo André (SP). Na semana que vem, o Barueri terá apenas uma partida, quando o torcedor poderá ter a chance de ver Skowronska. Será em casa, diante do Renata Valinhos/Country, na quinta-feira (2), às 19h30.

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Apesar da derrota na estreia, Jaqueline avisa: “Podemos surpreender” http://saidaderede.blogosfera.uol.com.br/2017/10/18/apesar-da-derrota-na-estreia-jaqueline-avisa-podemos-surpreender/ http://saidaderede.blogosfera.uol.com.br/2017/10/18/apesar-da-derrota-na-estreia-jaqueline-avisa-podemos-surpreender/#respond Wed, 18 Oct 2017 02:00:08 +0000 http://saidaderede.blogosfera.uol.com.br/?p=9816

A ponteira acredita em título: “Podemos levar essa equipe muito além” (fotos: Gaspar Nóbrega/Hinode/Inovafoto)

A estreia não foi exatamente como Jaqueline Carvalho Endres queria, mas a Superliga 2017/2018 está apenas começando. Confirmada na segunda-feira (16) como reforço do Hinode Barueri, a veterana ponta de 33 anos, 1,86m, estreou na noite desta terça-feira, na primeira rodada do torneio, em casa, na derrota por 3-1 (25-17, 23-25, 25-20, 25-17) para o Vôlei Nestlé. Apesar do tropeço inicial, ela acredita na possibilidade de título. “Podemos levar essa equipe muito além, podemos surpreender”, disse logo após a partida.

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Com apenas quatro treinos, após seis meses parada, desde a semifinal da Superliga passada, quando jogou pelo Camponesa/Minas, Jaqueline começou entre as reservas, mas foi acionada em três das quatro parciais. “Estou me sentindo bem, não perdi a forma física. Ritmo de jogo é que eu ainda não tenho e o Zé Roberto tem entendido isso. O mais importante foi poder ajudar, mesmo ficando a maior parte do tempo no banco, mas foi bom poder contribuir, seja entrando para sacar ou passar. Eu estou muito feliz só em poder ajudar”, comentou, enfatizando o apoio que tem recebido do técnico tricampeão olímpico.

Jaqueline treinou apenas quatro vezes, após seis meses parada

Sonho
Ainda sobre as chances do time, estreante na divisão principal, depois de ganhar a Superliga B este ano, a ponteira bicampeã olímpica aposta no crescimento com a chegada da oposta polonesa Kasia Skowronska e a eventual entrada da central Thaisa no time. “A gente tem sempre que sonhar. Quando fui para o Minas na última vez, a gente estava em sétimo lugar, mas conseguimos reverter toda aquela situação ruim em coisas boas. A gente acabou acreditando que podia chegar e até ir além. Ganhamos dois jogos do Rio de Janeiro que ninguém acreditava que fôssemos capazes”.

Sobre o acerto com o Hinode Barueri, Jaqueline contou que dialogava com Zé Roberto desde o final da Superliga 2016/2017.  “A gente vinha conversando desde que acabou a Superliga, mas as condições financeiras antes não eram legais. O Zé tinha essa vontade de me trazer para a equipe. Acabou que tudo deu certo”.

Sheilla e Mari foram citadas por Jaqueline ao reclamar do mercado (Reprodução/Internet)

Desabafo
A atleta fez um desabafo sobre o mercado e a dificuldade que ela e outras jogadoras consagradas têm enfrentado. “Infelizmente, esta é a terceira vez que eu entro com a temporada em andamento. Está sendo difícil, não só para mim, mas para outras jogadoras, como a Sheilla e a Mari, que são atletas que podem contribuir muito e estão sem clube. A gente vê tanta gente falando ‘ah, você não aceitou ir pra um canto, não aceitou ir pro outro’, mas falta mesmo opção. Eu prefiro esperar alguma coisa acontecer, achar um patrocinador que abra uma possibilidade. Espero que as outras jogadoras que estão sem clube também possam encontrar espaço. A gente não é valorizada. Quando estamos na seleção, somos ótimas jogadoras, somos craques. Mas quando ficamos sem clube, já começam a nos rotular de coisas nem sempre positivas. Infelizmente, aqui no Brasil a gente é tratada dessa maneira”.

Colaborou Sidrônio Henrique

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Qual é a situação de Sheilla, Mari, Jaqueline e Paula no mercado? http://saidaderede.blogosfera.uol.com.br/2017/05/29/qual-e-a-situacao-de-sheilla-mari-jaqueline-e-paula-no-mercado/ http://saidaderede.blogosfera.uol.com.br/2017/05/29/qual-e-a-situacao-de-sheilla-mari-jaqueline-e-paula-no-mercado/#respond Mon, 29 May 2017 09:00:22 +0000 http://saidaderede.blogosfera.uol.com.br/?p=7413

Paula, Sheilla e Jaqueline, bicampeãs olímpicas. Mari, ouro em Pequim 2008 (fotos: FIVB)

Elas estiveram presentes em grandes momentos do voleibol brasileiro, têm lugar cativo na memória do torcedor e ainda animam uma legião de fãs, que constantemente perguntam ao Saída de Rede onde as quatro irão jogar na temporada 2017/2018. A oposta Sheilla Castro, 33 anos, a ponta/oposta Marianne Steinbrecher, 33, e as ponteiras Jaqueline Carvalho, 33, e Paula Pequeno, 35, estão à disposição no mercado e a gente conta para você, sem revelar valores, qual é a situação de cada uma.

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Sheilla Castro
Bicampeã olímpica, Sheilla Castro não jogou na temporada de clubes recém-encerrada. Após a eliminação do Brasil pela China nas quartas de final da Rio 2016, ela deu adeus à seleção e anunciou que tiraria um ano sabático. Nos dois períodos anteriores, havia jogado pelo time turco VakifBank. Foi titular no primeiro ano, mas no segundo ficou como reserva da holandesa Lonneke Sloetjes – às vezes sequer era escalada como suplente pelo técnico Giovanni Guidetti.

Um dos maiores empecilhos à contratação de Sheilla no Brasil é o alto valor pedido pela atleta, fora do alcance mesmo dos clubes de maior orçamento. O Vôlei Nestlé já tem duas opostas, Paula Borgo e Lorenne. O Dentil/Praia Clube busca uma estrangeira para a posição e, de qualquer forma, já conta com o máximo de duas atletas ranqueadas pela Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) com o teto da pontuação (sete pontos), a central Fabiana Claudino e a ponta Fernanda Garay – Sheilla e outras oito jogadoras estão no topo do ranking. O Sesc RJ (antigo Rexona-Sesc) já renovou com a oposta Monique e não tem espaço para a veterana. O Camponesa/Minas, desde o fim da temporada, tinha a americana Destinee Hooker como prioridade e renovou com ela. O Hinode/Barueri aguarda um co-patrocinador e foca numa estrangeira para a posição – o técnico José Roberto Guimarães tem à disposição uma relação com quatro nomes, todas com custo inferior ao de Sheilla, sendo uma europeia a primeira da lista.

Segundo uma fonte consultada pelo SdR, ainda que fosse reduzido pela metade, o valor pedido por Sheilla Castro “seria considerado irreal”. A mesma fonte comentou que, embora a prioridade dela seja permanecer no país, os mercados italiano e asiático não foram descartados.

Jaqueline entrou em quadra no returno da Superliga 2016/2017 e ajudou o Minas (foto: Orlando Bento/MTC)

Jaqueline Carvalho
Outra do grupo das bicampeãs olímpicas e das ranqueadas com sete pontos pela CBV, a ponta Jaqueline Carvalho não tem pressa. Embora seja considerada uma das principais ponteiras-passadoras do mundo por técnicos do quilate de Bernardinho, Zé Roberto e do americano Karch Kiraly, seu custo comprometeria a maioria dos orçamentos no Brasil e ela não tem interesse em voltar a jogar no exterior agora.

Na temporada passada, a exemplo do período 2014/2015, pegou o bonde andando, mas mesmo assim ajudou o Camponesa/Minas a chegar às semifinais da Superliga. Entre uma e outra, na edição 2015/2016, teve um desempenho abaixo do usual no Sesi. Em entrevista ao Saída de Rede, publicada em fevereiro, ela avisou que não pretende parar e que, inclusive, segue à disposição da seleção. Além de enfatizar que quer acompanhar o dia a dia do filho – Arthur completou 3 anos em dezembro –, Jaqueline dá apoio ao marido, o bicampeão mundial Murilo Endres, que permanece no Sesi, agora como líbero. Ele foi pego no teste antidoping no início deste mês. A contraprova do exame de Murilo confirmou o resultado positivo para furosemida, um diurético que consta na lista de substâncias proibidas pela Agência Mundial Antidoping (Wada).

Paula Pequeno
MVP de Pequim 2008 e presente na campanha de Londres 2012, a ponteira Paula Pequeno jogou as últimas quatro temporadas no Brasília Vôlei. A veterana despertou a atenção do Bauru, mas assim como o seu atual clube, o time paulista tem limitações orçamentárias. O Bauru perdeu a Genter como patrocinador master e busca outro parceiro – o anterior segue apoiando, mas agora apenas com uma cota. Na capital federal, a equipe de PP4 renovou com o Banco de Brasília (BRB), mas ainda aguarda a confirmação da permanência do co-patrocinador, a Terracap.

Tanto no interior paulista como no Planalto Central, Paula teria ainda a opção de trazer, caso consiga, um patrocinador e jogar pela equipe. Bauru terá certamente um time mais competitivo, mas ela é de Brasília, está bem instalada na cidade e isso também pode pesar. Parar não está nos planos da atacante, que foi peça importante para seu clube na última edição da Superliga. Em janeiro, ela disse ao SdR: “Enquanto meu físico aguentar e eu amar o voleibol do jeito que amo, vou estar aqui dentro”.

Mari durante aquecimento numa partida da Superliga 2016/2017 (foto: Neide Carlos/Vôlei Bauru)

Marianne Steinbrecher
Titular na campanha do ouro olímpico em 2008, Marianne Steinbrecher também não pensa em parar. “Eu acho que fisicamente, apesar dos contratempos, ainda tô super tranquila pra jogar”, disse ao Saída de Rede, numa entrevista veiculada em março. Mari, que não renovou com Bauru, tem outras questões que dependem de ajustes com seu futuro clube. “Eu tenho que ver minha mãe, que agora é uma senhora paraplégica que mora sozinha, eu tenho todo um esquema um pouco diferente”, explicou na época ao blog. A mãe dela vive em Rolândia, no interior do Paraná, cidade onde a paulistana Mari foi criada. Quando a equipe do interior paulista a contratou, o técnico Marcos Kwiek deu seu aval para que ela se ausentasse quando fosse preciso. A ponta/oposta foi reserva de Bruna Honório na Superliga 2016/2017. Seu destino na próxima temporada permanece indefinido.

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“É muito cedo para falar algo”, diz Kiraly sobre Hooker na seleção dos EUA http://saidaderede.blogosfera.uol.com.br/2017/04/13/e-muito-cedo-para-falar-algo-diz-kiraly-sobre-hooker-na-selecao-dos-eua/ http://saidaderede.blogosfera.uol.com.br/2017/04/13/e-muito-cedo-para-falar-algo-diz-kiraly-sobre-hooker-na-selecao-dos-eua/#respond Thu, 13 Apr 2017 09:00:27 +0000 http://saidaderede.blogosfera.uol.com.br/?p=6383

Karch Kiraly foi evasivo sobre a volta da oposta Destinee Hooker à seleção (fotos: FIVB)

A volta da oposta Destinee Hooker à seleção americana permanece uma incógnita. Numa entrevista exclusiva ao Saída de Rede, o técnico Karch Kiraly afirmou que “é muito cedo para falar algo”, quando questionado se as portas estariam abertas para a atleta. Ela foi um dos principais nomes da modalidade de 2010 a 2012 e atualmente vive grande fase na Superliga, jogando pelo Camponesa/Minas.

Hooker, medalha de prata na Olimpíada de Londres, foi chamada recentemente por Bernardinho de “uma das grandes opostas do mundo”. Em janeiro, a atacante disse ao SdR que ir a Tóquio 2020 está em seus planos. No entanto, aparentemente, as divergências com ela não foram superadas pelo treinador da seleção feminina dos Estados Unidos. “Ainda não temos todas as respostas, nem tudo está claro”.

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Hooker é um dos destaques da Superliga (Orlando Bento/MTC)

A opção por três ponteiras em vez de quatro na Rio 2016 ou a escolha de duas opostas com características semelhantes, nada disso incomoda Kiraly. Ele disse que não se arrepende de suas escolhas. “É muito fácil pensar em outras formas de montar a equipe depois que tudo passou”, ponderou.

O técnico admitiu que a derrota para a Sérvia na semifinal olímpica, após estar liderando o tie break por 11-8, foi dolorosa. E prosseguiu: “Assim como eu sei que foi para o torcedor brasileiro ver sua seleção eliminada pela China nas quartas de final”.

Pressionado, Bernardinho mostra sua força novamente e semi vai ao 5º jogo
Time de Zé Roberto cumpre seu papel e sobe à primeira divisão da Superliga

Eleito pela Federação Internacional de Vôlei (FIVB) o melhor jogador do século XX, dono de três ouros olímpicos, único atleta a ganhar medalhas tanto no indoor (Los Angeles 1984 e Seul 1988) quanto na praia (Atlanta 1996), Karch Kiraly é um ícone da modalidade. Foi assistente técnico da seleção feminina de seu país no ciclo 2009-2012. A partir de 2013, assumiu o cargo de treinador, posição que ocupará pelo menos até Tóquio 2020, após ter seu contrato renovado no ano passado. Conduziu, pela primeira vez na história, as mulheres dos EUA ao título do Campeonato Mundial, no torneio disputado em 2014, na Itália. No entanto, apesar de favoritas ao ouro, as americanas ficaram com o bronze na Rio 2016.

Confira a entrevista que Kiraly concedeu, por telefone, ao SdR:

Saída de Rede – Começa um novo ciclo olímpico, espera-se que a seleção americana apresente caras novas, como ocorreu no início do período passado. É isso mesmo que vamos ver?
Karch Kiraly – Acho que todas as grandes seleções vão vir com caras novas. Certamente teremos muitas jogadoras jovens na disputa do Grand Prix, aquelas que vão ganhar experiência ao longo do ciclo. Há quatro anos eu tive a chance de descobrir o talento de atletas como Kim Hill, Kelly Murphy e Rachel Adams. Espero descobrir novas jogadoras agora e somar àquelas que temos.

Ele teve o contrato renovado na seleção até Tóquio 2020

Saída de Rede – Conversando com técnicos como Bernardinho e Paulo Coco, assistente de Zé Roberto na seleção feminina, eles apontaram uma carência mundial de ponteiras clássicas, aquelas completas, capazes de executar bem todos os fundamentos. Você concorda com essa avaliação?
Karch Kiraly – De fato, não há tantas pontas completas como a Jordan Larson, por exemplo, que é capaz de fazer tudo em alto nível. Algumas são muito fortes no ataque, mas não são boas passadoras. É uma boa observação, não há tantas jogadoras completas pelo mundo.

Saída de Rede – Você acha que essa menor oferta de jogadoras mais habilidosas está ligada ao fato do voleibol feminino ter se tornado cada vez mais físico, com muitas das ponteiras dando ênfase ao ataque em detrimento de outros fundamentos?
Karch Kiraly – É um ponto interessante a ser avaliado, as características das atletas, a composição das equipes. Talvez seja algo mais recente se observarmos os ciclos anteriores.

Para Kiraly, a central Akinradewo é a melhor do mundo na posição

Saída de Rede – O que você vê quando analisa os períodos 2005-2008 e 2009-2012, por exemplo?
Karch Kiraly – No ciclo 2005-2008 eu ainda não estava envolvido com o vôlei feminino. No seguinte, é verdade, havia um número maior de jogadoras com esse estilo mais completo, como Jaqueline, Jordan Larson, Logan Tom, Carolina Costagrande (ponta/oposta argentina naturalizada italiana, MVP da Copa do Mundo 2011), entre tantas outras.

Saída de Rede – Os Estados Unidos estiveram bem perto da decisão da medalha de ouro na Rio 2016, lideravam o tie break por 11-8 diante da Sérvia na semifinal e levaram a virada. Como você encarou aquela derrota? O que deu errado na reta final da partida?
Karch Kiraly – Aquela foi uma derrota dolorosa para a gente, assim como eu sei que foi para o torcedor brasileiro ver sua seleção eliminada pela China nas quartas de final. Perder a semifinal foi incrivelmente triste para nós. Mas fiquei orgulhoso pelo fato de as jogadoras terem sido capazes de levantar a cabeça, lutar e vencer a disputa pela medalha de bronze (3-1 sobre a Holanda).

Americanas choram após a derrota para a Sérvia na semifinal

Saída de Rede – Mas o que faltou naquele tie break contra a Sérvia?
Karch Kiraly – Não dá para olhar somente para o tie break sem falar da partida inteira, foi um jogo parelho. Tínhamos a melhor central do mundo, Foluke Akinradewo, mas ela não estava em plenas condições físicas, não pôde jogar o tempo todo (esteve nos dois primeiros sets), isso fez diferença. Veja que cada time marcou 101 pontos naquela semifinal, mas nós falhamos em fazer alguns a mais no final. Diria que a Sérvia foi um pouco melhor.

Saída de Rede – Você levou para a Olimpíada um time com três ponteiras e três levantadoras, ainda que uma dessas armadoras tenha ido como sacadora. Arrependeu-se por não ter levado mais uma ponta no lugar da levantadora Courtney Thompson?
Karch Kiraly – É muito fácil pensar em outras formas de montar a equipe depois que tudo passou. Eu não me arrependo. Tínhamos três grandes ponteiras, Jordan Larson, Kim Hill e Kelsey Robinson, e era com elas que vínhamos jogando na temporada. Um trio muito bom. Eu podia escolher qualquer combinação como dupla titular e continuaríamos fortes.

Thompson comandando a coreografia das colegas na Rio 2016

Saída de Rede – A seleção americana tinha duas opostas no Rio com características semelhantes, Karsta Lowe e Kelly Murphy, ambas canhotas, com jogo mais acelerado. Por que não optou pela Nicole Fawcett, que embora também jogasse em velocidade é destra, tinha golpes distintos das outras duas?
Karch Kiraly – Nunca mais vamos jogar aquele torneio, já passou. Tivemos nossas chances, tínhamos uma equipe com nível para ganhar o ouro, fomos ao Rio para isso, mas perdemos por pouco. Jogamos oito partidas e ganhamos sete. Todos os semifinalistas saíram da nossa chave, um grupo muito forte. Fomos capazes de derrotar a China, mas não no momento certo. Aliás, não tivemos a chance de jogar contra elas na final, mas ganhamos uma medalha. Lowe e Murphy cumpriram seu papel.

Hooker é a oposta titular do Camponesa/Minas (Orlando Bento/MTC)

Saída de Rede – Falando em opostas, Destinee Hooker, que não foi convocada no período 2013-2016, tem se destacado na Superliga. Recentemente, Bernardinho a definiu como “uma das grandes opostas do mundo”. Há espaço para ela na seleção americana neste ciclo?
Karch Kiraly – É muito, muito cedo para termos qualquer certeza. Ainda não temos todas as respostas, nem tudo está claro.

Saída de Rede – Mas, afinal, as portas estão abertas para a Hooker?
Karch Kiraly – É muito cedo para falar algo.

Saída de Rede – O novo diretor executivo da USA Volleyball (organização que administra a modalidade nos EUA), Jamie Davis, disse que uma de suas prioridades será a implantação de uma liga profissional no país até a próxima Olimpíada. Você acredita que isso é possível?
Karch Kiraly – Creio que qualquer pessoa que goste de voleibol ao redor do mundo torce para que os EUA tenham uma liga profissional de sucesso, pois seria bom para o esporte internacionalmente. Para os atletas americanos, seria a oportunidade de jogar no próprio país e não ter que depender de ligas estrangeiras, por melhores que sejam. Várias fórmulas foram tentadas, diversos modelos foram testados, vamos ver se agora finalmente dará certo.

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No dia 1º de abril, seis fatos do vôlei que parecem mentira, mas não são http://saidaderede.blogosfera.uol.com.br/2017/04/01/no-dia-1o-de-abril-seis-fatos-do-volei-que-parecem-mentira-mas-nao-sao/ http://saidaderede.blogosfera.uol.com.br/2017/04/01/no-dia-1o-de-abril-seis-fatos-do-volei-que-parecem-mentira-mas-nao-sao/#respond Sat, 01 Apr 2017 17:00:41 +0000 http://saidaderede.blogosfera.uol.com.br/?p=6099

No Dia da Mentira, o Saída de Rede relembra seis fatos ligados ao voleibol que parecem difíceis de acreditar, mas que são incontestáveis. De uma cubana voadora a um francês marrento, passando por partidas que ainda mexem com a torcida brasileira, além de um Mundial esvaziado, dá uma conferida na lista abaixo.

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A baixinha Mireya assombrou o mundo (foto: Tasso Marcelo/Ag. Estado)

Salta, chica!
Suponha que você, fã de vôlei, nunca ouviu falar sobre Mireya Luis. De repente, alguém te diz que uma ponteira com mero 1,75m teve o maior alcance da história, chegando a 3,36m, e que foi a maior atacante de todos os tempos. Dá para acreditar? Parece mentira, mas não é.

De 1983 a 2000, essa ponta cubana brilhou nas quadras mundo afora. Sua impulsão era de 1,10m. Lá do alto, distribuía petardos que assombravam as adversárias. Na tentativa de contê-la, os bloqueios atrasavam um tempo na hora de subir, na esperança de amortecer a bola. Bloqueá-la, só se ela atacasse para baixo, e às vezes nem assim. Em mais de uma oportunidade, sepultou o sonho do ouro das brasileiras. O duelo mais notório foi a semifinal da Olimpíada de Atlanta, em 1996, quando Mireya, depois de um começo opaco, foi crescendo até destruir o Brasil no tie break. Deixou sua seleção como tricampeã olímpica e bi mundial, entre outros títulos, à frente de um timaço apontado por muitos como o maior de todos os tempos.

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A tristeza de Mari, Virna e Zé Roberto após a derrota para as russas (FIVB)

24 a 19 na semifinal de Atenas
Olimpíada de Atenas, 26 de agosto de 2004. Faltava um, apenas um ponto para a seleção brasileira feminina de vôlei chegar a uma inédita final olímpica, após ter parado na semifinal nas três edições anteriores. O time comandado pelo técnico José Roberto Guimarães vencia a Rússia na semifinal do vôlei feminino por dois sets a um e liderava o quarto set por 24-19 quando a levantadora Fernanda Venturini foi para o saque. A virada de bola russa na sequência, com a ponta Lioubov Sokolova, parecia normal, afinal ainda restariam outros quatro match points, com o Brasil recebendo o serviço e tendo três atacantes na rede.

O que parecia mera formalidade virou um pesadelo. Uma a uma, a seleção brasileira foi desperdiçando suas chances, até que as russas fecharam a parcial em 28-26, levando a decisão para o tie break. No quinto set, o Brasil voltou a liderar, mas sucumbiu no final e perdeu por 16-14. Foram sete match points jogados fora (seis na quarta parcial e um na última). A oposta Marianne Steinbrecher, 21 anos recém-completados, marcou impressionantes 37 pontos na partida. No entanto, foi injustamente rotulada por alguns como símbolo da derrota, que ocorreu como fruto do desequilíbrio coletivo. Um desastre, que mesmo depois de dois ouros olímpicos (Pequim 2008 e Londres 2012) ainda vive na memória do torcedor.

Zé Roberto dá um peixinho: seis match points salvos diante da Rússia (Lalo de Almeira/Folhapress)

Quartas de final de Londres
Mais uma vez a Rússia, de Lioubov Sokolova e Ekaterina Gamova, aparecia no caminho da seleção brasileira feminina. O retrospecto era péssimo em jogos decisivos. Além da semifinal de Atenas 2004, as adversárias haviam sido algozes do Brasil nas decisões dos Mundiais 2006 e 2010 – a oposta Gamova marcou, nessas duas partidas, 28 e 35 pontos, respectivamente. É verdade que em Pequim 2008 as brasileiras massacraram as russas, mas como o próprio Zé Roberto ressaltou, a superioridade do Brasil afastava qualquer equilíbrio e o jogo foi na primeira fase.

Thaisa decide jogar com joelho machucado e piora lesão: “Bomba relógio”

Para aumentar o drama em Londres 2012, a seleção brasileira avançou às quartas de final após ficar em um modesto quarto lugar em seu grupo, tendo perdido por 0-3 para a Coreia do Sul. As russas estavam invictas. Fim da linha para o Brasil? Que nada! O jogo foi ao tie break e, para apimentar ainda mais a rivalidade entre brasileiras e russas, estas últimas tiveram seis match points. Poderiam ter fechado a partida num contra-ataque pela entrada com Nataliya Goncharova, mas Jaqueline Carvalho defendeu e entregou na mão da levantadora Dani Lins. Era dia de Sheilla Castro. A oposta brasileira salvou cinco dos seis match points – o outro foi num ataque pelo meio com Thaisa Menezes.

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No final, dois saques certeiros da ponta Fernanda Garay sobre Sokolova, sobrecarregada no passe. No primeiro, ace. No seguinte, uma bola de graça, convertida em ponto numa china com Fabiana Claudino. Brasil 21-19. A semifinal de Atenas pode não ter sido esquecida, mas foi vingada.

Giba consola Bruno após a derrota na final de Londres 2012 (AP)

Final masculina de Londres
A seleção brasileira masculina esteve muito perto do seu terceiro ouro olímpico antes de conquistá-lo na Rio 2016. Chegou a ter dois match points na final de Londres 2012 diante da Rússia. O Brasil começou atropelando e, com relativa facilidade, abriu 2-0.

A partir do terceiro set, dois fatores mudaram o jogo. Do lado russo, o único oposto de ofício da equipe, Maxim Mikhaylov, devidamente marcado pelo time de Bernardinho, foi deslocado para a entrada. Em seu lugar na saída de rede, o técnico Vladimir Alekno colocou o central Dmitriy Muserskiy, um gigante de 2,18m que às vezes desempenhava essa função em seu clube, o Belogorie Belgorod, mas nunca havia sido testado nela em jogos da seleção. Pelo Brasil, o ponta Dante Amaral começou a sentir fortes dores em seu joelho direito, o que prejudicou sua mobilidade e comprometeu o esquema tático da equipe.

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Estava traçada ali uma das viradas mais espetaculares da história. Some à queda no desempenho do Brasil uma atuação de gala de Muserskiy e o resultado foi Rússia 3-2. O central transformado em oposto saiu da condição de coadjuvante para protagonista na final. Nos dois primeiros sets, como meio de rede, havia marcado apenas quatro pontos. Marcaria outros 27 a partir da terceira parcial para se consagrar. Parecia mentira, mas infelizmente foi verdade.

A imprevisibilidade de N’gapeth
Há os que o amam e aqueles que não o suportam. Só não há um fã desse esporte que seja indiferente ao marrento ponta francês Earvin N’gapeth. Também não se pode negar o talento daquele que é um dos maiores jogadores da década. À sua irreverência e jeito provocativo, acrescente uma dose de imprevisibilidade que garantem lances incríveis, como que tirados da cartola por esse atacante que desde 2014 joga pelo Modena, da Itália.

Parece mentira que o craque de 1,94m, atualmente com 26 anos, tenha decidido arriscar, enquanto girava, uma bola de gancho no match point da decisão do Campeonato Europeu 2015, diante da valente Eslovênia, quando o placar dava apenas um ponto de vantagem para a França. A cada rodada da liga italiana, surgem nas redes sociais clipes com jogadas geniais (como as do vídeo acima) de um cara que desde os tempos de juvenil era apontado como detentor de um talento que lhe garantiria projeção internacional. Momentos que só vendo para crer.

Japonesas conquistaram o troféu num campeonato reduzido (FIVB)

Mundial com quatro equipes
Onde já se viu isso? Culpa da Guerra Fria. O Saída de Rede já te contou essa história, em janeiro deste ano, quando o evento completou 50 anos. Por causa de diferenças políticas, o Mundial feminino 1967 teve apenas quatro países participantes: Japão, Coreia do Sul, Estados Unidos e Peru.

O torneio deveria ter tido a presença de 11 seleções, mas o país-sede, o Japão, capitalista, advertiu que não hastearia a bandeira nem executaria o hino nacional da Coreia do Norte e da Alemanha Oriental, duas novas nações surgidas depois da II Guerra Mundial, integrantes do bloco comunista. Como outros cinco participantes eram alinhados com aqueles dois, o boicote dos sete fez o evento virar um simples quadrangular, vencido com facilidade pelo anfitrião. Um fiasco que parece história inventada, mas que de fato aconteceu.

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Ellen ressuscita Praia Clube e leva o time à semifinal da Superliga http://saidaderede.blogosfera.uol.com.br/2017/03/26/ellen-ressuscita-praia-clube-e-leva-o-time-a-semifinal-da-superliga/ http://saidaderede.blogosfera.uol.com.br/2017/03/26/ellen-ressuscita-praia-clube-e-leva-o-time-a-semifinal-da-superliga/#respond Sun, 26 Mar 2017 09:00:23 +0000 http://saidaderede.blogosfera.uol.com.br/?p=5937

Ellen Braga marcou 17 pontos. Sua entrada mudou o rumo do jogo (Divulgação/Praia Clube)

O Dentil/Praia Clube está na semifinal da Superliga 2016/2017. Numa noite em que a ponteira Ellen Braga veio do banco e deu equilíbrio a um time que parecia perdido no terceiro e decisivo jogo das quartas de final, a equipe de Uberlândia venceu de virada, em casa, o Terracap/BRB/Brasília Vôlei por 3-1 (22-25, 25-17, 25-20, 25-14). O Praia Clube fez 2-1 na série e agora vai enfrentar o Vôlei Nestlé.

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O time do Planalto Central, no quarto ano do projeto, mais uma vez parou nas quartas de final – resultado honroso para a equipe da capitã Paula Pequeno e do técnico Anderson Rodrigues. Vindo de uma vitória em sets diretos na segunda partida, como anfitrião, o Brasília começou o confronto na noite deste sábado (25) dando sinais de que finalmente chegaria à semifinal da Superliga. Aproveitou-se de um problema crônico do Praia Clube, a fragilidade da linha de passe, e com um saque eficiente, combinado com uma boa relação bloqueio-defesa, venceu a primeira parcial.

Novo rumo
Porém, logo no início do segundo set, a partida teve uma mudança de rumo. O técnico do Praia, Ricardo Picinin, sacou a ponta Michelle Pavão e colocou em quadra Ellen Braga, que havia feito uma rápida passagem no primeiro set. A substituta já havia tido boas atuações no torneio – ganhou ontem seu quarto troféu Viva Vôlei da temporada. Na decisão da vaga para a semifinal, foi efetiva no ataque, atenta na cobertura na defesa e deu alguma contribuição na recepção. Mais do que isso, animou uma equipe que estava abatida.

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A levantadora Claudinha, do Praia Clube, percebendo o bom momento de Ellen, a acionou constantemente no ataque logo que ela entrou, desafogando a outra ponteira, a americana Alix Klineman, que esteve apática na primeira parcial. Quando voltou a receber bolas de forma mais constante, Alix era outra jogadora. A americana foi a maior pontuadora da partida, com 19, enquanto Ellen, com menos tempo em quadra, veio em seguida com 17. No ataque, ambas marcaram 15 pontos. A diferença é que Alix recebeu 35 levantamentos e Ellen, 25. Você confere aqui as estatísticas do jogo fornecidas pela Confederação Brasileira de Vôlei (CBV). A central Fabiana Claudino, do Praia, que na última rodada do returno sofreu um estiramento na planta do pé (fascite plantar), segue fazendo tratamento.

Depois de perder a parcial inicial, a exemplo do primeiro jogo, o Praia Clube virou a partida (Túlio Calegari/Praia Clube)

Adversário acuado
É bom que se diga, além da mudança de ritmo no lado mineiro com a entrada de Ellen, o Brasília Vôlei encolheu o braço. Ao final da partida, numa entrevista ao SporTV, a veterana ponteira Paula Pequeno lamentou a falta de consistência. De fato, a partir do segundo set, quase nada funcionou na equipe da capital federal – a última parcial foi melancólica. O saque, arma fundamental no início, foi quase inofensivo no restante do jogo. Com isso, dificultou a vida do sistema defensivo do Brasília. Para complicar ainda mais, o time desperdiçou muitos contra-ataques.

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Outro problema foi o baixo aproveitamento na saída de rede, algo que se repetiu várias vezes ao longo desta edição da Superliga. Em quatro sets, a oposta Andreia Sforzin recebeu apenas 18 levantamentos, colocando oito bolas no chão – terminou a partida com nove pontos. Isso sobrecarregou a entrada, com Paula e Amanda. Não, a levantadora Macris não esqueceu sua oposta. Andreia é que não vem rendendo, o que dificultou o desempenho da equipe. Para efeito de comparação, na noite deste sábado, Paula foi acionada 39 vezes, mais que o dobro daquela que deveria ser a referência do time no ataque.

O Camponesa/Minas, de Destinee Hooker, enfrenta o Rexona-Sesc na semifinal (Orlando Bento/MTC)

Semifinais
Os confrontos das semifinais serão entre o onze vezes campeão Rexona-Sesc, do técnico Bernardinho e da ponta Gabi, e o Camponesa/Minas, da oposta Destinee Hooker e da ponteira Jaqueline Carvalho, enquanto na outra série se enfrentarão Praia Clube e Vôlei Nestlé, time da levantadora Dani Lins e da ponta Tandara.

O Minas perdeu do Rexona nas três vezes em que se enfrentaram esta temporada e terá uma tarefa difícil, ainda que Bernardinho politicamente empurre o favoritismo para o tradicional time de Belo Horizonte. Praia Clube e Vôlei Nestlé tiveram uma vitória cada nas duas partidas na Superliga 2016/2017. A equipe de Osasco vem apresentando maior regularidade desde o returno e tem ligeiro favoritismo – no confronto mais recente, o clube paulista venceu por 3-0, minando com sucesso a cubana Daymi Ramirez no passe.

A primeira rodada da série semifinal, disputada em melhor de cinco jogos, será esta semana. O Saída de Rede recebeu a informação que falta apenas a CBV definir se uma partida será na noite de quinta-feira (30) e a outra no dia seguinte, ou se ambas serão na sexta-feira (31). A Confederação decidirá nesta segunda-feira (27).

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Bernardinho: “Time nasceu competitivo e seguirá sendo por outros 20 anos” http://saidaderede.blogosfera.uol.com.br/2017/03/15/bernardinho-time-nasceu-competitivo-e-seguira-sendo-por-outros-20-anos/ http://saidaderede.blogosfera.uol.com.br/2017/03/15/bernardinho-time-nasceu-competitivo-e-seguira-sendo-por-outros-20-anos/#respond Wed, 15 Mar 2017 09:00:34 +0000 http://saidaderede.blogosfera.uol.com.br/?p=5684

“Foram 20 anos incríveis, quem vai tocar o processo agora é o Sesc” (foto: Divulgação)

O momento parecia de turbulência com a saída do patrocinador Unilever, parceiro desde 1997, mas Bernardo Rezende garante que a equipe de vôlei feminino sob seu comando segue firme. “O time vai continuar sendo competitivo. Nasceu competitivo e seguirá sendo por outros 20 anos. Não há nenhuma descontinuidade, é um processo ajustado e quem vai tocar agora é o Sesc”, disse o técnico multicampeão ao Saída de Rede.

Esta é a primeira parte de uma entrevista que o treinador concedeu ao SdR. Nesta o foco é o voleibol feminino. Além da transição no Rexona-Sesc, equipe que conquistou a Superliga 11 vezes e que encerrou a fase classificatória da atual edição na liderança, com 10 pontos de vantagem sobre o segundo colocado, Bernardinho fala sobre a dificuldade de enfrentar “seleções” no Mundial de Clubes, relembra que o arquirrival Osasco (atual Vôlei Nestlé) venceu a competição tendo “uma verdadeira seleção” e que depois perdeu a final da Superliga para o Rexona.

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Ele aponta o Camponesa/Minas, liderado pela oposta americana Destinee Hooker e pela ponteira Jaqueline Carvalho, como favorito na Superliga e alega que vencê-lo três vezes numa eventual semifinal é uma tarefa complicada.

Fala de talentos do voleibol brasileiro, como a central Bia, as pontas Rosamaria, Gabi e Tandara, as opostas Lorenne e Paula Borgo, além das levantadoras Roberta, Naiane, Juma e Macris.

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Seleção masculina perde mais uma peça-chave após saída de Bernardinho

Sobre a estrangeira de sua equipe, a ponta holandesa Anne Buijs, Bernardinho afirma que “aos poucos ela está começando a mostrar mais consistência na atuação de alto nível”.

Confira a primeira parte da entrevista que Bernardo Rezende nos concedeu:

Saída de Rede – Como fica a equipe com a saída da Unilever após 20 anos de parceria?
Bernardinho – O time vai continuar sendo competitivo. Nasceu competitivo e seguirá sendo por outros 20 anos. Foram 20 anos incríveis e não há nenhuma descontinuidade, é um processo ajustado, combinado, de prosseguimento e quem vai tocar o processo agora é o Sesc. Esse processo foi conduzido por nós, junto com o Sesc, nessa transição. A Unilever jamais nos abandonou, muito pelo contrário, sempre foi uma parceira orientadora, muito preocupada com a consistência do projeto, tanto na parte competitiva quanto nas frentes sociais.

O técnico durante Mundial de Clubes 2016, nas Filipinas (foto: FIVB)

Saída de Rede – O Rexona vai para o Mundial de Clubes em maio, no Japão. Diante dessa situação, de transição, o time já havia se programado para contratar algum reforço?
Bernardinho – Nós não temos nenhuma verba neste momento para poder buscar alguém. E também não seria justo chegar num momento como esse e sacar uma jogadora para, de repente, colocar outra. Seria muito bacana poder reforçar, tentar trazer alguém que nos desse uma condição a mais. Osasco, quando foi ao Mundial, tinha uma verdadeira seleção.

Sobre o arquirrival Osasco e seu título mundial: “Tinha uma verdadeira seleção” (foto: FIVB)

Saída de Rede – Você fala da edição de 2012, quando Osasco ganhou?
Bernardinho – Exatamente… E depois nós ganhamos delas na final aqui (na Superliga). (Osasco) Era uma seleção com das quatro titulares: Garay, Jaqueline, Thaisa e Sheilla. Tinha ainda duas reservas imediatas da seleção: Fabíola e Adenízia. O time chegou ao Mundial em condições de brigar. Hoje, as equipes turcas são verdadeiras seleções do mundo. Eczacibasi, por exemplo, o VakifBank, o Fenerbahce… Esses times são all-star, com jogadoras de várias seleções do mundo, se torna mais difícil vencê-los. No último Mundial a gente estava meio despreparado e perdeu duas vezes por 3-2, pro Eczacibasi e pro Casalmaggiore, campeão europeu. Esses dois foram os finalistas. Então faltou pouco. Quem sabe a gente não consiga depois da Superliga, mais preparado, um pouco mais? (Nota do SdR: o Rexona-Sesc terminou o Mundial 2016 na quinta colocação.)

Saída de Rede – O fato de o torneio agora ser no fim da temporada de clubes, pouco depois do encerramento da Superliga, ajuda o time? Embora esses adversários também estejam com bom ritmo.
Bernardinho – Para nós, que não temos a quantidade de talentos individuais a nível mundial que esses times têm, a questão do sistema funcionar é a única chance que a gente tem. Não dá para brigar na individualidade. Sob esse ponto de vista, a consistência de uma temporada talvez nos dê uma possibilidade a mais. Claro que esses grandes times continuam sendo os favoritos, mas talvez a gente tenha uma pequena condição a mais.

Bernardinho orienta o time durante partida da Superliga (foto: Alexandre Arruda/Divulgação)

Saída de Rede – Falando agora de Superliga, as outras equipes no top 4, Minas cresceu no segundo turno, Praia Clube caiu um pouco ao longo da competição e Osasco está se ajustando. Desses três adversários, qual seria o mais perigoso?
Bernardinho – O Minas com certeza é o mais perigoso. Na minha opinião, o Minas se tornou o favorito.

Saída de Rede – Por quê?
Bernardinho – Uma coisa é ter o Minas sem uma Hooker e sem uma Jaqueline. A Hooker é uma das grandes opostas do mundo. Veja bem, não falo só da Superliga, falo do mundo, e ela ataca como poucas. A Jaqueline é completa, arma o time de uma maneira… Que jogadora tem condições de passar como ela passa, arrumar o time, defender, fazer o jogo como ela faz? Aí você tem Rosamaria, Carol Gattaz fazendo excelente temporada, a Naiane… Pelas jogadoras que tem hoje, o Minas se tornou favorito na Superliga.

Saída de Rede – Enfrentá-las numa melhor de cinco jogos em uma possível semifinal facilita para vocês, não? Afinal, ganhar três vezes do Rexona…
Bernardinho – (Interrompendo) É, mas ganhar três vezes desse Minas aí é tão complicado quanto ganhar três vezes do Rexona.

Saída de Rede – Se você diz… E quanto ao Praia e ao Osasco?
Bernardinho – Acho que o Praia vive um momento de insegurança emocional, mas é um time com muito potencial. Na final, no ano passado, por muito pouco a coisa não fugiu da gente. Foi uma final muito dura. E Osasco é sempre Osasco, uma equipe de tradição, que vai chegar, mudou um pouco a forma de jogar: no último ano tinha mais força no meio, a cubana na ponta, agora tem a Tandara, duas estrangeiras, com muita força ali. A Bia tem jogado em altíssimo nível.

A central Bia, do Vôlei Nestlé, foi bastante elogiada por Bernardinho (foto: João Pires/Fotojump)

Saída de Rede – Você acha que a Bia subiu muito de produção em relação ao ano anterior?
Bernardinho – Ela já tinha jogado muito bem no Sesi com a Dani Lins. O fato de ter uma grande levantadora do lado dela, e ela sempre foi uma grande bloqueadora, deu uma condição… Me lembro que ganhamos grandes competições com a Dani e as centrais eram a Valeskinha e a Juciely, que são mais baixas, e a Dani as fazia jogar, mesmo sendo jogadoras fisicamente menos capazes de jogar com atletas grandes. A Dani faz isso muito bem e a Bia está se beneficiando disso. Para o voleibol é muito importante ter uma jogadora como ela, que naturalmente já é uma grande bloqueadora. É um belo trabalho feito lá e ter a Dani por perto dá uma condição ainda melhor.

“Natália foi uma jogadora fundamental” (foto: FIVB)

Saída de Rede – O Rexona sempre teve muito volume de jogo e você procura fazer o time jogar de forma acelerada na virada de bola e no contra-ataque. No ano passado, quando o passe não saía, era bola para a Natália, que descia o braço. Como está isso hoje? Conversando outro dia com o Anderson Rodrigues (técnico do Brasília Vôlei), ele dizia que o Rexona está bem, porém errando mais do que no ano passado. Você também acha isso? O que está faltando para o time?
Bernardinho – É exatamente isso. O Anderson enxerga um pouco com os meus olhos, até por termos convivido tanto tempo. Nós ainda não temos a consistência… Olha, a Natália foi uma jogadora fundamental nos últimos dois anos, dava um equilíbrio muito grande, pra gente se permitir ter um passe pior às vezes. Era uma jogadora que resolvia, ela foi excepcional. Não tê-la este ano requer um time que cometa menos erros, que desperdice menos, mas ainda estamos em busca disso, dessa consistência maior. Nos momentos importantes estamos tendo boas atuações, mas o time ainda oscila. A Anne (Buijs) tem altos e baixos, mas teve momentos muito bons, como na Copa Brasil, a final do Sul-Americano, mas não posso atribuir a ela a responsabilidade que a Natália já tinha condições de assumir. Eu tenho que ter também a calma de fazer com que ela tenha a tranquilidade de jogar sem um excesso de peso sobre ela. Quem está assumindo uma responsabilidade maior é a Gabi, o que é muito bom para ela, para o amadurecimento.

Saída de Rede – Mas ela não tem característica de força, tem outro perfil, não dá para comparar com a Natália.
Bernardinho – Não, mas você pode jogar de outra maneira. A ideia é um pouco essa, que ela jogue de uma forma com mais velocidade, para que ela consiga criar situações de dificuldades para o outro time.

O treinador orienta Anne Buijs: “Está começando a mostrar mais consistência” (foto: Marcelo Piu/Divulgação)

Saída de Rede – Quando a Brankica Mihajlovic (ponta sérvia, vice-campeã na Rio 2016), que tem um perfil parecido com o da Anne, com deficiências no passe e no fundo de quadra, jogou aqui, ela deslanchou a partir das quartas de final. Você está preparando a Anne para crescer na reta final?
Bernardinho – Aos poucos ela está começando a mostrar mais consistência na atuação de alto nível. É o que a gente espera dela: crescer fisicamente e conseguir lidar com uma situação de pressão que a Superliga exige o tempo todo.

Saída de Rede – Atualmente, no cenário internacional, temos a impressão de que existe uma carência de ponteiras passadoras. Você diria que o vôlei no Brasil reflete isso também?
Bernardinho – A Gabi é uma jovem ponteira excepcional. A Natália tem pouco tempo nessa função… Então, nós temos duas ponteiras. São pontas que às vezes não são tão boas passadoras, como a Tandara também não é, mas que você pode compor. Veja, a Sérvia jogou a Olimpíada com a Brankica na ponta, a Tandara não é pior passadora do que ela. Você tem como compor e o Zé Roberto vai saber montar isso. No Brasil há um pouco dessa carência, não só no feminino também há no masculino, mas eu diria que não estamos tão mal posicionados neste sentido. Temos algumas jogadoras interessantes para surgir, como a Rosamaria.

Saída de Rede – Nós conversamos com ela, que admitiu que não dava para ser oposta em nível internacional, até por sua altura (1,85m), mas sim ponteira. Ela pensou exatamente nisso.
Bernardinho – Ela pensou e os treinadores dela também. Na minha opinião é uma solução excepcional, ela tem plenas condições de jogar nessa posição.

Ele diz que Macris “taticamente joga muito” (foto: CBV)

Saída de Rede – Que outros destaques você vê entre as jogadoras mais jovens aqui no Brasil?
Bernardinho – Levantadoras você tem a Roberta, a Naiane, a Juma, que são jovens e boas jogadoras. A Macris é uma atleta que taticamente joga muito, ela é diferente e entra nesse rol. A Dani Lins continua sendo a principal e melhor jogadora da posição. Mas temos um leque de jogadoras interessantes para trabalhar, com boa estatura. Olhando pro futuro, eu vejo boas levantadoras. Sobre opostas, não sei se a ideia é a Tandara jogar um pouco ali, a Natália jogar eventualmente, mas eu tinha uma crença muito grande em uma menina que é a Paula Borgo, que fez duas boas temporadas e este ano está jogando menos. Claro que isso é momentâneo e é uma jogadora que tem potencial. Não temos uma quantidade grande, talvez seja o caso de pensarmos em uma estrutura um pouco híbrida.

Saída de Rede – E a Lorenne, sua jogadora até a temporada passada, foi ideia sua ela ir para o Sesi, sob o comando do Juba, que tinha sido seu assistente, para ela jogar mais?
Bernardinho – Sim, ela tinha que sair pra jogar.

“Lorenne talvez necessite mais tempo” (foto: Sesi)

Saída de Rede – Está muito verde ainda para se pensar em seleção principal?
Bernardinho – Ela está galgando, agora já joga a Superliga, tem potencial. Lorenne talvez necessite um pouco mais de tempo, assim como a Paula Borgo. Elas precisam passar por um processo de amadurecimento internacional para poder jogar.

Saída de Rede – A Lorenne joga de uma forma diferente do que historicamente as nossas opostas fazem, mais lenta, porém com mais alcance e com mais potência. Como você vê isso?
Bernardinho – É, ela vai mais alto, pega uma bola mais lenta. Temos que ver, pois a forma de jogar do Brasil não é muito esta e, lá fora, jogar com uma bola tão lenta talvez não seja o mais recomendável. Mas é uma jogadora de potencial, tem que ser trabalhada para ter condição de jogar internacionalmente. É preciso testá-la lá fora. Já jogou Mundial sub23, ou seja, está começando a ganhar essa experiência.

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