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Renan elogia força mental e diz que Brasil não é o único favorito em Tóquio

Janaína Faustino

24/10/2019 06h00

Seleção masculina se mantém no topo sob o comando de Renan Dal Zotto (Fotos: Divulgação/FIVB)

Campeão invicto da Copa do Mundo 2019 com a seleção brasileira masculina de vôlei, o treinador Renan Dal Zotto, antes considerado por muitos uma incógnita em função do longo período sem exercer a função, não apenas conquistou prestígio no cargo, como vem conseguindo manter a equipe verde e amarela entre as maiores forças do vôlei mundial. Desde que ele assumiu o comando, em 2017, o Brasil disputou 9 competições, chegou a 7 decisões e levou 5 títulos.

Nada mal para uma seleção que, apesar dos números inquestionáveis, iniciou a temporada de maneira hesitante, passando sufoco em competições como a Liga das Nações, o Pré-Olímpico e o Sul-Americano. Este foi um dos assuntos sobre os quais Renan falou no bate-papo a seguir. Além disso, ele ainda comentou sobre o equilíbrio de forças no cenário internacional e foi categórico ao sustentar que o Brasil não é o único candidato ao ouro nos Jogos de Tóquio.

Confira abaixo a entrevista coletiva concedida durante o lançamento da Superliga 2019/2020, no Hangar da Gol, em São Paulo.

Nessa temporada 2019, a seleção masculina apresentou um claro crescimento ao longo dos meses, culminando no título da Copa do Mundo. Qual foi o principal fator para que esse desempenho fosse crescente ao longo da temporada?

Bom, acho que o tempo de treinamento que nós tivemos e as decisões que tomamos no decorrer da temporada. Por exemplo, a opção por disputar o Sul-Americano com uma seleção mesclada, por atuar na Liga das Nações, em que ficamos em quarto lugar, colocando jovens para jogar… Com tudo dentro do planejamento, nós conseguimos recuperar jogadores importantes que vêm, já há alguns anos, jogando sem folga alguma. Então, foi tudo muito bem planejado, culminando com o título da Copa do Mundo e, principalmente, com o título no classificatório olímpico, que era o nosso grande objetivo em 2019. Foi um ano bastante produtivo que acabou de forma positiva, em uma crescente muito boa. Tudo fazendo parte de um processo de crescimento visando os Jogos Olímpicos no ano que vem.

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E como você avalia a participação da seleção na Copa do Mundo, ganhando de forma invicta?

O mais importante é a forma como cada jogador entrou na competição, o modo como eles se apresentaram nos treinamentos. Ao final do torneio, nós conversamos sobre a dificuldade. Foram 11 jogos em 15 dias. Por isso, o aspecto mental foi fundamental. E esses garotos conseguiram manter essa força mental durante toda a Copa em função do empenho no dia a dia e nos treinamentos. Eu não posso dizer absolutamente nada de ninguém. Eles se empenharam ao máximo. A competição foi só um reflexo do que fazíamos em nossa rotina. Só posso parabenizá-los.

Considerando tudo o que aconteceu em 2019, incluindo os torneios em que o Brasil não jogou, como o Campeonato Europeu, como você vê o equilíbrio de forças para a Olimpíada de Tóquio?

Hoje nós temos seis ou sete seleções com totais condições de vencer os Jogos Olímpicos. Se você olhar para trás, vai perceber que os campeões se revezaram no cenário internacional. Várias seleções conquistando um título aqui, outro ali. No entanto, o mais importante é que o Brasil não ficou fora do pódio em nenhuma competição. Se você vir o quadriênio, a partir da Rio 2016, em que o Brasil ganhou o ouro, no ano seguinte a seleção foi campeã da Copa dos Campeões. Em 2018, foi prata no Campeonato Mundial e agora ganhou o troféu da Copa do Mundo. Nas principais competições deste ciclo, o Brasil esteve no pódio em primeiro ou segundo lugar. (…)

Isso nos deixa satisfeitos, claro. Ao mesmo tempo, ficamos atentos. Porque o nível internacional está muito equilibrado. Por exemplo, no Mundial do ano passado, a Polônia venceu, o Brasil ficou em segundo e os Estados Unidos em terceiro. Esse ano, o Brasil venceu, a Polônia ficou em segundo e os EUA em terceiro. Então há um revezamento de forças. E ainda tem a Rússia, que foi [bi]campeã da Liga das Nações. Sem falar de França, Itália, Sérvia… Temos grandes seleções e todas estão no mesmo nível. Por isso, vale a pena sempre ressaltar a força mental dos atletas, que eu acho que é o nosso grande diferencial.

Você acha que o título invicto da Copa do Mundo faz o Brasil se tornar ainda mais visado pelos adversários?

É muito importante saber como você é percebido em nível internacional. Após os jogos, você observa os comentários dos treinadores rivais sempre enaltecendo o voleibol brasileiro. Isso é relevante porque você ganha força, confiança e só assim consegue fazer coisas boas nos jogos. Esse ano nós tivemos dois momentos bastante delicados. O Pré-Olímpico, em que perdíamos por 2 sets a 0 contra a Bulgária e vencemos por 3 a 2. Foi uma competição extremamente dura dentro da casa do adversário.

E a outra foi o Sul-Americano, que também perdíamos por 2 a 0 e viramos para 3 a 2, mantendo o título no Brasil. Acredito que esses momentos fortalecem cada vez mais o grupo e a ideia de que estamos no caminho correto. Ao mesmo tempo, achamos que precisamos melhorar a cada dia, independentemente dos resultados. O resultado é só uma consequência do nosso trabalho.

Título da Copa do Mundo, o terceiro da seleção masculina, foi conquistado de maneira invicta

Você já tem um grupo definido para Tóquio após essa temporada 2019?

A gente vem trabalhando nesses três anos para construir algo. O que posso dizer é que essa Superliga vai definir muita coisa. Ao final da temporada de seleções, desejei sorte a cada um porque a minha torcida é que cada um faça uma Superliga brilhante. Não temos mais tempo a perder e espero que eles consigam desenvolver o seu melhor voleibol. Portanto, vamos tomar algumas decisões em cima dessa competição e da Liga das Nações do ano que vem.

Queria que você fizesse uma análise do desempenho do Leal, que estreou na seleção esse ano, e do Alan, que foi talvez a maior surpresa positiva, substituindo o Wallace muito bem. Ele certamente será mais marcado no ano que vem pelas principais seleções do mundo.

Esse foi o primeiro ano do Leal na seleção brasileira. Ele se adaptou muito bem e, inclusive, mais rápido do que eu imaginava. No início, ele custou um pouco a entender o nosso modelo de treinamento e comunicação, o que é natural. Mas hoje ele está completamente adaptado ao nosso sistema de jogo, à nossa comunicação interna e aos treinamentos. Acho que ele está muito feliz, o que é mais importante. E o Alan fez uma competição fantástica. É um garoto que tem um futuro esplêndido pela frente e eu posso dizer que ele está no caminho certo. É mentalmente muito forte, treina bastante, quer chegar a um lugar cada vez mais alto. Ele está muito bem e nós estamos felizes por termos uma opção a mais no nosso grupo para o ano que vem.

*Colaborou Carolina Canossa

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Sobre a autora

Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.

Sobre o blog

O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.

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