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Mãe aos 21, Rebecca supera dificuldades e vira destaque no vôlei de praia

Carolina Canossa

09/05/2019 06h00

Rebecca e a filha, Isabella: companhia constante nos treinos (Foto: Reprodução/Instagram)

Tudo parecia estar se encaixando profissionalmente para Rebecca Cavalcante no segundo semestre de 2013: parte de um projeto de revelação de novos talentos no vôlei de praia comandado pelo gabaritado técnico Reis Castro, a jogadora formava, aos 20 anos, uma promissora dupla ao lado de Lili. Os planos para o ano seguinte, no entanto, foram subitamente abalados pela descoberta de uma gravidez.

"Eu chorava muito quando recebi o resultado do exame. Fiz todos no mesmo dia (farmácia, ultrassom e sangue) e não queria acreditar. Já estava com três meses de gestação e nem desconfiava", relembra a atleta, em entrevista ao "Saída de Rede". Mais de sete anos depois daquele dia, a cearense vive o melhor momento de sua carreira, com dois títulos recentes no Circuito Mundial ao lado de Ana Patrícia e a liderança na corrida olímpica brasileira rumo a Tóquio 2020.

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Às vésperas de mais um Dia das Mães, Rebecca é a prova que, apesar das dificuldades, é possvel lidar com a maternidade e as exigências do esporte de alto rendimento. Prestes a completar cinco anos (nasceu em julho de 2014), a filha dela, Isabella, é o xodó do técnico Reis Castro e presença constante nos treinos da mãe em Fortaleza (CE). "Ela é a coisa mais linda, está sempre com a gente no CT, estou sempre tirando fotos dela", reconhece o treinador.

A conciliação da vida familiar com a profissional só é possível graças a uma forte de rede de apoio, composta não só pelo marido de Rebecca, Evandro, como pela mãe e pela sogra dela. "Na verdade, eu não tenho dificuldade nenhuma: quando viajo, ela fica super bem. Só tenho um pouco de trabalho quando estou em casa e ela fica doente, mas acaba dando certo", conta a jogadora.

Rebecca e Ana Patrícia formam a dupla brasileira com os melhores resultados de 2019 até o momento (Foto: Reprodução/Instagram)

Segundo ela, a menina já está acostumada a vê-la pela internet nos períodos de competições, mas a comissão técnica tenta, na medida do possível, fazer o planejamento da dupla de forma que Rebecca não passe longos períodos longe de Isabella. "Quando temos a oportunidade, sempre voltamos para Fortaleza ainda que pudéssemos ficar mais tempo fora. O lado mental de um atleta é tão importante quanto o físico  e ela precisa dar uma atenção diferenciada à família", afirma Reis Castro.

Os reencontros são os momentos mais esperados pelas duas ("É incrível"), mas Rebecca conta, rindo, que o interesse da filha vai além dos resultados obtidos em quadra. "Ela vê meus jogos, acompanha, mas não se importa muito com os resultados não. Ela quer presente!", revela.

"NÃO FOI UM ERRO"

Ao olhar para trás e ver sua trajetória profissional, Rebecca consegue ter um sentimento bem distinto daquele que lhe tomou no dia em que fez os três exames para confirmar a gravidez. "Realmente não foi o momento, mas não acho que tenha sido um erro. Sempre quis ser mãe nova. Era uma vontade minha queria ter um filho com uns 24 e não com 21 (risos), mas acho que cada um sabe seus objetivos", destaca.

Técnico Reis Castro vê potencial na dupla, mas prefere dar um passo de cada vez (Foto: Divulgação)

Graças à boa forma trazida pelos treinos, a atleta não ficou tanto tempo longe do esporte, tendo malhado até os cinco meses de gestação e já voltado a viajar dois meses após a cesárea. "Essa primeira viagem foi bem difícil, fiquei 11 dias fora. Mas só pensava em jogar, pois, quanto mais jogava, era melhor pra ela também, para dar uma vida melhor, escola, brinquedos, conforto…", conta.

Com planos de ter mais filhos a longo prazo, Rebecca vê até vantagens no fato de ter sido uma mãe jovem: "Muitos atletas tem filhos tarde e, na hora de voltar, não tem mais disposição. Por isso que eu sempre quis ter filho logo, para que ele passasse tudo isso comigo".

Reis, por sua vez, elogia a postura da comandada. "Eu vejo a Rebecca se desdobrando, pois, se a vida de uma atleta já é difícil normalmente, com a criança há uma batalha a mais. Por outro lado, depois da Isabella, ela ficou mais responsável, tem uma assiduidade alta nos treinos", comenta.

O treinador só evita a comparação de Rebecca e Ana Patrícia com outra dupla que dirigiu, Juliana e Larissa. "São quatro jogadoras totalmente diferentes. Diria que Rebecca e a Ana Patrícia são uma dupla irreverente, de criação. Falo para elas se divertirem em quadra e esquecerem da corrida olímpica, pois o potencial delas as levará onde tiverem que chegar", analisa.

Rebecca e Ana Patrícia voltam a jogar na semana que vem, quando será realizada a etapa de quatro estrelas de Itapema (SC) do Circuito Mundial. Álém dos donos da casa, duplas de mais 26 países diferentes disputarão medalhas entre os dias 14 e 19 de maio.

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Sobre a autora

Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.

Sobre o blog

O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.

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