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"Ganhar do Brasil na 1ª fase do Mundial é crucial", diz técnico da França

Sidrônio Henrique

27/02/2018 06h00

França e Brasil terão confronto importante no dia 13 de setembro, na segunda rodada do Mundial (fotos: FIVB)

No comando da seleção masculina da França desde 2013, o técnico Laurent Tillie formou uma equipe respeitada, dona daquele que para muitos é o voleibol mais bonito da atualidade, mas que ainda se ressente pela irregularidade e que nas principais competições – Jogos Olímpicos e Campeonato Mundial – está devendo. Com dois títulos da extinta Liga Mundial e um europeu, conquistados nas três últimas temporadas, a França quer provar no Mundial 2018 que merece o crédito que tem.

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Chegar ao sonhado título mundial já soa complicado em razão do torneio longo, desgastante, mas torna-se ainda mais difícil quando o treinador se debruça sobre a tabela, analisando os cruzamentos a partir da segunda fase. A competição será disputada de 9 a 30 de setembro, na Itália e na Bulgária. "Ganhar do Brasil na primeira fase do Mundial é crucial", afirmou Tillie em entrevista ao Saída de Rede.

Explico a agonia do homem: quem for segundo na chave B (Brasil, França, Canadá, Holanda, Egito e China) cai no grupo mais difícil na segunda fase, aumentando as chances de ir embora mais cedo. Assim, o confronto entre Brasil e França no dia 13 de setembro, em Ruse, na Bulgária, pela segunda rodada da fase inicial, cresce em importância (veja no final do texto).

Ponteiro de destaque na seleção de meados dos anos 1980 ao início dos 1990, Tillie comanda o time desde 2013

Favoritos
Diante da pergunta sobre os principais adversários dos franceses na luta pelo título mundial, Laurent Tillie diz que, analisando os atletas à disposição, vê mais consistência nas seleções dos Estados Unidos, Brasil, Sérvia, Rússia e Itália. Destaca ainda a Polônia, apesar da ausência de bons resultados recentes e das constantes trocas de técnico. "Os poloneses têm bastante potencial, é possível extrair mais dali", comentou.

Sobre a seleção brasileira, que a França derrotou na final da Liga Mundial 2017, em Curitiba, e para quem, desfalcada, perdeu mais tarde na Copa dos Campeões, ele enfatiza as poucas mudanças em relação ao ciclo olímpico anterior. "O Brasil é como nós, preservou a base, mas tem que encontrar uma nova dinâmica diante das mudanças que vão ocorrendo no vôlei. A equipe ainda gira em torno do Bruno, do Wallace, do Lucarelli e do Lucão. Quero ver como vai ficar quando puder contar com o Leal a partir do ano que vem".

Tillie abraça N'gapeth: "Na seleção francesa caminhamos juntos"

N'gapeth
A conversa agora é sobre o ponta Earvin N'gapeth, o grande astro da equipe e que chama atenção tanto pelo talento como pelas presepadas extra quadra, seja na seleção ou no clube italiano Modena. Lembramos ao técnico do fiasco francês no Europeu 2017. Vindo do título na edição passada, a França sequer chegou às quartas de final no torneio disputado na Polônia. Nem parecia o time que no mês anterior havia conquistado a Liga Mundial. N'gapeth recuperava-se de uma lesão na região lombar e jogou no sacrifício no Europeu.

Independentemente da presença de outros grandes atletas no time, profissionais das demais equipes diziam nos bastidores que a seleção francesa, quando sob pressão, caía bastante sem o ponteiro. A França havia ficado sem ele a maior parte da fase de classificação da Liga Mundial 2017, mas enfrentou quase sempre equipes B e jamais foi pressionada antes das finais, quando N'gapeth estava de volta. O treinador Laurent Tillie, que no Europeu chegou a agradecer ao jogador por atuar mesmo abaixo das condições ideais, admite a dependência.

"Quando você tem um dos melhores jogadores do mundo, você acaba, de certa forma, sendo dependente dele, claro, porque o time cria vínculos na forma de jogar e ainda existe um aspecto importante que é a liderança. Mas durante o Europeu houve uma grande fadiga mental que minou o time e provocou falta de concentração. Nosso jogo exige muita energia e confiança. Infelizmente, não tivemos força para jogar do nosso jeito, apesar de termos feito diversas mudanças durante o torneio", explicou o técnico.

Questionado sobre o comportamento de N'gapeth fora das quadras, com envolvimento em vários incidentes, Tillie saiu pela tangente. "Na seleção francesa caminhamos juntos, todos com o mesmo objetivo e sempre trabalhando pelo bem da equipe. Ele é parte desse grupo".

Brasil venceu a França em partidas decisivas no Mundial 2014 e na Rio 2016

Melhorar o bloqueio
A França surpreendeu o mundo em 2014 com uma defesa cujo desempenho era superior ao dos oponentes. A surpresa se dava especialmente porque seu sistema não contava com tanto apoio assim do bloqueio, considerado pouco efetivo, mesmo defensivamente, pela maioria dos técnicos adversários. Tillie afirma que houve evolução na Liga Mundial 2017, embora ressalte que é preciso melhorar a sincronia. "Temos que cometer menos erros no bloqueio e principalmente ajustar sua relação com o saque e a defesa. Certamente não é o nosso melhor fundamento, temos condições de ser mais fortes nisso".

Vôlei num estádio de futebol outra vez
Antes do Mundial 2018, as seleções terão a Liga das Nações, nome novo para a velha Liga Mundial. Classificada para as finais como país-sede, a França terá a chance de mais um título numa disputa em um estádio de futebol, de 4 a 8 de julho, na cidade de Lille. Anteriormente crítico a essas experiências da Federação Internacional de Vôlei (FIVB) para promover a modalidade, o agora anfitrião Tillie assumiu uma postura diplomática.

"O resultado esportivo é muito importante, mas também é fundamental promover o nosso esporte e, portanto, o espetáculo é relevante. Devemos tentar fazer o melhor possível, como o Brasil fez em 1983 para enfrentar a União Soviética no Maracanã, como a Polônia na abertura do Mundial 2014 e do Europeu 2017, e como as finais da Liga Mundial em Curitiba no ano passado. O voleibol tem de trabalhar sua imagem e eventos assim ajudam nisso", avaliou o treinador.

Se a Rússia for terceira em sua chave e o Brasil segundo na dele, os dois times se enfrentam na fase seguinte

OS CAMINHOS PARA BRASILEIROS OU FRANCESES NO MUNDIAL 2018
O segundo colocado na chave do Brasil no Mundial 2018 vai enfrentar na etapa seguinte o primeiro do grupo A, o terceiro do C e o quarto do D. Serão quatro chaves de quatro times nessa fase. Avançam à terceira os líderes e os dois melhores segundos colocados. Veja aqui a fórmula.

É bem provável que nesse grupo estejam Brasil ou França; Itália (apoiada pela torcida); Estados Unidos, Rússia ou Sérvia; e como franco-atirador, possivelmente Finlândia ou Cuba. Imagine uma chave com Brasil, Itália, Sérvia e Finlândia. Lembre-se, somente o primeiro tem vaga garantida na fase seguinte. É para ficar preocupado mesmo.

Se a Itália não for primeira no seu grupo na fase inicial, que tem ainda Argentina, Bélgica e Eslovênia entre os principais adversários, a dificuldade deve diminuir, mas quem quer que supere os anfitriões deve vir animado – e ainda há o terceiro daquela chave que tem americanos, russos e sérvios.

Agora, caso o Brasil seja o primeiro da chave na fase inicial, a vida será mais tranquila na próxima etapa. Vai enfrentar o segundo e o terceiro do grupo A (Itália, Argentina, Bélgica, Eslovênia, Japão e República Dominicana) e o quarto do C (aquele que tem EUA, Rússia e Sérvia, mas cuja quarta posição deve ser decidida entre Austrália, Tunísia e Camarões).

Sobre a autora

Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.

Sobre o blog

O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.

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