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Tifanny responde críticas: "Estou aqui simplesmente porque tenho talento"

Carolina Canossa

03/02/2018 06h00

Presença de Tifanny na Superliga feminina tem causado grande polêmica (Foto: Guilherme Cirino/Minas Tênis Clube)

É justo ou injusto? Primeira transexual da história da Superliga feminina de vôlei, Tifanny Abreu tem convivido tanto com elogios quanto às suas boas performances no ataque quanto com críticas de que só está conseguindo esse desempenho por ter feito a transição apenas depois de já ter um corpo masculino formado, aos 29 anos de idade. A oposta do Vôlei Bauru, porém, assegura que suas altas pontuações são apenas reflexo da função que exerce em quadra.

"Se você colocar no nosso time uma Tandara, uma Bruna Honório ou qualquer oposta que vai rodar a bola, ela será muito acionada. Somos uma equipe que, ao contrário dos favoritos, não tem muitas atacantes fortes, então é claro que a oposta vai receber mais bolas e fazer a diferença. Se existem homens bons, vão existir transexuais boas. Estou aqui simplesmente porque tenho talento", afirmou a atleta, logo após a derrota por 3 a 2 para o Vôlei Nestlé, quando marcou 31 pontos.

Tifanny também respondeu às acusações de que estaria "segurando o braço", ou seja, não demonstrando sua real força nas cortadas, para evitar causar ainda mais polêmica e eventualmente ser banida da disputa entre as mulheres devido à disparidade – o argumento, que tem o respaldo de muitas jogadoras da Superliga, foi abertamente exposto por Tandara, atleta da seleção, depois do duelo em Osasco.

"Como eu vou atacar mais forte que isso? Se eu atacar mais forte do que estou, tenho que voltar para o masculino. Não dou conta. Este é o meu máximo, é o que o hormônio me deixa fazer", comentou a atacante, que ainda relatou outras dificuldades que sente em comparação aos tempos em que estava no vôlei masculino. "Sou totalmente diferente. Depois da cirurgia, você vira uma mulher, não consigo mais jogar como antes. Se colocar uma rede masculina aqui (2,43 metros, contra 2,24 no feminino), eu só ataco na fita. Também noto muito o cansaço físico: necessito dois dias a mais que as outras meninas para descansar e me canso mais rápido do que elas. Não tenho muito físico por causa da hormonização, é difícil para mim", relatou.

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SEM MEDO DE MUDANÇAS NO COI

Polêmicas à parte, Tifanny tem o respaldo das regras, pois cumpre as exigências do COI (Comitê Olímpico Internacional) para jogar entre as mulheres: identifica-se como pertencente ao gênero feminino e faz tratamento hormonal para reduzir a testosterona (hormônio masculino) a menos de 10 nanomol por litro de sangue nos 12 meses anteriores e durante as competições que disputa – a cirurgia de mudança de sexo não é mais necessária.

Tais diretrizes podem mudar após a Olimpíada de Inverno, que será disputada este mês, quando o COI discutirá novamente o assunto. Perguntada se está preocupada com possíveis alterações, a brasileira se disse tranquila.

"Tenho notícias que a única mudança será de 10 para 5 na testosterona e a minha é 0.2. Então, não tenho com o que me preocupar. O máximo que eles podem fazer é tirar a não obrigatoriedade da cirurgia, mas eu já fiz e sou feliz comigo mesmo", declarou.

A oposta ainda se mostrou feliz com o posicionamento de José Roberto Guimarães – segundo o treinador da seleção brasileira, Tifanny será avaliada como outra jogadora qualquer e poderá ser convocada caso jogue bem e as regras permitam a participação dela nos torneios internacionais.

"Fico muito feliz em saber que o técnico da seleção respeita a lei. Farei o meu melhor. Se eu estiver bem para ir para a seleção, quero ir… Mas ele vai saber decidir certo e escolher as melhores", afirmou Tifanny.

Sobre a autora

Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.

Sobre o blog

O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.

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