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Ameaçado na tabela, Brasil luta também contra o cansaço para seguir no GP

Sidrônio Henrique

20/07/2017 06h00

Treino em Cuiabá menos de quatro horas após viagem desde o Japão (foto: André Romeu/MPIX/CBV)

Quatro voos, quase 41 horas incluindo o tempo de espera pelas conexões, numa maratona que começou em Sendai, no Japão, e terminou em Cuiabá. É na capital do Mato Grosso que a seleção brasileira feminina de vôlei, atualmente fora da zona de classificação para as finais do Grand Prix, disputará a partir da tarde desta quinta-feira (20) a terceira etapa do torneio. Para não deixar de ir à fase decisiva da competição, algo que não ocorre desde 2003, o time do Brasil enfrentará, além de Bélgica, Holanda e Estados Unidos, o cansaço provocado por uma viagem estafante. As conexões incluíram paradas em Seul (Coreia do Sul), Toronto (Canadá) e Guarulhos (SP).

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"Quando você tem uma viagem tão longa, com uma grande diferença no fuso, que exige de três a quatro dias para uma recuperação plena, isso pode atrapalhar. É muito cômodo para a China, que joga as três fases e ainda as finais por lá. Eu também gostaria de fazer todos as partidas aqui no Brasil, mesmo que fosse nos pontos mais distantes do país, faria muita diferença, seria mais fácil", disse ao Saída de Rede o técnico José Roberto Guimarães. A diferença entre Sendai e Cuiabá é de 13 horas.

Último time a desembarcar
Das quatro seleções que jogarão na capital mato-grossense, a equipe brasileira foi a última a desembarcar – por volta das 16h30 (horário local) de terça-feira (18). Foi a combinação de voos mais rápida que a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) conseguiu. O time dos EUA também encarou quatro voos desde Macau, na China, mas as americanas foram as primeiras a chegar, pouco depois da meia-noite de terça. Belgas e holandesas estavam em Kaliningrado, ponto mais ocidental da Rússia, seis horas adiante de Cuiabá, e assim como as demais passaram por quatro trechos aéreos, porém com bem menos tempo de deslocamento. As duas seleções europeias chegaram às 10h de terça-feira, no mesmo voo.

Antes desta fase, o Brasil esteve em Ancara, Turquia, na primeira semana do GP e depois seguiu para a cidade japonesa de Sendai. As jogadoras brasileiras viajam de classe econômica, com exceção da ponta Natália, da oposta Tandara e da central Adenizia, que vão na executiva, como reconhecimento da CBV por terem feito parte do grupo campeão olímpico em Londres 2012.

Zé Roberto: "É muito cômodo para a China" (fotos: FIVB)

Reclamação antiga
Não é de hoje que os deslocamentos impostos pela Federação Internacional de Vôlei (FIVB) no GP e na Liga Mundial são alvos de críticas. A ex-jogadora russa Lioubov Sokolova nunca escondeu sua insatisfação com o torneio, que uma vez classificou como "sem sentido" e "insano", por causa das viagens. O técnico Zé Roberto reclama há anos dos roteiros estabelecidos. Integrante da Comissão de Treinadores da FIVB, formada em dezembro de 2016, quem sabe ele terá chance de propor algo à entidade, para que as equipes não sejam sacrificadas.

Veja esse roteiro pesado, provocado pelo calendário da FIVB, ao qual a seleção brasileira masculina foi submetida na Liga Mundial 2011. Naquele ano, na noite de 25 de junho, um sábado, o Brasil disputou a segunda partida da semana diante dos EUA em Tulsa, no sul do país. O próximo jogo seria na quarta-feira (29), em Katowice, Polônia. Na manhã de domingo, começou a maratona: de Tulsa a Houston, ainda nos EUA, depois Londres (Inglaterra), na sequência Frankfurt (Alemanha) e finalmente Katowice. A equipe chegou ao seu destino no início da noite de segunda-feira para enfrentar a seleção polonesa dali a 48 horas. Não faltam exemplos parecidos na Liga Mundial e no GP ao longo dos anos.

O time B dos EUA será o adversário das brasileiras na manhã de domingo

Ida às finais ameaçada
Com três vitórias e três derrotas, ocupando a sétima posição, o Brasil está numa situação delicada na tabela. Seis seleções avançam às finais – a China já está classificada como país-sede.

As brasileiras enfrentam logo mais, às 15h05 (horário de Brasília), a lanterna Bélgica, que não venceu no torneio, foi derrotada pelo Brasil em sets diretos na primeira semana e ainda por cima deixou de trazer algumas titulares ao Mato Grosso. Na sexta-feira, também às 15h05, encaram a Holanda, que apesar da linha de passe irregular e de não contar com a principal atacante, a oposta Lonneke Slöetjes, vem fazendo boa campanha e chegou a Cuiabá na segunda posição na classificação. O time de Zé Roberto encerra a participação na etapa no domingo, às 10h10, diante da equipe B dos Estados Unidos, que terminou a segunda semana na terceira colocação – somente duas jogadoras da campanha do bronze na Rio 2016, a oposta Kelly Murphy e a levantadora Carli Lloyd, estão disputando o GP 2017. As três partidas terão transmissão da Rede Globo e do SporTV.

Se ganhar apenas um jogo, o Brasil dificilmente avança. Com duas vitórias, crescem as chances de classificação, mas na dependência de resultados de vários adversários. E veja só: mesmo que vença os três, dependendo do placar e do desempenho de outros times, ainda haveria a possibilidade de a seleção brasileira ser eliminada. Mas se o resultado de EUA vs. Holanda, nesta quinta-feira, não for um 3-2 a favor das americanas, o Brasil não dependerá mais de nenhuma partida entre outras equipes, bastando fazer a sua parte.

Sobre a autora

Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.

Sobre o blog

O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.

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