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Centros de treinamento tentam manter vôlei de praia em alta no Brasil

Sidrônio Henrique

21/11/2016 15h00

Álvaro e Saymon, que treinam em João Pessoa, formaram dupla em setembro deste ano (foto: CBV)

Quando se fala em esporte de alto rendimento, não dá para pensar em evolução sem suporte. Apesar das 13 medalhas conquistadas pelo Brasil desde que o vôlei de praia entrou para o programa olímpico em Atlanta 1996, fora os inúmeros títulos no circuito mundial, os centros de treinamento ainda são células isoladas no país. Foram criados de forma independente, sem a mão da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), a partir da iniciativa de pequenos grupos, permitindo que duplas profissionais e jovens com potencial se desenvolvam. Mas o que é bom poderia ficar ainda melhor.

O Centro de Treinamento Cangaço, na praia de Cabo Branco, em João Pessoa (PB), foi implantado no início desta década. É a casa de algumas das melhores duplas brasileiras, com destaque para o paraibano Álvaro e o sul-mato-grossense Saymon, time recém-formado com atletas de expressão no circuito internacional e já líder do ranking nacional.

Neste domingo (20), Álvaro e Saymon conquistaram em Curitiba (PR) o segundo título em quatro etapas disputadas nesta temporada – eles haviam vencido em Brasília (DF), além de terem sido prata em Campo Grande (MS) e em Uberlândia (MG). Na jornada curitibana, a vitória na final veio sobre ninguém menos que os campeões olímpicos Alison e Bruno.

"No Cangaço as duplas têm a estrutura que precisam, desde quadras e bolas ao apoio de preparadores físicos, fisioterapeutas e psicólogos", explica o administrador do CT, Ernesto Souza. O centro conta com patrocinadores. Para disseminar a prática do vôlei de praia, o Cangaço tem uma escolinha, que atualmente atende 200 crianças e adolescentes, dos 10 aos 17 anos.

CT de Maringá ocupa espaço cedido pela Prefeitura (foto: Divulgação)

A 3 mil quilômetros dali, em Maringá (PR), funciona o CT da Associação Maringaense de Vôlei de Praia. "Existem poucos centros de treinamento no país, se considerarmos o potencial brasileiro para a modalidade", diz Robson Xavier, coordenador-geral da unidade. Além dos atletas profissionais, eles ensinam os fundamentos do vôlei de praia para 100 alunos, dos 9 aos 15 anos.

CBV
A própria CBV não tem números sobre os poucos CTs existentes no país, até porque são independentes. O Centro de Desenvolvimento do Vôlei (CDV), pertencente à Confederação, localizado em Saquarema (RJ), é mais comumente utilizado pelos atletas do indoor. No caso da turma da praia, geralmente os melhores ranqueados vão a Saquarema para se concentrar antes de uma competição importante, como Mundial ou Jogos Olímpicos. "Para períodos mais longos, até pelo isolamento, não é viável ficar ali", comenta Xavier.

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A CBV diz que Saquarema está aberto para as equipes. "O CDV está à disposição para quando as duplas quiserem, basta pedir à unidade de Seleções de Praia e informar o período".

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Alguns dos principais rivais do Brasil na modalidade têm centros específicos para o vôlei de praia, oferecendo estrutura completa para suas principais duplas e para a base. É o caso dos EUA, com as instalações mantidas pela USA Volleyball (organização que administra o vôlei no país), em Torrance, na Califórnia, ou ainda o da Alemanha, com um CT em Berlim, pertencente à federação nacional, a DVV.

Falta apoio
"Precisamos de mais apoio, poderiam olhar para o vôlei de praia com mais carinho aqui no Brasil. Até dialogamos bastante com a CBV, mas isso não se traduz em algo concreto", reclama Robson Xavier. Ele aponta ainda a carência de profissionais na modalidade. "Isso afeta desde a peneira, passando pelo treinamento. Sem técnicos capacitados, o atleta perde. Além disso, sem uma boa estrutura, cai o rendimento dos jogadores, que na maioria dos casos não pode contar com o que tem o pessoal do vôlei de quadra em seus respectivos clubes", pondera o coordenador-geral.

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Na unidade paranaense, eles têm o apoio da Prefeitura de Maringá, além de alguns patrocínios. Os atletas contam com fisioterapeuta, psicólogo, bolsas de estudo, academia e preparador físico. "Se não for assim, a preparação fica longe do ideal", completa Xavier.

Duda (esquerda), sua mãe, Cida, e sua atual parceira, Tainá (foto: CBV)

Há quem faça sacrifícios e transforme um espaço reduzido em um jardim de talentos. Em São Cristóvão (SE), a 20 quilômetros da capital Aracaju, a ex-jogadora Cida Lisboa criou um CT que leva seu nome e que ajudou a projetar um dos maiores talentos da modalidade no mundo: sua filha Duda, 18 anos, bicampeã mundial sub19, ouro nos Jogos Olímpicos da Juventude e vice-campeã mundial sub23, com diferentes parceiras. A partir de janeiro de 2017, ela vai jogar ao lado da vice-campeã olímpica Ágatha Bednarczuk, de olho no ouro em Tóquio 2020.

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Outras duas duplas profissionais treinam no Centro de Treinamento Cida Vôlei, além da escolinha que atende 60 crianças e jovens, dos 9 aos 22 anos. O projeto é um dos mais antigos no país. Lá se vão 15 anos desde que Cida decidiu aplicar suas economias e transformar o terreno do fundo de uma academia que possui com o marido, o bombeiro Antônio Marcos, em um CT. Lá, além dos treinos, os times podem dispor de nutricionista, fisioterapeuta e, claro, da academia.

Contratempos
Os contratempos são vários. "Não temos apoio, é um esforço imenso, envolve muito sacrifício. Há coisas demais extra quadra para serem resolvidas", afirma Cida Lisboa, que se divide entre os papéis de técnica e de administradora.

Às vezes ocorrem incidentes que tornam ainda mais complicado o que já não é fácil. Em fevereiro deste ano, por exemplo, foi arrombado um depósito do CT Cangaço e 38 bolas foram roubadas. O prejuízo foi calculado em R$ 13,3 mil. Foi a segunda vez que isso ocorreu em três anos. Vida de vôlei é difícil! Na praia, então…

Sobre a autora

Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.

Sobre o blog

O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.

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