Centros de treinamento tentam manter vôlei de praia em alta no Brasil
Quando se fala em esporte de alto rendimento, não dá para pensar em evolução sem suporte. Apesar das 13 medalhas conquistadas pelo Brasil desde que o vôlei de praia entrou para o programa olímpico em Atlanta 1996, fora os inúmeros títulos no circuito mundial, os centros de treinamento ainda são células isoladas no país. Foram criados de forma independente, sem a mão da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), a partir da iniciativa de pequenos grupos, permitindo que duplas profissionais e jovens com potencial se desenvolvam. Mas o que é bom poderia ficar ainda melhor.
O Centro de Treinamento Cangaço, na praia de Cabo Branco, em João Pessoa (PB), foi implantado no início desta década. É a casa de algumas das melhores duplas brasileiras, com destaque para o paraibano Álvaro e o sul-mato-grossense Saymon, time recém-formado com atletas de expressão no circuito internacional e já líder do ranking nacional.
Neste domingo (20), Álvaro e Saymon conquistaram em Curitiba (PR) o segundo título em quatro etapas disputadas nesta temporada – eles haviam vencido em Brasília (DF), além de terem sido prata em Campo Grande (MS) e em Uberlândia (MG). Na jornada curitibana, a vitória na final veio sobre ninguém menos que os campeões olímpicos Alison e Bruno.
"No Cangaço as duplas têm a estrutura que precisam, desde quadras e bolas ao apoio de preparadores físicos, fisioterapeutas e psicólogos", explica o administrador do CT, Ernesto Souza. O centro conta com patrocinadores. Para disseminar a prática do vôlei de praia, o Cangaço tem uma escolinha, que atualmente atende 200 crianças e adolescentes, dos 10 aos 17 anos.
A 3 mil quilômetros dali, em Maringá (PR), funciona o CT da Associação Maringaense de Vôlei de Praia. "Existem poucos centros de treinamento no país, se considerarmos o potencial brasileiro para a modalidade", diz Robson Xavier, coordenador-geral da unidade. Além dos atletas profissionais, eles ensinam os fundamentos do vôlei de praia para 100 alunos, dos 9 aos 15 anos.
CBV
A própria CBV não tem números sobre os poucos CTs existentes no país, até porque são independentes. O Centro de Desenvolvimento do Vôlei (CDV), pertencente à Confederação, localizado em Saquarema (RJ), é mais comumente utilizado pelos atletas do indoor. No caso da turma da praia, geralmente os melhores ranqueados vão a Saquarema para se concentrar antes de uma competição importante, como Mundial ou Jogos Olímpicos. "Para períodos mais longos, até pelo isolamento, não é viável ficar ali", comenta Xavier.
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A CBV diz que Saquarema está aberto para as equipes. "O CDV está à disposição para quando as duplas quiserem, basta pedir à unidade de Seleções de Praia e informar o período".
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Alguns dos principais rivais do Brasil na modalidade têm centros específicos para o vôlei de praia, oferecendo estrutura completa para suas principais duplas e para a base. É o caso dos EUA, com as instalações mantidas pela USA Volleyball (organização que administra o vôlei no país), em Torrance, na Califórnia, ou ainda o da Alemanha, com um CT em Berlim, pertencente à federação nacional, a DVV.
Falta apoio
"Precisamos de mais apoio, poderiam olhar para o vôlei de praia com mais carinho aqui no Brasil. Até dialogamos bastante com a CBV, mas isso não se traduz em algo concreto", reclama Robson Xavier. Ele aponta ainda a carência de profissionais na modalidade. "Isso afeta desde a peneira, passando pelo treinamento. Sem técnicos capacitados, o atleta perde. Além disso, sem uma boa estrutura, cai o rendimento dos jogadores, que na maioria dos casos não pode contar com o que tem o pessoal do vôlei de quadra em seus respectivos clubes", pondera o coordenador-geral.
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Na unidade paranaense, eles têm o apoio da Prefeitura de Maringá, além de alguns patrocínios. Os atletas contam com fisioterapeuta, psicólogo, bolsas de estudo, academia e preparador físico. "Se não for assim, a preparação fica longe do ideal", completa Xavier.
Há quem faça sacrifícios e transforme um espaço reduzido em um jardim de talentos. Em São Cristóvão (SE), a 20 quilômetros da capital Aracaju, a ex-jogadora Cida Lisboa criou um CT que leva seu nome e que ajudou a projetar um dos maiores talentos da modalidade no mundo: sua filha Duda, 18 anos, bicampeã mundial sub19, ouro nos Jogos Olímpicos da Juventude e vice-campeã mundial sub23, com diferentes parceiras. A partir de janeiro de 2017, ela vai jogar ao lado da vice-campeã olímpica Ágatha Bednarczuk, de olho no ouro em Tóquio 2020.
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Outras duas duplas profissionais treinam no Centro de Treinamento Cida Vôlei, além da escolinha que atende 60 crianças e jovens, dos 9 aos 22 anos. O projeto é um dos mais antigos no país. Lá se vão 15 anos desde que Cida decidiu aplicar suas economias e transformar o terreno do fundo de uma academia que possui com o marido, o bombeiro Antônio Marcos, em um CT. Lá, além dos treinos, os times podem dispor de nutricionista, fisioterapeuta e, claro, da academia.
Contratempos
Os contratempos são vários. "Não temos apoio, é um esforço imenso, envolve muito sacrifício. Há coisas demais extra quadra para serem resolvidas", afirma Cida Lisboa, que se divide entre os papéis de técnica e de administradora.
Às vezes ocorrem incidentes que tornam ainda mais complicado o que já não é fácil. Em fevereiro deste ano, por exemplo, foi arrombado um depósito do CT Cangaço e 38 bolas foram roubadas. O prejuízo foi calculado em R$ 13,3 mil. Foi a segunda vez que isso ocorreu em três anos. Vida de vôlei é difícil! Na praia, então…
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