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Como se saíram os favoritos no vôlei masculino na Rio 2016?

Sidrônio Henrique

27/08/2016 06h00

Brazil celebrate

Brasil superou limitações e se impôs aos adversários para chegar ao tricampeonato (fotos: FIVB)

A Rio 2016 não poderia ter terminado melhor para o vôlei masculino do Brasil. Depois de bater na trave em Pequim 2008 e em Londres 2012, veio o tão aguardado tricampeonato olímpico. Antes do torneio, seis das doze equipes participantes eram apontadas como favoritas ao ouro. O Saída de Rede analisa o desempenho desses times, considerados de antemão os mais fortes dos Jogos do Rio de Janeiro.

Brasil
Sem contar com aquela constelação que encantou o mundo na década passada, ganhando a maioria dos grandes torneios de 2001 a 2010, a seleção brasileira voltou a vencer uma competição de peso após seis anos – considerando-se a menor relevância do título da Copa dos Campeões 2013. Mesmo com jogadores lesionados e com a inconsistência da linha de passe, a equipe treinada por Bernardinho, dono de três títulos mundiais e de seis medalhas olímpicas como treinador (além de uma como atleta), foi taticamente superior aos seus oponentes e cresceu a partir da última rodada da fase de grupos, num mata-mata inesperado diante da antes incensada França.

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O melhor jogo, sem dúvida, foi a semifinal diante da Rússia. Na decisão do ouro, ainda que sem apresentar o voleibol da partida anterior, o Brasil dominou a Itália, foi consistente na relação bloqueio-defesa e contou com atuações inspiradas do ponta Lipe, do oposto Wallace e do líbero Serginho. Foi o triunfo do trabalho e da organização em um campeonato marcado pelo equilíbrio.

Zaytsev e Rossini: seleção italiana foi além do esperado no Rio

Itália
A seleção italiana foi longe, mais do que se esperava. Começou atropelando os favoritos franceses na primeira partida do torneio, sem permitir que passassem dos 20 pontos em nenhum set. Ganharam também de americanos e brasileiros, além do fraco México, e deveriam ter fechado a fase inicial invictos se não tivessem feito corpo mole contra o Canadá, para dificultar a vida do Brasil e da França.

Depois de despachar o Irã nas quartas de final, veio aquela que provavelmente foi a partida mais emocionante da Rio 2016: a semifinal contra os Estados Unidos. Os italianos perdiam por 1-2 (foram esmagados no terceiro por 9-25) e estavam em desvantagem por 19-22 no quarto set quando viraram uma bola e o oposto Ivan Zaytsev foi para o saque. Os americanos não marcaram mais nenhum ponto naquela parcial e perderam o tie break por 15-9.

Ainda há desafios para Bernardinho na seleção?

Mas o que o técnico Gianlorenzo Blengini acrescentou a esse time que ele assumiu às vésperas da Copa do Mundo 2015 e que jogava em função de Zaytsev? O oposto, claro, ainda é a referência, mas Blengini minimizou os erros e aumentou a eficiência da defesa, algo obtido em parte devido a presença do craque cubano naturalizado italiano Osmany Juantorena, que jogou no Rio longe da sua melhor forma física, e também contou com a boa distribuição do jovem levantador Simone Giannelli, de apenas 20 anos. A terceira prata pode ter tido um sabor amargo para uma seleção que nunca conquistou o ouro olímpico e que acumula ainda três bronzes, mas foi um prêmio para os italianos se observarmos suas limitações.

Oposto Matt Anderson (centro) foi um dos destaques americanos

Estados Unidos
O técnico John Speraw talvez ainda se pergunte por que não utilizou seus suplentes naquela semifinal dramática diante da Itália. O veterano ponta Reid Priddy, em sua quarta Olimpíada, foi essencial na virada sobre a Rússia na disputa do bronze. Ante os italianos não foi acionado pelo treinador. Mas os EUA não têm do que reclamar. Após apresentar um nível sofrível nas finais da Liga Mundial, começaram na Rio 2016 perdendo em sets diretos para os esforçados vizinhos canadenses, depois caíram em quatro sets para a Itália. Pareciam a caminho da eliminação quando o saque começou a funcionar – a primeira vítima foi o Brasil, seguido da França.

Liquidaram os poloneses nas quartas de final, mas vacilaram feio na semifinal. A derrapada foi compensada com uma virada incrível diante dos russos para ficar com o bronze, que afinal coroou o trabalho de Speraw, bem mais consistente do que seu antecessor, Alan Knipe, que comandou o time no ciclo 2009-2012 sem nenhum título global – Speraw conduziu a equipe ao ouro na Liga Mundial 2014 e na Copa do Mundo 2015. A obediência tática dos americanos, reforçada pelo talento do oposto Matt Anderson e do levantador Micah Christenson, além do já mencionado Priddy, afinal deu resultado.

Técnico Vladimir Alekno orienta o time: voleibol pálido na Olimpíada

Rússia
Favorita a qualquer título que dispute, status que divide com Brasil, Itália e EUA, a Rússia chegou ao Rio de Janeiro apoiada muito mais no peso da sua camisa do que propriamente em seu jogo. Era uma incógnita, apesar da incontestável qualidade do experiente ponteiro Sergey Tetyukhin, do oposto Maxim Mikhaylov e do levantador Sergey Grankin, e ainda da presença do técnico Vladimir Alekno, ouro em Londres 2012 e bronze em Pequim 2008.

No final das contas a Rússia chegou onde poderia – mesmo o resultado na decisão do bronze premiou o time mais sólido, os EUA. O que se viu no Maracanãzinho foi uma seleção russa inconstante, com uma queda na eficiência do seu bloqueio e consequentemente da defesa em relação ao final do ciclo passado. O próprio saque, quase sempre uma ameaça, não chegou a incomodar, exceto por breves passagens.

Seleção polonesa amargou mais uma eliminação nas quartas de final

Polônia
Os poloneses amargaram no Rio sua quarta eliminação consecutiva nas quartas de final dos Jogos Olímpicos. Não fizeram por merecer nada além disso no Maracanãzinho. O melhor da Polônia é o seu saque e esse os deixou na mão nas quartas de final, quando caíram em sets diretos para os americanos.

Na hora de executar seu jogo, nada excepcional. O levantador titular, Grzegorz Lomacz, é limitado e não seria possível esperar mais do seu substituto, Fabian Drzyzga. O oposto Bartosz Kurek é incapaz de sustentar uma partida inteira em alto nível. O ponta e capitão Michal Kubiak oscilou bastante e ainda falhou no quesito liderança. Por falar em liderar, o técnico Stéphane Antiga viu seu time ser batido pelos EUA sem alterar a estrutura da equipe ou mesmo sem impedir que Lomacz insistisse com Kurek quando esse já não virava quase nada.

Os atuais campeões mundiais, título conquistado em casa há dois anos, não chegam a uma final desde então. Foram embora mais cedo do Rio de Janeiro e não fizeram falta.

France during challenge

Franceses aguardando desafio: o bom voleibol deles ficou só na expectativa

França
Eis a maior decepção do voleibol masculino na Rio 2016. Antes do início dos Jogos Olímpicos, a seleção comandada por Laurent Tillie era a grande sensação. Se alguém dissesse que os franceses, liderados pelo ponta Earvin N'gapeth, sequer passariam da primeira fase, você acreditaria? Eles mesmos se complicaram. Logo na estreia foram atropelados pela Itália. Dos cinco adversários do grupo A, só conseguiram superar Canadá e México. Diante dos EUA, por exemplo, perderam o primeiro set após abrirem uma vantagem de nove pontos. Na última rodada pegaram o Brasil, quando ambos estavam com a corda no pescoço. Nessas situações, diga-se, o time de Bernardinho jamais decepcionou. Azar dos franceses.

A defesa, grande arma francesa, revertida em muitos pontos ao longo do ciclo graças a um contra-ataque eficiente, ficou aquém do esperado. Mesmo individualmente os Bleus renderam abaixo do que se podia supor, ainda que N'gapeth, o oposto Antonin Rouzier e o central Kevin Le Roux tenham brilhado aqui e ali. O levantador Benjamin Toniutti e o líbero Jenia Grebennikov, dois dos melhores do mundo em suas funções, tiveram atuações pálidas no Maracanãzinho. Faltaram consistência e experiência ao time que despediu-se do Rio de forma melancólica.

Sobre a autora

Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.

Sobre o blog

O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.

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