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Muito treino e pouco tempo para estudar: a vida na base do vôlei brasileiro

Carolina Canossa

24/07/2016 06h00

Roberta teve dificuldades para conciliar a faculdade com os treinos (Foto: Divulgação/FIVB)

Roberta teve dificuldades para conciliar a faculdade com os treinos (Foto: Divulgação/FIVB)

Títulos, medalhas, sucesso. Em geral, nosso trabalho no Saída de Rede é focado no voleibol de alto rendimento, aspecto do esporte que mais atrai público. Mas isso não significa que a gente ignore as categorias de base e suas dificuldades. É por isso que, neste domingo (24), abrimos espaço para uma entrevista feita por um leitor antigo do blog, Alexandre Muller. Ex-jogador universitário na França, ele deixou a carreira no esporte para se dedicar à carreira como desenvolvedor agrário em Paragominas, interior do Pará (a história dele pode ser lida aqui). De lá, entrou em contato conosco para contar uma outra trajetória, a da formação de atletas do nosso país.

Você sabia, por exemplo, que mesmo atletas que tiveram uma infância longe da pobreza possuem dificuldades para conciliar estudos com o vôlei? Até mesmo a convivência com a família fica complicada. É o que Alexandre mostra na entrevista que fez com Roberta Glatt, jogadora que tenta engrenar na categoria adulta após disputar dois Mundiais sub-21 de vôlei de praia. Confira!

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Roberta, como você começou no vôlei?
Meu primeiro contato foi na escolinha do Betinho de vôlei de praia, nas areias de Ipanema. No início, eu levava na brincadeira mesmo, mas um tempo depois eu me federei e comecei a jogar as etapas do circuito carioca na categoria sub-19. No ano seguinte, fui chamada para um projeto que havia acabado de abrir na praia do Leblon, o "Mão na Bola". Foi lá que eu comecei a levar o vôlei de praia realmente a sério. E, em 2013, o técnico da seleção brasileira sub-21 me chamou para uma seletiva visando o Mundial de 2013 na Croácia.

E como foi essa seletiva? Qual foi o resultado?
Nessa seletiva eles iriam selecionar oito meninas que disputariam quatro vagas para o Mundial. A seletiva durou cerca de uma semana e foi em Saquarema, no Centro de Treinamento da CBV. O ritmo era bastante puxado, e, para a minha surpresa, eu fui convocada para a seleção (pelo Brasil, Roberta esteve no Mundial sub-21 de 2013 e 2014, ficando respectivamente em nono e no qualifying).

Você pode contar em mais detalhes como era a rotina de treinos?
Basicamente você corre, treina e dorme. A rotina é a seguinte: de segunda a sexta a gente treina em dois períodos. De manhã, são duas horas com bola e treinos físicos. Depois do almoço, íamos para academia e terminávamos o dia com mais 1h30 de treino com bola. A gente treinava também aos sábados pela manhã. Além disso, havia atividades pontuais como treino com vídeo, psicólogo, nutricionista, fisioterapia… Foi assim durante os seis meses antes do Mundial. Não podíamos nem voltar para casa aos finais de semana porque não dava tempo.

Como você e as outras meninas faziam para conciliar esses treinos intensos com a universidade?
É muito difícil, quase impossível, para falar a verdade. Eu estudo engenharia civil na PUC Rio e tive que trancar. Até tentei fazer algumas matérias à distância, mas não dá pra manter toda a faculdade assim. A grande maioria dos atletas perde aula, isso nos prejudica muito e não existe nenhuma forma de conciliar os estudos com o vôlei. Às vezes são organizados cursos do tipo supletivo, mas é muito difícil, você fica muito focado numa coisa só, é treino o tempo todo. Com certeza jogar vôlei nesse nível prejudica os seus estudos, mas a gente tem consciência do sacrifício e arca com as consequências.

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Qual é a sua expectativa para o futuro? Vai dar pra viver de vôlei?
Eu tenho consciência que a vida do atleta de vôlei de praia é muito precária e é por isso que eu não larguei os estudos. Hoje em dia continuo cursando engenharia, não abro mão. Pra te dar um exemplo da dificuldade, há atletas que jogaram Olimpíada e hoje não ganham salario e estão em dificuldades financeiras. Meu objetivo é continuar treinando forte, firmar com uma dupla e jogar um Mundial adulto.
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Sobre a autora

Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.

Sobre o blog

O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.

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