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Saída de Rede

O que tira o sono de Bernardinho?

João Batista Junior

19/05/2016 06h00

A escolha dos convocados e a performance dos jogadores têm tirado o sono de Bernardinho (foto: FIVB)

A escolha dos convocados e a performance dos jogadores têm tirado o sono de Bernardinho (foto: FIVB)

 

Em entrevista publicada pelo UOL Esportes na quarta-feira, 18, Bernardinho diz que convocação de jogadores e performance dos atletas são motivo – literalmente – para sua insônia. "São muitos aspectos a serem considerados, e algumas das minhas reflexões e decisões que vão ter de ser tomadas num breve espaço de tempo já começam a não apenas fazer parte do meu dia, mas da minha noite", admite o treinador da seleção brasileira masculina.

"Essa era uma preocupação que eu tinha do ponto de vista pessoal: faltam três meses para as Olimpíadas, mas desde já perder a qualidade das noites e não conseguir dormir direito pensando nessas coisas todas. Essa paranoia extrapolou os dias e começou a ir para as noites", diz o técnico.

Além das preocupações com o elenco do time nacional, é possível que dois fatores também suscitados na reportagem também causem "insônia" (figura de linguagem, neste caso?) a Bernardinho: o Brasil, embora forte candidato, não é o favorito à conquista da medalha de ouro e jogar em casa, para a seleção comandada por ele, não é tão bom quanto dizem.

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Classificados para o Rio desde a Copa do Mundo, EUA e Itália são candidatos ao título olímpico (FIVB)

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A Rússia chegará ao Rio como detentora do título olímpico. Os EUA, como campeões da Copa do Mundo. A Polônia venceu o Campeonato Mundial deste ciclo. A França jogou o melhor voleibol dos últimos dois anos, é campeã europeia e da Liga Mundial, e conta com um dos melhores jogadores do mundo (talvez, o melhor), o ponteiro Ngapeth. A Itália, com o talento do levantador Giannelli, do ponteiro Osmany Juantorena e, principalmente, do oposto Zaytsev, tem um elenco dos mais respeitáveis.

Só no parágrafo anterior, incluindo duas seleções – a polonesa e a francesa – que ainda precisam do Pré-Olímpico para assegurarem vaga nos Jogos, há cinco bandeiras que podem, sem estardalhaço, bater o time da casa. Não que o Brasil tenha uma equipe frágil, pelo contrário. Mas a qualidade dos adversários autoriza Bernardinho e o torcedor brasileiro a perderem o sono especulando hipóteses sobre quem pode fazer o sonho do tri-olímpico acabar mal.

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Quanto ao fator casa levantado na matéria, o líbero Serginho também chegou a dizer, em matéria veiculada pelo UOL Esportes, que preferiria uma torcida como adversária. Para Bernardinho, a questão passa por "uma família que quer um ingresso difícil de conseguir, um amigo que surge na Vila para visitar", noutras palavras, passa pelo extra-quadra, ou, como ele chama, "elementos 'intrusos' e externos".

No entanto, seja pela falta de costume de ter uma torcida favorável à seleção em jogos decisivos, seja pela dificuldade de manter-se em foco só na competição, é preciso dizer que, ao voleibol do Brasil, falta conquistar um título de expressão dentro do país na era Bernardinho.

Sim, houve uma medalha de ouro no Pan do Rio 2007, houve títulos sul-americanos, mas, nas três oportunidades em que o Brasil poderia ter conquistado um troféu com selo FIVB de relevância dentro do território nacional, a seleção falhou. Traduzindo, o Brasil não venceu nenhuma das três Ligas Mundiais decididas nestas paragens, de 2001 para cá.

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O leitor mais afeito ao vôlei deve protestar e dizer que, na Liga do ano passado, no Maracanãzinho, a seleção teve desfalques em cima da hora, com Wallace e Riad, precisou chamar Leandro Vissotto às pressas para as finais, não tinha Murilo no melhor da forma, pegou um grupo difícil, com EUA e França, e ainda assim, só foi eliminado nos pontos average. Certo, está justificado.

E o que dizer das Ligas de 2002 e 2008?

Entre 2001, ano em que Bernardinho assumiu o time masculino, e 2010, ano do tricampeonato mundial, o Brasil venceu nada menos que oito das dez Ligas Mundiais disputadas. Venceu em Madrid, Roma, Moscou, Córdoba, duas vezes em Katowice, duas vezes em Belgrado. Mas os dois reveses foram, exatamente, nas duas fases finais disputadas no Brasil.

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Em 2002, a Rússia silenciou o Mineirinho no jogo do título, e, em 2008, a queda foi contra os EUA, ainda nas semifinais. O detalhe dessa derrota para os norte-americanos é que aquele torneio foi a primeira competição desde 2001 em que a seleção ficou fora do pódio (ainda perdeu a disputa do bronze contra a Rússia).

Pode ser, depois dos Jogos Olímpicos, que o sono de Bernardinho melhore, ainda mais, se seleção estiver à altura do voleibol dos principais adversários e terminar as Olimpíadas no topo do pódio, em paz com o fator casa. Mas, até que isso aconteça, a busca pela convocação ideal e pela excelência do jogo devem abastecer sua insônia diária.

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Sobre a autora

Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.

Sobre o blog

O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.

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